A música e a poesia andam de mãos dadas. Assim se apresenta o Grupo de Poesia da Universidade do Minho, que numa nova fase da sua longa vida, continua a aliar as duas artes.

“O que uniu estas pessoas foi o espírito e a vontade de recriar a arte, a música e a poesia”. Em ano de novas experiências, o Grupo de Poesia da Universidade do Minho (GPUM) está mais vivo do que nunca, e não pretende abrandar.

grupo de poesia

Sofia Summavielle/ComUM

Em 1984, é criado o Grupo de Poesia da Universidade do Minho, antes conhecido como Grupo de Poesia, Guitarra e Flauta. É o grupo mais antigo da academia, título que disputa com o Grupo de Música Popular.

Não se conhecem as origens deste grupo. João Sequeira, de 24 anos, diretor do Grupo de Poesia, conta-nos, animado, que o seu começo nunca lhe foi explicado pelos fundadores. Estes “eram de outros grupos culturais, começaram inclusive a Tuna Universitária”. Partilhavam o gosto pelo vasto repertório poético que a Língua de Camões nos oferece, e decidiram conjuga-lo com a música, criando assim o único grupo de poesia da universidade.

Integra-se na ARCUM (Associação Recreativa e Cultural da Universidade do Minho) em 1991. João refere que, desde então, esta associação desempenhou um papel fundamental para o desenvolvimento do grupo. “Quando entrei para a ARCUM foi quando entrei para a Tuna Universitária. Se não tivesse entrado para a ARCUM, nunca teria entrado para o Grupo de Poesia, e hoje adoro cá estar!”, confessa, com um certo brilho nos olhos.

Começaram por ser um grupo sensacionalista. Baseavam-se em poemas como o “Cântigo Negro”. Poemas, que tal como a dinâmica do grupo, “falavam sobre pessoas que não se queriam restringir ao que lhes era imposto”. Eram jovens revolucionários, que queriam delinear o seu próprio jeito de declamar poesia. Encontraram na música aquilo que os havia de diferenciar, dando uma nova vida aos versos dos nossos contemporâneos.

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Hélio Carvalho/ComUM

Atualmente, com a entrada de novos membros, adotaram um caráter mais romântico e divertido.  “Veio dar uma nova perspectiva ao grupo”, João comenta sorridente. Considera, então, que têm duas perspetivas: uma irredentista, fiel às suas origens, e outra com um toque feminino, adotado por Catarina Pinheiro, a declamadora do grupo. “Ela trouxe poemas que falam mal dos homens, que falam da opinião das mulheres sobre os homens, sobre namoro”, coisa que segundo João nunca tinham pensado em implementar. “Era algo que estávamos a precisar”. Um elemento que assentou o grupo na perfeição, refrescando a imagem carregada que antes portavam.

A unificação das duas artes

Entram de preto, dos pés à cabeça. Seis pessoas, um declamador e os restantes membros que compõe a parte musical. Estão cabisbaixos, como se não quisessem revelar a tempestade que está prestes a começar.  No palco, vêem-se guitarras, violinos, percussão e o bandolim, iluminados por luzes neon. Encontram as suas posições, e a festa começa.

Comemora-se o Dia Mundial da Poesia, na reitoria da Universidade do Minho. O Grupo de Poesia da academia é, portanto, presença indispensável. O evento, com o nome “Canto dos Poetas“, é organizado pelo Coro Académico da Universidade do Minho, e junta o grupo com o GPUM e a Tuna Universitária do Minho para uma noite de música e poesia.

Com sorrisos nas suas faces, declamam “Ode ao futebol” de Tóssan. É criada toda uma atmosfera leve, onde a alegria que o grupo transmite é contagiante. O público acompanha o aparato rindo de alguns versos mais atrevidos, dançando ao som dos instrumentos, e celebrando, no dia em que também se celebra a arte de bem escrever, o que o grupo de poesia faz de melhor.

“Somos um grupo que vive muito do improviso!”, João confessa entre gargalhadas. Conta-nos que o grupo tinha a tradição de ensaiar só antes das atuações. “Agora começamos a ter abordagens mais sérias”. Sérios, mas há hábitos que não se perdem. Nas traseiras do Salão Medieval da reitoria, lá continuam a passar os poemas a limpo, do telemóvel para o papel.

Passam a recitar “Poeta Castrado, Não!”, de Ary dos Santos. As melodias soam tão radicais quanto as palavras que são proferidas. É um poema que caracteriza o grupo, dado à sua construção não convencional. Não têm número de elementos definidos, nem horários fixos.  “Levamos seis a oito pessoas a palco. Ao todo devemos ser para aí uns dez ou onze”.

Quando perguntado quem se pode juntar a este grupo, João ri e diz que “qualquer um pode, afinal é um grupo cultural!”. A porta está sempre aberta à academia, à semelhança de tantos outros grupos. Mas no fundo, existem ainda algumas características que o grupo não consegue ignorar, na hora de bater a porta. “Precisávamos mais de alguém que pegasse em instrumentos e não tanto declamadores”, continua João, o que parece ser o posto mais procurado.

No fim da sua atuação, o Grupo de Poesia encontra a plateia em pé, a aplaudir. Perante o teto iluminado da Reitoria da Universidade do Minho, o GPUM abandona o palco.  É uma imagem habitual no final de cada atuação, mas com falta de muitas mais palmas.

“Temos sempre públicos muito reduzidos, e não sabemos porquê”

O Grupo de Poesia realizou, em julho do ano passado, o seu primeiro evento organizado de raiz: Um verso e um copo.  Um evento “simples”, sem a grande dimensão a que estão habituados. “Tendo sido a primeira edição, nós é que tomamos as decisões de raiz, não havia nenhuma meta a cumprir”.

O evento teve uma boa reação no jardim do Museu Nogueira da Silva. Num dia quente de verão, as camisas pretas do GPUM convidaram ainda o poeta Aurelino Costa, se juntou ao grupo numa tarde de poesia.

Apesar de o evento ter sido bem sucedido, a falta de pessoas nas suas apresentações ainda é notória. João, realça com desilusão na voz, que “o grupo de poesia não tem muitas dificuldades a nível de ser reconhecido, mas tem em ter pessoas que estejam presentes para o reconhecer”.

Não há falta de publicidade. O Grupo de Poesia é ativo na página de Facebook, como passou a ser praticamente obrigatório. E João diz ainda que, por norma, as pessoas gostam das suas atuações. “A juventude, os velhinhos, todos adoram poesia e o Grupo de Poesia. Temos uma construção diferente que não se vê nos outros grupos culturais, nós construímos algo de novo. As pessoas querem o que o Grupo de Poesia tem para dar”.

Também nota que desde que publicaram vídeos das suas atuações no Youtube, o público tem vindo a aumentar, mas ainda em número muito reduzido. Palavra a palavra, o GPUM vai enchendo os espaços por onde passa. Mas para o rosto algo desanimado do seu diretor, o avanço podia ser mais rápido.

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Hélio Carvalho/ComUM

João Sequeira destaca ainda uma lacuna no que toca aos à oferta de grupos culturais. Algo que o próprio Grupo de Poesia parece não preencher. “A universidade podia apostar num grupo de poesia mais dedicado à parte literária”. Refere, com honestidade, que “se pretenderem um grupo de poesia com uma carga literária, não o encontram aqui”. Não que seja uma ideia má; pelo contrário, aponta que até seria um bom projeto para se levar para a frente.

Entre histórias e risos, João Sequeira fala entusiasmado sobre o passado, o presente e o longo futuro que espera ao Grupo de Poesia. Este grupo que não segue as linhas do destino, vai continuar a traçar o seu caminho do seu próprio jeito, até não haver mais versos no seu caderno.