Em noite de apresentações de novos trabalhos, os Bed Legs abriram o palco para Mdou Moctar. Dois espetáculos alternados, perfeitamente encadeados.
O gnration teve casa cheia e quem lá esteve percebeu porquê. Mdou Moctar e Bed Legs partilharam a passada noite de quinta-feira, brindando o público com duas atuações merecedoras de um pezinho de dança, ou dois. Numa só viagem, foi possível visitar dois pontos magnificamente distintos do mundo do rock.
A noite ficou marcada pelos ritmos e solos exímios à guitarra de Mdou Moctar. Oriundo do Níger, na África Ocidental, o músico autodidata inspirou a plateia da Blackbox com improvisos típicos da música tuaregue, modernizada pelas guitarras elétricas. A complexidade rítmica intensificou-se com a destreza do baterista Hafid Zouaoui e a sintonia entre os três instrumentistas em palco não passou despercebida, deixando a plateia sempre à espera de mais. Moctar apresentou o seu novo álbum, “Sousoume Tamachek”, deliciando quem por ali passou para o ouvir.
O virtuosismo musical de Mdou Moctar foi motivo do delírio que se sentiu no público, assim como os seus momentâneos passos de dança, sem nunca largar a guitarra. A voz do músico tuaregue transportou aquela pequena parte de Braga para um lugar muito longe dali. Os seus melismas vocais, tradicionais do género, quebravam a sonoridade “rockeira” e eletrificada, concedendo riqueza cultural ao espaço musical em causa.
A felicidade que abraçou o gnration foi comum aos músicos e aos ouvintes. Com um sorriso fácil, Mdou agradeceu a hospitalidade e o calor do povo português, provocando o aplauso da plateia e um “já vais tocar no Paredes!” de um dos ouvintes, que se apercebeu da presença do diretor do festival, João Carvalho.
Os Bed Legs abriram o palco da Blackbox com a pré-apresentação, em primeira mão, do álbum homónimo, “Bed Legs”. Após dois anos em tour com “Black Bottle”, o grupo bracarense regressou ao estúdio na companhia do produtor Budda Guedes e com o apoio do gnration. O novo álbum sai a 4 maio.
Ninguém ficou indiferente à energia contagiante de Ferna (Fernando Fernandes) que, sempre imerso na sua musicalidade, mostrou dotes vocais denotados de uma rouquidão viciante, num registo aveludado e chamativo aos ouvintes. O novo álbum soa promissor, influenciado pelos clássicos do rock, vertente já inerente ao passado dos Bed Legs. O grupo aproveitou ainda para oficializar a integração do novo membro, Leandro Araújo, amigo e colaborador nos dois trabalhos anteriores a este.