Lançado a 9 de março de 2018, Bobby Tarantino II é a sexta mixtape de Logic, que mantém viva a série de lançamentos consecutivos todos os anos, desde 2010. Esta é a segunda mixtape do seu alter-ego Bobby Tarantino e é uma compilação do melhor e do pior que o rapper é capaz, com vários momentos em que Logic brilha e outros em que fica aquém das expetativas.

O lançamento de “Everybody”, em 2017, ficou notoriamanente conhecido pelo êxito da faixa “1-800-273-8255”, com Alessia Cara e Khalid. A canção foi candidata aos Grammy e permitiu a Logic obter um maior reconhecimento global e um aumento na sua fanbase. Com maior reconhecimento, maiores são as críticas, e muitos dos seus fãs mais antigos (os proclamados “RattPack”) sentiram que Everybody foi um dos piores projetos do rapper. A sua abordagem mais próxima do Pop e o facto de ter mencionado imensas vezes o facto de ser biracial, deixou os fãs e vários críticos descontentes com a com sua prestação no álbum.

Logic, nome por detrás da mixtape Bobby Tarantino II

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O lançamento surpresa de Bobby Tarantino II, quase um ano depois de Everybody, é uma lufada de ar fresco para os fãs e permite ao rapper responder a algumas das críticas que recebeu durante todo este tempo. Seguindo o mesmo estilo do seu predecessor, Bobby Tarantino, lançado em 2016, Logic usa esta mixtape para voltar a ser o seu alter-ego de “Bobby Tarantino”, que o devolve às suas raízes e lhe permite divertir a sua audiência, com um maior uso de sons trap e boombap muito bem produzidos, na sua maioria por 6ix, que usam um tom menos sério que nos seus álbuns.

O projeto abre com “Grandpa’s Spaceship”, que foi usado no anúncio do lançamento de Bobby Tarantino II. Neste momento, é possível ouvir Rick e Morty, as personagens principais da série de grande sucesso “Rick & Morty”, onde Logic, no terceiro episódio da terceira temporada, apareceu a discutir e a fazer a distinção entre “Album Logic” e “Mixtape Logic”. Isto foi, claramente, encenado pelo rapper, que ouviu todas as críticas dos seus fãs e decidiu fazer algo divertido com elas, ao ouvir-se Rick mencionar: I’m in the mood to turn some shit up, Morty. I’m not in the mood for a message about how I can be whatever I want or ooooohhh you know like equality and everybody and all that shit, alright?” 

Porém, a boa abertura da mixtape perde o seu impacto com a segunda faixa, “Overnight”. Embora a batida e o conteúdo da canção não sejam de todo más, principalmente com um beat a evocar os antigos jogos 8-bit, falta algo à prestação de Logic que permita a esta música alcançar um nível mais apelativo.

Este sentimento também é notado noutras faixas como “State of Emergency”, com 2 Chainz, “Wassup”, com Big Sean, e “Everyday”, com Marshmello, que embora tenham boas prestações dos rappers convidados e batidas bem preparadas, parecem não ter objetivos concretos e não conseguem demonstrar a criatividade que Logic é capaz de ter, chegando mesmo a parecer forçadas.

Para além disso, também é possível verificar que algumas canções são cópias quase exatas de sons de outros rappers, como Drake, Travis Scott e Migos. “Contra”, “BoomTrap Protocol”, “Midnight” e “Wizard of Oz” são, claramente, inspiradas por esses artistas, sendo esta última uma cópia clara dos conhecidos ad-libs “yah” e o grande uso de auto-tune de Travis Scott. Isso não significa que sejam más canções, até porque Logic consegue ter boas prestações nas faixas, mas demonstram que o projeto não tem uma estética e um objetivo concretos, o que faz com que o rapper recorra aos sons mais usados no Hip-Hop atualmente.

Mas, este álbum também demonstra Logic no seu melhor. A última faixa “44 More” é o melhor momento de todo o projeto, com várias mudanças no ritmo da batida e no flow do rapper, que permitem demonstrar a versatilidade de Logic e até do produtor 6ix. Nesta canção, que remete para o aclamado “44 Bars” do primeiro Bobby Tarantino, Logic menciona o sucesso que conseguiu ter e o facto de isso não o ter mudado, com linhas como: “I done made 20 million dollars I don’t flex to be acknowledged” e “Sold more albums my first week than Harry Styles and Katy Perry If that ain’t a sign of the times Then I don’t know what is, man this shit is scary”

A faixa “Indica Badu”, com Wiz Khalifa, é uma das canções mais relaxantes do projeto, com uma batida descontraída e que fica no ouvido. Este “weed anthem” permite a Logic falar de algo nunca antes mencionado na sua discografia e, ao mesmo tempo, prefaz nas melhores linhas de Wiz Kalifa dos últimos 4 anos, ao conseguir transmitir a mesma confiança que o tornou tão popular no passado.

Por sua vez, “Yuck” tem uma batida que remete mais para o típico trap sound dos dias de hoje, o que possibilita a Logic ter um flow e linhas mais agressivas do que normalmente tem. Nesta faixa, Young Sinatra torna público um voicemail que recebeu de Elton John a pedir uma colaboração, como também dá uma resposta subliminar aos seus críticos. Embora não mencione nenhum nome em concreto, muitos consideram que estas rimas são direcionadas ao rapper Joyner Lucas, que criticou Logic várias vezes nas suas músicas, mais especificamente em “Look Alive” e “Mask On”. Assim, Logic diz: “Peace, love, and positivity that’s all I want with you But you push the issue ‘cause I give you more press than your publicist could ever get you”

Por fim, um dos melhores momentos do projeto é a faixa “Warm It Up”, onde Logic quase se consegue dividir e atuar como ambos os seus alter-egos, Young Sinatra e Bobby Tarantino. Ao utilizar algumas linhas e rimas que usou em várias canções das suas mixtapes mais antigas, transmite um sentimento de nostalgia aos fãs mais dedicados. Ao som de uma batida boombap, Logic consegue, não só prestar uma homenagem à trilogia “Young Sinatra”, como também demonstra, ao mais alto nível, a sua habilidade técnica e a sua destreza lírica, que fez os seus fãs da “Rattpack” segui-lo e apoiá-lo tanto no passado.

Embora Bobby Tarantino II tenha momentos em que Logic não consiga transmitir a mesma energia que Bobby Tarantino conseguiu, este projeto também consegue demonstrar o quão versátil o rapper consegue ser, quando não constrangido pelo som Pop e pelos conceitos incrivelmente complicados que implementa, muitas vezes, nos seus álbuns.