A falta de estruturas de apoio formais e as barreiras linguísticas são alguns dos principais obstáculos no acolhimento aos alunos migrantes.

Cosmin Nada, investigador da Universidade do Porto, acredita que as universidades portuguesas não estão preparadas para acolher alunos estrangeiros. Os cursos anunciados em inglês que são, na verdade, ministrados em português e a falta de estruturas de apoio formais são alguns dos principais problemas apontados na sua tese de doutoramento.

As conclusões do investigador do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) chegam depois de quatro anos de investigação em “narrativas bibliográficas”, ao longo dos quais teve várias conversas com 12 alunos migrantes que frequentavam as universidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Minho.

Na tese de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, que defendeu recentemente, Cosmin Nada alerta para o facto de a cultura docente não ter em consideração a crescente multiculturalidade das turmas. Chama também a atenção para as situações dos cursos que, apesar de anunciados em inglês, são ministrados em português.

A investigação expõe ainda o problema da atuação dos docentes, que nem sempre são capazes de reconhecer “a diversidade cultural dentro da sala”. Alguns manifestam, de acordo com Cosmin Nada, “comportamentos discriminatórios baseados em preconceitos relacionados com a etnia ou país de origem”.

Alunos migrantes não têm onde pedir apoio

Cosmin Nada realça também a falta de estruturas formais às quais os alunos possam recorrer em caso de necessidade. Os gabinetes de relações internacionais, presentes na maioria das instituições, destinam-se apenas a apoiar e acompanhar os alunos inseridos em programas formais de intercâmbio, como o Eramus. Um aluno estrangeiro que queira fazer o curso em Portugal, por sua vez, não dispõe de qualquer tipo de acompanhamento.

Esta diferença é um ponto crucial na investigação, tendo sido um dos motivos que originou a tese. Os estudantes migrantes, que estão inscritos diretamente nas instituições nacionais para lá fazerem a sua formação, têm atributos diferentes dos estudantes em mobilidade – que mantém vínculos nos países de origem e vêm para Portugal por períodos determinados.

O investigador do CIIE explica que os estudantes migrantes permanecem numa “zona cinzenta” quando necessitam de estabelecer uma “ponte cultural” na resolução de problemas. Por exemplo, se um estudante migrante se dirigir ao gabinete de relações internacionais, “dizem-lhe só lidam com alunos em mobilidade”, só lhes restando falar “com a secretaria ou os Serviços Académicos, que não têm essa função”, adianta Nada.

O número de estrangeiros no ensino superior português tem vindo a aumentar. Se no ano letivo de 2015/2016 se matricularam 38 mil estrangeiros, no ano seguinte já eram 42 500, o dobro do que se verificava em 2010.

Internacionalização ainda é apenas um discurso

Cosmin Nada afirma que, não obstante o aumento da procura por parte dos estudantes estrangeiros, “as universidades portuguesas ainda não estão à altura do que é esperado em relação à integração”. Acrescenta, também, que existe um discurso sobre a internacionalização, mas que a prática é de uma integração “numa lógica de ‘salve-se quem puder’”. Prova disso é o facto de as instituições admitirem estudantes internacionais para um determinado programa sem o cuidado de “testar os seus conhecimentos de língua portuguesa”.

Os problemas que os alunos estrangeiros enfrentam em Portugal podem, a longo prazo, diminuir a atratividade do país no mercado da educação internacional. Isto porque se “estudantes migrantes mais satisfeitos vão falar bem da sua experiência e vão recomendar Portugal”, o reverso também é possível.

Cosmin Nada sugere possíveis soluções como a criação de gabinetes específicos de apoio a estes estudantes e ações de sensibilização. Destaca também a importância de uma interação em conformidade com a diversidade cultural em contextos educativos por parte dos docentes.

O investigador reforça ainda a necessidade de as instituições de ensino superior criarem uma estratégia coerente que evite diretivas contraditórias que possam prejudicar os alunos estrangeiros. Devem também lutar contra a vulnerabilidade e exclusão destes estudantes, promovendo o contacto intercultural entre alunos estrangeiros e não estrangeiros.

Andreia Barbosa e Hugo Pereira