Após três EP’s e vários vídeos clipes icónicos, Hayley Kiyoko, finalmente, lança o seu primeiro álbum, repleto de sonoridades fortes e realidades não tão comuns na indústria pop

Como qualquer compositor, a artista norte-americana, denominada como “Lesbian Jesus” pelos seus fãs, não deixa de escrever sobre o amor. Em Expectations, Hayley descreve uma jornada amorosa bem conturbada. Porém, o que a destaca e a valoriza, é o facto de trazer para a mainstream media relações amorosas queer.

Haley Kyoko Expectations

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O confronto direto é outro fator que ressalta a cantora de 27 anos. Apesar de Kiyoko não ser uma vocalista com uma voz poderosa, o uso de temáticas de confronto acentua o seu timbre baixo na perfeição. “Curious” é um dos exemplos dessa frontalidade. Numa voz serena, acompanhada por uma batida sintética, a protagonista confronta uma rapariga heterossexual sobre a sua “suposta” curiosidade bissexual.

“He’ll Never Love You (HNLY)”, apesar de seguir a mesma técnica frontal, adota uma diferente sonoridade. Com um interlúdio estupendo somos enviamos para uma rua relativamente vazia, onde só se ouvem passos e um pequeno rádio, com uma sinfonia semelhante à da música. É então que começa uma guitarra elétrica que se mantém, subtilmente, até ao fim da canção e que acompanha questões bastante diretas como “Why don’t you just cut the shit?” e “Girl, why can’t you just be honest -with yourself?”

“Feelings” acaba por ser uma faixa única no projeto pelo baixo consistente e as batidas leves, capazes de nos remeter para uma saída noturna agitada. Sendo exatamente essa a marca visual que Hayley Kiyoko adota, ao dirigir o seu próprio vídeo-clipe, no qual, numa noite animada, encontra uma rapariga com quem troca olhares intensos e sorrisos nada discretos.

Através de uma sonoridade muito interessante, quase de como uma festa na casa ao lado se tratasse, “Mercy/Gatekeeper” resume-se a uma montanha russa de emoções suscitadas pelas mais diversas situações complicadas – “Mondays might be alright / And Sundays will probably hurt”. “Under The Blue/Take me In” segue a mesma onda eletrónica pesada de “Mercy/Gatekeeper” e fala-nos em perda e sonhos despedaçados.

“XX” apesar de ser um simples interlúdio expõe uma qualidade exuberante de vocalizações ambientais que realmente nos preparam para o lado mais alternativo e R&B de Hayley. Esse lado surge-nos então em “Wanna Be Missed”, uma canção demarcada por um crescendo em êxtase no pré-refrão seguida de uma pausa pequena e brilhante, como se de um último respirar se tratasse, antes de um salto gigante.

Apesar de Kiyoko adotar um registo mais digital em grande parte das suas canções, o seu forté é, sem dúvida, a fusão que faz do mundo digital com o analógico. Por exemplo, a solitária guitarra de “Molecules”, que é progressivamente acompanhada por precursões analógicas e uma paisagem sónica digital, produz uma faixa com uma qualidade triunfante. Ou ainda “Let It Be” que está analogicamente muito bem representada pela junção de um piano, uma guitarra e uma bateria e que fecha o projeto e a tempestuosa relação amorosa, que o mesmo retrata, com um momento de esperança.

“Palm Dreams” é a canção mais inesperada do álbum devido à sua atitude funky, refletida em fortes linhas de baixo e vozes de fundo que, de uma forma bem clara, aludem às noites quentes de Califórnia: “They can party with us”.

Por fim, a única colaboração do álbum: “What I need (feat.Kehlani)”, uma artista assumidamente lésbica e outra bissexual capazes de produzir uma música com potencial de hit pelo refrão cativante e mensagem facilmente adaptada às mais diversas relações queer.

Em suma, Expectations é um projeto bastante interessante devido ao seu balanceamento entre o universo musical analógico e digital. Assume também um papel extremamente importante a nível representativo, ao dar músicas e cenários amorosos banais a um grupo que é, tendencionalmente, marginalizado com finais não tão felizes.