Kim-Jong-un e Bruno de Carvalho. De um lado, um homem sem escrúpulos, opressor de uma sociedade e com um sentido de superioridade azucrinante. Do outro, o atual líder da Coreia do Norte. As semelhanças são inequívocas apesar da disparidade dos seus mundos. A recente polémica devido ao “comunicado facebookiano” de Bruno de Carvalho sobre a exibição dos leões após a derrota com o Atlético Madrid trouxe à baila uma questão pertinente: é este o tipo de presidente que o Sporting CP quer?

Antes de começar a desenvolver mais, faço desde já um disclaimer, dizendo que não tenho qualquer tipo de ligação com o Sporting Clube de Portugal, nem muito menos tenho algo contra. Pelo contrário. Penso que é uma instituição desportiva de um valor louvável para Portugal e tem elevado o nome do desporto nacional em várias modalidades. Por essa mesma razão, vejo-me obrigado a pronunciar a minha opinião sobre o assunto.

A palavra presidente deriva do latim e significa “aquele que se senta à frente”. É aquele que dá a cara no bem e no mal, que defende, protege, lidera e governa. É este que deve ser o envolvimento de um presidente num clube. Muitos são aqueles que atiram pedras quando uma equipa joga mal. Por vezes até os próprios adeptos o fazem mais frequentemente que os rivais. De que vale então um presidente que desce ao mesmo nível e espezinha o estado anímico de uma equipa? O presidente deve remar contra a corrente e defender os seus atletas, independentemente da situação.

O futebol deixa cada vez mais de ser jogado apenas dentro das quatro linhas. Muito se passa fora dele e, curiosamente, acaba por ter influência no relvado. Bruno de Carvalho alegadamente suspendeu 19 jogadores do plantel leonino após estes se terem insurgido contra o presidente. “Meninos mimados, então vamos resolver…”, assim se iniciou mais uma publicação no Facebook pessoal do presidente sportinguista. Uma atitude nem ao nível de um clube das divisões distritais – com todo o respeito por esses emblemas.

Toda esta polémica rapidamente fez mossa dentro do clube. Para além da evidente revolta dentro do plantel, Jorge Gaspar, Vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting CP, já apresentou a sua demissão, por discordar das “decisões institucionais do presidente”. Como pode um presidente aguentar com a consciência, sabendo que nem a própria direção do clube concorda com as suas ações? Muitos bons homens de honra e respeito já se haviam demitido por embaraçamento.

Este problema não é recente e alastra-se também a outros clubes. Falo claro das trocas de palavras e insultos entre presidentes que em nada dignificam o bom nome do desporto e das instituições que estes representam. Uma disputa que não traz benefícios e que só serve para culminar o clima de tormenta que se vive no futebol português. São os presidentes que devem dar o primeiro exemplo e cultivar uma boa relação interclubista. Talvez aí os adeptos comecem a ver o futebol como um elo de ligação e de união, capaz de juntar as mais distintas pessoas à volta de um simples jogo.