Tem-se verificado uma degradação das condições da formação médica pré-graduada, pois o número de ingressos ultrapassa as capacidades formativas das Escolas Médicas.

Ao longo dos anos, tem-se verificado a manutenção do já elevado número de vagas de acesso aos cursos de Medicina nas Universidades Portuguesas. Quando comparando este número com aquele que existia há cerca de 20 anos atrás, regista-se hoje um aumento do mesmo, em mais de 300%. No entanto, este aumento drástico de vagas não corrobora a manutenção ou até o aumento da qualidade do ensino médico. Pelo contrário, tem-se verificado uma degradação das condições da formação médica pré-graduada, pois o número de ingressos ultrapassa as capacidades formativas das Escolas Médicas.

Para além disso, chegando ao fim do curso, muitos recém-graduados são confrontados com a impossibilidade de ocupar uma vaga de Formação Específica, uma vez que há saturação da capacidade formativa pós-graduada. Isto tem sido um motor naquilo que hoje é conhecido como a saga dos “médicos indiferenciados”, que se vêm impedidos de continuar a sua formação através do ingresso numa especialidade médica, por falta de vagas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Assim, estes médicos sem especialidade trabalham precariamente como tarefeiros ou cobrindo o Serviço de Urgência.

Já em 2012 surgiu, em sede de Grupo de Trabalho para a Revisão de Regime do Internato Médico, criado em 2011 pelo Secretário de Estado da Saúde, a recomendação de que urgia a necessidade de reduzir em um terço o numerus clausus das escolas médicas portuguesas. No entanto, esta e outras recomendações têm sido ignoradas, o que tem levado a que este problema se venha a arrastar há alguns anos.

A opinião dos estudantes de medicina é que apenas a redução do numerus clausus poderá garantir uma formação de qualidade de jovens médicos, assim como, por conseguinte, a possibilidade de melhores cuidados de saúde. Nesse sentido, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), que representa os estudantes de Medicina de Portugal, entregou em 2017 uma petição no Parlamento, apelando a um planeamento a longo prazo da formação médica em Portugal através de uma melhor gestão dos recursos humanos em saúde, que se mostra imprescindível.