Os Quadra têm novo álbum. “Cacau” sofreu algumas alterações em relação ao primeiro EP, editado no ano passado. Ao ComUM, a banda explica a evolução percorrida.

São um projeto recente, mas já contam com um EP e um álbum de longa duração editados. Os Quadra são de Braga e apresentaram no Sé La Vie o novo disco “Cacau”, lançado na passada quinta-feira. O quinteto, composto por Hugo Couto, Gonçalo Carneiro, Lucas Palmeira, Sérgio Alves e Sílvio Ren, esteve à conversa com o ComUM, onde falou do novo trabalho, do processo criativo e do panorama musical nacional e bracarense.

Desde o lançamento do primeiro EP até “Cacau”, os Quadra sofreram alterações na sua composição. Com as entradas de Gonçalo Carneiro e Lucas Palmeira, as músicas passaram a ter um tempero diferente.

ComUM: Como nasceu a banda?

Sílvio: O projeto começou comigo e com o Hugo. Na altura queríamos fazer uma banda que não era instrumental, mas não conseguimos arranjar vocalista. Entretanto evoluiu para um projeto instrumental. Depois fomos convidando outros elementos, com alguns que já não estão connosco, que deu nesta formação que está agora.

ComUM: Nunca ponderaram passar a ter letra nas músicas?

Sílvio: Para já não.

Hugo: O conceito sempre foi instrumental. A composição das músicas vive pelo conceito de ser instrumental e não no sentido de servir uma letra, uma mensagem de uma letra, ou a mensagem melódica de uma voz. Se incluirmos no futuro voz, será algo que temos de pensar de outra maneira. A curto prazo não estamos a pensar nisso.

Sílvio: Estamos abertos a participações, mas não estamos a pensar incluir um vocalista na banda.

Hugo: É algo que não está nos planos.

ComUM: Não existindo letra, como dão nome às músicas?

Lucas: Paisagens, o que sugere…

Hugo: Sensações, atmosferas, contextos, ideias. No fundo aquilo que nos faz sentir a música ou como ela foi construída na altura. Muitas das vezes também é o que estávamos a viver naquela altura. No fundo são sensações, agora depende de quando elas surgiram. Se é a música que nos promove essa sensação ou se é a sensação que promoveu aquela construção musical. Portanto, não é nada fixo, é super flexível.

ComUM: O nome “Cacau” tem o mesmo fundamento?

Hugo: O nome “Cacau” vem de uma das músicas do álbum. A música surgiu primeiro, portanto foi a música que emprestou o nome ao álbum. Vem de uma história privada, é um segredo que vai ficar no baú. Transmite também a intensidade do cacau como fruto.

 

ComUM: Os moldes criativos do “Cacau” foram diferentes dos do EP?

Hugo: Nem por isso, porque as músicas já estavam feitas. No fundo, o que reflete o que está no álbum é a interpretação do Gonçalo e do Lucas das músicas que já tinham ouvido em EP, já tinham ouvido ao vivo, eram fãs da banda, eram fãs das músicas e há uma interpretação por parte deles

Lucas: O prato é o mesmo mas o tempero é diferente. Um é feito com alhinho e salsa, outro é feito mais com coentros, à moda lá de baixo.

ComUM: A criação acontece toda na sala de ensaio do Estádio 1º de Maio?

Sílvio: Vem de muitos lados. Pode ser criada a partir de uma estrutura de bateria, pode ser criada a partir de riffs que se fazem em casa ou na sala de ensaio. Não temos propriamente um método fixo. Depende muito de quem faz primeiro a estrutura.

ComUM: Sentem que é importante ensaiar num local onde confluem várias bandas e sonoridades?

Sérgio: Sim.

Lucas: Sim.

Sílvio: Sim, no fundo conhecemos quase toda a gente.

Hugo: Até deveriam haver mais salas.

Lucas: Devia haver com uma sala de espetáculos e um bar ao lado, de suporte à cena. Isso ia criar um movimento. Imagina, oito salas de ensaio e uma sala de espetáculos com bar…

Hugo: Eu acho que esse conceito até não resulta muito bem. Já se tentou no Porto… Eu acho que o local dos concertos é importante. No Sé La Vie, estás aqui no meio, vais beber um copo ali, encontra-se toda a gente aqui. É porreiro tocares num fórum de gente de Braga.

Lucas: Essa dinâmica também é importante.

ComUM: As salas de ensaio do Estádio 1º de Maio influenciam a música e a maneira de se fazer música em Braga?

Hugo: Na minha opinião, nem tanto. Eu acho que Braga ainda não tem a cena, como por exemplo o rock de Barcelos.

Lucas: Eu acho que agora começa a ter um bocado.

Hugo: Eu acho que a cena de Braga vai ser a diversidade da sonoridade, não é rock, não é hip-hop

Lucas: As salas de ensaio deram condições, mas as salas não fazem música. Quanto muito, as pessoas estão um bocadinho mais confortáveis e não andam à procura de garagens desconfortáveis, vazias e com som horrível para fazer som. Se ajuda? Ajuda, mas não faz som por ninguém.

Sérgio: Ajuda muito na relação social entre músicos. No fundo, é uma parcela muito importante do que fazemos.

Hugo: Sim, mas não se veem grandes influencias entre as bandas que existem em Braga. Por muito que exista esse contacto social, não existe essa influência. Se se for a Lisboa, existem três ou quatro projetos que refletem uma ideia, um conceito de música. Em Braga, mesmo as pessoas que fazem múltiplos projetos, são projetos muito diferentes uns dos outros. Não há uma linha orientadora.

Lucas: Eu também diria que se calhar isso pode ser um problema de massa critica. O Porto são quatro ou cinco “Bragas”, Lisboa são para aí dez ou vinte “Bragas”. É normal que quando há muito mais gente, haja mais espaço para existirem editoras e estúdios, como tens em Lisboa, nos quais há uma linha estética que contribui. Uma coisa é verdade e concordo completamente com eles: Braga tem novas bandas e bandas muito interessantes a aparecer, mas é tudo muito díspar, com estéticas muito diferentes. O que eu, pessoalmente, acho mais rico do que existir a “onda de Braga” e são 50 bandas a fazer o mesmo tipo de som. Há um movimento de músicos de Braga, mas que em termos estéticos não é uma coisa muito clara. Cada um anda a fazer o seu som e ainda bem.

ComUM: Consideram que Quadra conflui essa divergência de sons?

Sílvio: Sim, pode-se dizer que sim.

Lucas: Sem dúvida, Quadra é um projeto de fusão.

Hugo: Nós gostamos das bandas de Braga, mas conscientemente não é uma fusão dos estilos musicais de Braga. Obviamente que não conseguimos fugir, não somos uma tábua rasa, a todas as influencias externas que existem e ao que ouvimos, tanto positivamente, como negativamente. Seja para seguir a linha ou para nos afastarmos.

Sílvio: Podemo-nos influenciar pelas coisas boas que se fazem. Temos aqui duas ou três bandas de nível nacional, como Mão Morta e Peixe Avião, que são influências não no estilo de som, mas no caminho a seguir ao fazer música. É mais isso do que seguir o som que eles fazem.

ComUM: “Cacau” saiu há pouco tempo. Já tiveram algum feedback do álbum?

Hugo: Tivemos criticas muito positivas a nível nacional e internacional, temos passado na rádio, portanto, estamos muito surpreendidos e satisfeitos. Depois da estreia do álbum, as pessoas estão-nos a conhecer de forma positiva. É o reflexo do trabalho.

ComUM: O EP teve reações positivas por parte da critica especializada. Têm a espectativa que este álbum seja recebido de uma maneira ainda melhor?

Hugo: Já estamos a ter essa resposta por parte de algumas webzines que também criticaram positivamente o EP. Referem a mesma surpresa, portanto, conseguimos subir um patamar acima daquilo que já tínhamos feito antes.

Sílvio: O EP foi uma surpresa. Não estávamos à espera que, no fim do ano, ainda se lembrassem que nós existíamos. Aquilo foi um EP feito para promover e não para vender.

ComUM: Sentem-se mais crescidos?

Sergio: Sim, em todos os aspetos

Silvio: Sim. Até porque o Lucas e o Gonçalo vieram acrescentar também isso. Têm mais experiência que nós. Eles tocam noutras bandas, o Sérgio tinha também já outra experiência. Todos vieram ajudar a crescermos. Aliás, para mim, o melhor concerto que demos foi o único que demos os cinco.

ComUM: Próximas paragens?

Hugo: Temos uma surpresa muito agradável, que não podemos revelar.

Lucas: As coisas estão a correr bem. Agora que saiu o álbum, temos a facilidade de conseguir marcar as coisas. No Sofar Sounds Coimbra vamos ter o registo do concerto filmado, que é importante para os promotores verem.

 

Captura e Edição de Vídeo: Diogo Rodrigues