Meias vermelhas, instrumentos afinados e vozes aquecidas. É assim que a TUM (Tuna Universitária do Minho) se apresenta às plateias para as quais atua. Com quase 30 décadas de tradição, a tuna da Universidade do Minho tem já um alargado reconhecimento e faz as “delícias” de muitos bracarenses, e não só.
Fundada em 1990, a TUM é a tuna mais antiga da academia minhota. É o baluarte mais alto de uma academia alimentada pela música e pela boémia. A poucos dias do XXVIII FITU Bracara Avgvsta, a TUM limpa o pó do bandolim, das pandeiretas vermelhas e pretas, que há quase 30 anos encantam o país. Prepara-se mais uma festa, como só os “vermelhinhos” sabem fazer.
Constituída por um total de 140 tunos, a TUM, que está inserida na ARCUM (Associação Recreativa e Cultural Universitária do Minho), foi fundada em 1990 por um grupo de estudantes da Universidade do Minho, vindos a sua maioria das “engenharias”. A maior parte destes alunos pertencia também a um dos grupos mais antigos da universidade, o Grupo de Música Popular. “O grupo de jovens fazia várias atuações em festivais de tunas, participando em extraconcurso”, explica o magíster João Barbosa. “Então, numa bela ceia, decidiram formar a tuna”.
João Barbosa é o magíster da TUM. Nome de tuna: “Mou”. Com 26 anos, entrou há sete na tuna, e é com orgulho e à vontade que fala acerca do grupo que o acolheu. Procurar quebrar a rotina, fazer amigos novos, pois deixou a maioria em Guimarães, e poder evoluir no sentido musical foram os motivos que o levaram a entrar.
A frequentar o curso de engenharia eletrónica, “Mou”, com um “sorrisinho” de orgulho, diz ser uma “responsabilidade enorme” pertencer à tuna mais antiga da academia minhota. “Uma responsabilidade enorme porque somos uma grande embaixadora da Universidade do Minho quando vamos fora de portas, principalmente. Temos a grande responsabilidade de representar bem a nossa universidade”.
Os tunos de meias vermelhas. Os “vermelhinhos”. Pertencer à TUM significa ser chamado pelas várias alcunhas que derivam da cor das meias do traje dos tunos e caloiros. Vermelhas, tal como o símbolo da academia minhota, as meias serviram como uma forma de tributo à universidade que os viu nascer. Sempre de forma clara e calma, “Mou” explica que a cor das meias são até um fator distintivo e as pessoas já vão sabendo: “uns estudantes de meias vermelhas? São do Minho”.
Para além das atuações em festivais, a TUM conta já com dois álbuns lançados: um em 2000 e outro em 2014. O primeiro intitula-se “Tuna Universitária do Minho” e conta com dois discos; o segundo, ”Essência”, tem apenas um disco e a ordenação das músicas retrata a história do que é ser um tuno da TUM. Este último vem também acompanhado de um livro com as letras. Ambos os discos estão em versão online, disponibilizados no site da tuna.
Com estes dois discos lançados há já algum tempo, João Barbosa diz que a TUM ainda não tem novos planos a curto prazo, havendo talvez novidades na comemoração dos seus 30 anos.
Mudam-se os tempos, aumentam os desafios
Tal como acontece em muitos grupos culturais, há dificuldades que existem e que dificultam a realização de atividades. Na TUM as dificuldades são principalmente duas: a financeira e a cativação de novos elementos.
A nível financeiro, as dificuldades estão relacionadas com a existência de várias tunas na academia. O que, para João Barbosa, não deixa de ser algo de positivo. “É muito bom, porque há uma diversidade cultural enorme, mas também começa a sentir-se de outras maneiras, a nível de apoios”, explica.
Os “bicos” nos trajes mais velhos vão perdendo a cor e o vermelho. É preciso renovar e arranjar novos. Mas para isso, é preciso novo sangue. De FITU em FITU, vemos os mais velhos, os fundadores, a entrar em palco e a juntar-se aos mais novos. Aos que lá vão todas semanas. O magíster não hesita e fala também que é de grande importância para a TUM a “renovação da tuna”, evitando o seu envelhecimento.
Com experiência nestas “andanças”, a TUM ajuda outros grupos culturais que pertencem à ARCUM e não só. Nesse sentido, tem já cinco afilhadas: a Azeituna; a Tuna do Externato Infante D. Henrique, em Ruílhe; a Afonsina, a tuna de engenharia, em Guimarães; a Tuna da Universidade Fernando Pessoa, no Porto; e há pouco mais de um ano, a Tun´ao Minho, uma das tunas femininas da Universidade do Minho, e a mais nova.
Novamente com um tom de orgulho pela “sua” tuna, “Mou” sorri enquanto conta que a TUM tinha já as quatro primeiras afilhadas quando entrou, mas que foi enquanto magíster que recebeu o pedido da Tun´ao Minho. “Foi um sentimento de enorme orgulho, de responsabilidade e de dever também, porque, se nós vamos apadrinhar uma tuna, é porque essa tuna viu alguma coisa em nós e porque nós conseguimos ajudar essa tuna de alguma maneira”.
FITU rima com festa
“Esta edição vai ser uma das maiores em termos de cartaz dos últimos anos.”, declara o magíster. Começou a contagem decrescente para o principal festival da Tuna Universitária do Minho: o FITU Bracara Avgvsta, que conta este ano com a sua 28.ª edição. Com tunas a vir de várias partes do país, e do mundo, o Theatro Circo vai entrar em espírito académico esta sexta e sábado.
Sete tunas a concurso, sendo duas delas estrangeiras (uma espanhola e outra holandesa), duas a extraconcurso e duas participações especiais, vão marcar esta edição do festival. Com mais novidades que “ainda não podem ser reveladas”, a edição deste ano pretende marcar pela diferença e mostrar que há mais tunas pelo mundo fora. Como tunas vindas de fora do país “não é algo que aconteça em Braga muito frequentemente”, estão a tentar inovar nesse sentido.
Para esta edição do FITU, fazem parte do cartaz a Tuna de Medicina do Porto, a Tuna Académica da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (TAFDUP), a anTUNIA (Tuna de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa), os Tunídeos (tuna da Ponta Delgada, Açores) e a Desertuna, da Universidade da Beira Interior, da Covilhã. Além-fronteiras, vêm a Tuna Empresariales de Barcelona e a Tuna Universitária de Maastricht. Em extraconcurso vão estar presentes a Azeituna, Tuna de Ciências da Universidade do Minho, e a Afonsina, Tuna de Engenharia da academia minhota.
Para mostrar que, apesar de ser um festival de tunas, a TUM também se preocupa com a inclusão de outros grupos culturais, vai haver participações especiais dos Bomboémia (Grupo de Percussão da Universidade do Minho) e dos Jogralhos, grupos de Jograis Universitários do Minho. Para além disso, o CAUM (Coro Académico da Universidade do Minho) vai também marcar presença, numa participação especial para o evento.
Mas a festa não começa apenas no final da semana. O FITU vai decorrer de quarta a domingo, com um warm-up na quarta-feira, no Largo dos Peões, bem no centro da academia, e as habituais serenatas na quinta-feira, no Largo do Paço, o coração da universidade.
Deste modo, na tarde de quarta-feira, as pessoas vão poder contar com a atuação dos Bomboémia, e na quinta-feira a tuna presenteia os bracarenses com uma serenata, “uma oferta em forma de agradecimento à cidade de Braga e aos estudantes”, explica o magíster. “Esta serenata, é talvez o evento mais solene da tuna durante o ano, onde tocamos algo mais sentido”.
Prémios à parte, os festivais deste cariz têm especial preocupação na convivência entre as tunas envolvidas. Mais do que a competição, há a atenção de promover o convívio: típico do bom português e incutido fielmente pelas tunas, nada melhor que uma bifana e uma cerveja para derreter o gelo. E um vinho do Porto para aquecer as vozes. Com vista a esta convívio, no sábado à tarde, a TUM organiza um “passacalles” com todas as tunas presentes, que vai contar, mais uma vez, com a atuação dos Bomboémia.
Realizado desde 1991, a TUM tem-se preocupado em manter a matriz deste festival, assente nas tradições, e este ano decidiu também aliar-se à causa da Cruz Vermelha.
O palco é o de sempre: o Theatro Circo. Com uma breve passagem pelo parque de exposições, o FITU sempre teve como casa o mítico teatro bracarense, e por isso, a tuna tem uma grande ligação a este espaço, devido à história e tradição. Debaixo daquela castiçal se tocam a saudade, a melancolia, e as serenatas às raparigas de Braga. Este ano, não será diferente.
Com tudo pronto, resta esperar que as cortinas abram este sábado. Até lá, a festa faz-se na rua e os instrumentos vão fazer-se ouvir já a partir de quarta-feira. Agora, é só esperar que a chuva não estrague os planos.
(Pode ler sobre o XXVII FITU Bracara Avgvsta, de 2017, aqui)
Frio lá fora, vozes aquecidas cá dentro
Cheguem-se à frente aqueles que querem ser “vermelhinhos”. Para além de se ser rapaz, “Mou” elucida: “é preciso pertencer à UMinho, gostar de música, ter vontade de aprender, conviver e de criar amizades”. Às terças e quintas, a começar às 21:30 – sempre com o atraso académico -, o encontro é feito na parte de baixo do Bar Académico (BA).
Mal se entra no edifício, o corredor escuro torna a audição de qualquer um mais apurada e torna-se fácil ouvirem-se os acordes dos instrumentos da tuna. Os elementos vão chegando aos poucos e cumprimentam-se uns aos outros. Não são nem perto dos 140, mas a sala tem um número considerável de tunos.
Os acordes estão no quadro, tudo pronto para começar. Pede-se silêncio na sala. Com o FITU cada vez mais próximo, a concentração é ainda mais importante. Em meia lua, os elementos cantam e tocam o seu instrumento. Numa das paredes, os espelhos deixam transparecer a essência do ensaio.
Pela sala, circulam alguns elementos mais antigos. Não estão a ensaiar, mas olham atentamente para quem está. É o caso de Paulo Trindade, um dos fundadores da TUM. “Caldas”, como é conhecido na tuna, afirma que Braga já teve mais espírito académico. Rodrigo Machado, “Andrade”, tuno de quarta geração, explica melhor: “Braga tem espírito académico, mas no nosso tempo tinha ainda mais. Era diferente das outras universidades”.
Mas de caloiros também se faz o ensaio. Rui Santos, que está a tirar mestrado em bioinformática, prova que a TUM capta atenções além-Braga. Estudante da Universidade de Aveiro na licenciatura, “Z- Salgado” interessou-se pela Tuna Universitária do Minho através dum festival que acontecera na cidade. “No começo do ano letivo, antes de ir às aulas, vim logo a um ensaio”.
Intervalo significa hora de descansar. Pousam-se os instrumentos e vai-se até à parte de cima do BA. O bar propriamente dito. Onde mora a cerveja que arrefece as vozes do ensaio cheio de calor humano.
Há quem fique a ensaiar, aproveitando a tranquilidade da sala nesse momento. Chega o fim do intervalo, volta-se à rotina, prolonga-se o ensaio até à meia-noite, mais coisa menos coisa. Agora, falta esperar pelo FITU e ver se as vozes estão afinadas.