“My Dear Melancholy,” vê The Weeknd a lidar com a mágoa, desespero e melancolia do fim de uma relação, da única forma que apenas ele consegue. A utilização dos vários sons que o tornaram um ícone do R&B alternativo e da indústria em geral e a forma como expressa os seus sentimentos permite que este EP ligue todos os estilos em que o artista brilha, de forma mais vulnerável.

Quase um ano e meio após o lançamento do galardoado álbum Starboy, em 2016, The Weeknd lança o primeiro Extended Play da carreira. Com apenas seis faixas, My Dear Melancholy, consegue juntar, da melhor forma, o estilo mais antigo e mais sombrio da sua música, presente em Trilogy (2012) e Kiss Land (2013), e também a natureza mais ligada ao mainstream dos seus últimos álbuns, Beauty Behind The Madness (2015) e Starboy (2016).

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O lançamento do projeto My Dear Melancholy, surpreendeu ao ser confirmado apenas um dia antes da sua publicação. The Weeknd, também conhecido como Abel Tesfaye, lançou assim o seu primeiro EP, numa tentativa de demonstrar a forma como lidou com a melancolia do fim da sua relação com Selena Gomez. Não é certo se Abel fala verdadeiramente de Selena, pois existem várias contradições ao longo do projeto que permitem a especulação de The Weeknd também se referir a namoradas do seu passado, como Bella Hadid, ou mesmo à relação que tem com a sua própria música ou com o estilo de vida repleto de drogas. Apenas Abel Tesfaye pode ter a certeza.

O projeto conta com a ajuda de vários produtores de renome, como Gesaffelstein, Frank Dukes, Skrillex, Mike WiLL Made-It, e Guy-Manuel de Homem-Christo, dos Daft Punk. Estes nomes na produção significam que todas as faixas conseguem ter uma atmosfera própria e brilham ao mesmo nível de The Weeknd, ao longo de todo o projeto.

My Dear Melancholy, abre da forma mais impactante possível com “Call Out My Name”. Usando a mesma fórmula de sucesso de “Earned It”, de 2015, esta faixa é a mais intrigante de todo o projeto, onde o artista se mostra mais vulnerável. Abel, com a voz cheia de emoção, utiliza um piano verdadeiramente melancólico no seu fundo e uma batida capaz de trazer todos os sentimentos à flor da pele. E é isso mesmo que se pode ouvir nesta canção, onde The Weeknd explica que, mesmo estando ciente que a sua última amante não se esforçou tanto quanto ele na relação (“You just wasted my time”), ele ainda sente algo por ela e deseja tê-la de volta (“Call out my name, and I’ll be on my way”).

A segunda faixa, “Try Me”, mantém o mesmo tema e tom sombrio e Abel tenta persuadir a sua amada a deixar o orgulho de lado, largar o homem com quem está e voltar para ele. Interessantemente, algumas das linhas usadas nesta canção foram usadas no seu freestyle do remix de “Drunk In Love”, em 2014, que dão um toque especial à faixa: “I thought you had some kind of love for your man Well, I’m not tryna break up something You’ve been workin’ out, you’ve been steady But I’m ready to go all the way if you let me Don’t you tempt me”

O EP continua com a terceira canção, “Wasted Times”, com um beat mais mexido, produzido por Skrillex, onde Tesfaye torna visível a luta interna com que lida. Essa luta faz com que o artista se contradiga várias vezes, expondo vários sentimentos contraditórios aos quais os ouvintes se podem relacionar devido às suas próprias relações falhadas. Na canção, The Weeknd descreve o erro que foi apaixonar-se por alguém “I ain’t got no business catchin’ feelings”, como também descreve o não querer deixar alguém partir “I don’t wanna wake up / If you ain’t layin’ next to me”

A segunda metade do projeto apresenta duas canções consecutivas produzidas pelo francês Gesaffelstein. Ambas contêm o som de um sintetizador que, de um modo, as interligam. Porém, “I Was Never There” é a mais sombria das duas. A batida claustrofóbica e o tema central da faixa, onde Tesfaye menciona não conseguir lidar com o fim de um relacionamento de forma saudável e ter de recorrer a drogas, álcool, e sexo casual para não pensar na dor que sente. Embora The Weeknd reconheça que este modo de vida é destrutivo, ele põe a culpa na outra pessoa, com a ajuda da mudança de batida na segunda parte da faixa “It’s all because of you”.

“Hurt You”, por sua vez, remete para os hits “Starboy” e “Pray For Me”, usando o mesmo tipo e a mesma cadência de percussões e de efeitos na sua produção. Neste momento, Abel quase que suplica e avisa alguém que não a quer magoar, pois embora possa ter algo com essa pessoa, isso não significa que irá ter sentimentos por ela: “Girl, I’ll come to put myself between your legs / Not between your heart”

Na última canção no EP, “Privilege”, existe uma referência criativa a uma cena do filme “The Matrix”, onde a personagem principal Neo tem a opção de escolher um comprimido azul (que o faz viver na ignorância) ou um comprimido vermelho (que o faz lidar com a realidade). Neste contexto, The Weeknd menciona o seu uso de drogas para lidar com a situação: “I got two red pills to take the blues away”. Este jogo de palavras, aliado ao som de um piano, fazem com que o projeto termine de uma forma interessante.

Sendo este projeto pequeno, é de especular que o artista pode ainda lançar mais música este ano, até porque o título, My Dear Melancholy, tem uma vírgula no seu final o que implica uma continuação. Se for o caso, podemos esperar por mais The Weeknd no ano de 2018.

Em conclusão, My Dear Melancholy, consegue demonstrar tudo aquilo que Abel Tesfaye é capaz e que o tornaram na estrela que é hoje, como também permite que os fãs experienciem os vários sentimentos que a sua música transmite, de forma muito mais vulnerável que no passado.