Pode surgir como um choque a algumas pessoas saber que o núcleo mais antigo da Universidade do Minho é o Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais (CECRI), que representa os discentes da Licenciatura (e, mais recentemente, do Mestrado) em Relações Internacionais desde 1979. Nascido inicialmente como um grupo informal de alunos, o CECRI consolidou-se como uma associação sem fins lucrativos em 1983, tendo tido desde então, a par da própria Licenciatura, um magno impacto no estudo das Relações Internacionais em Portugal.
Deverá também surpreender alguns o facto de que a Licenciatura em Relações Internacionais, um dos três primeiros cursos oferecidos pela UM, foi a primeira da sua área a nível nacional. De facto, podemos até dizer que a Universidade do Minho é o berço das Relações Internacionais em Portugal. Com o fim da ditadura Salazarista, Portugal abriu, de novo, as suas portas ao mundo, procurando reatar relações com a comunidade internacional e estabelecer uma nova posição global, deixando para trás o “orgulhosamente sós” que marcou os 41 anos do Estado Novo. Por terras minhotas, a já fundada Universidade do Minho percebeu muito cedo que este novo capítulo da política externa portuguesa despoletava uma enorme necessidade de formar diplomatas, académicos e profissionais das Relações Internacionais e, por isso, começou a acolher, a partir de 1975, a primeira geração de internacionalistas do país.
Atualmente, com um plano curricular multifacetado, incidente tanto na vertente política e cultural, como na vertente económica e empresarial do ecossistema multinacional, a cargo de um corpo docente experiente e qualificado, e com a complementaridade prática oferecida pelas atividades do CECRI, a Licenciatura em Relações Internacionais da UM continua a destacar-se como uma das melhores da área, a nível nacional. Suponho que, também os níveis de qualidade do curso possam ser novidade. Isto reflete o que é considerado um dos maiores problemas do nosso curso: a falta de reconhecimento.
Em bom português: ninguém sabe o que é o curso de Relações Internacionais, o que estudam os seus alunos, e quais são as possíveis saídas profissionais. Como internacionalista, é comum ouvir, de amigos e familiares, conceções erradas do que é a minha área (“É relações públicas, não é?”), mitos sobre as minhas verdadeiras intenções (“Foi porque não tinhas média para Direito?”), e suposições erróneas sobre o meu futuro (“Isso só dá para ser diplomata, não?”). A verdade é que, ainda que muitos de nós enveredem neste curso com o sonho megalómano de eventualmente chegar a diplomata, felizmente (dado que a carreira diplomática é de difícil e restrito acesso), a Licenciatura em Relações Internacionais abre muitas portas em diferentes áreas e setores: em organismos governamentais e não-governamentais que atuem internacionalmente, em variadíssimas áreas de qualquer empresa multinacional, em organizações internacionais como a ONU, a União Europeia, a NATO, etc., e na própria academia, na investigação e no ensino.
Apesar de ser frustrante notar este desconhecimento por parte de entes queridos, o verdadeiro problema surge quando as perguntas supramencionadas são postas por possíveis futuros empregadores. Os internacionalistas minhotos são treinados para manter uma visão interseccional do panorama internacional, são encorajados a alimentar um espirito crítico e a resolver problemas de uma forma cordial e diplomática, e são incitados a sair da sua zona de conforto e experienciar novas realidades sem medo de correr alguns riscos – tudo qualidades de imenso valor em qualquer cenário profissional. Não obstante, o curso regista taxas de desemprego bastante altas – em 2016, a percentagem de recém-diplomados inscritos como desempregados no IEFP (9%) superava inclusive a taxa nacional (7.2%)(1) – e ainda hoje, a entrada no mercado de trabalho é um motivo de stress para qualquer finalista de Relações Internacionais (por mim falo!).
É notável, contudo, uma crescente vontade por parte dos discentes, de contrariar esta falta de reconhecimento do valor dos internacionalistas minhotos. Ainda que, numa fase inicial do curso, os próprios alunos tenham algumas incógnitas sobre as suas oportunidades, os discentes em geral têm tido uma preocupação cada vez maior de criar as suas próprias oportunidades, usando as ferramentas providenciadas pela sua formação de base. No que toca ao CECRI, isto foi particularmente explícito aquando de uma atividade que organizamos em março, nomeada “Sou Internacionalista… E Agora?” (nome que, só por si, já diz imenso!), que começou com uma sala cheia de jovens profissionais (de várias áreas, inclusive), com bastantes dúvidas sobre o que implica uma carreira internacional e o que procura o mercado globalizado – jovens esses que, à medida que o dia foi progredindo, foram estabelecendo metas, saindo da “casca” e inclusive criando contactos frutíferos com os oradores convidados e alumni presentes.
É com enorme prazer que vejo também os meus colegas a darem passos (e alguns já a correrem) no associativismo – que está vivo e de boa saúde na Universidade do Minho. Acredito convictamente que, às vezes até mais do que a própria graduação, as atividades extracurriculares a que nos dedicamos nos valorizam como profissionais e nos fazem crescer como pessoas. Acredito nisso porque vi, durante o nosso mandato, os membros do CECRI a aprenderem com os erros, a superarem inseguranças, e a automelhorarem-se continuamente, tudo sob a bandeira de representar e formar os discentes da Licenciatura e Mestrado em Relações Internacionais.
É, por isso, com entusiasmo e esperança que enfrento o meu ano de finalista, e os meus últimos meses como a 34ª Presidente do Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais. Preparo a despedida com plena certeza de que a casa onde nasceram as RI continua a formar profissionais competentes e progressivos, e que o CECRI continua a ser uma escola para gerações e gerações de jovens proativos, curiosos, ambiciosos e prontos para mostrar ao mundo de que são feitos os internacionalistas minhotos.