O álbum homónimo dos norte-americanos Forth Wanderers conta com 10 faixas que regressam ao indie rock dos anos 90 num espírito mais experimental e descontraído.

É na história de amor entre Ben Guterl e Ava Trilling que nasce a banda de New Jersey, Forth Wanderers. Ele, tímido e desajeitado, apaixona-se por ela e resolve compor-lhe uma melodia. Ela devolve a melodia com uma letra que tinha escrito. Em 2013, os amigos de infância, Duke Greene, Noah Schifrin e Zach Lorelli entram no grupo e em Novembro do mesmo ano lançam o primeiro álbum, Mahogany.

Forth Wanderers

Créditos: Julia Leiby
Fonte: subpop.com/artists/forth_wanderers/press

Ouvir Forth Wanderers é como ouvir a correspondência secreta entre amigos próximos. Não é difícil imaginar as mensagens a ser escritas com amor, à mão, reabrindo sentimentos delicados. Cada música abre um diálogo familiar com introspeções que incluem meditações sobre relacionamentos, autodescoberta e o desespero que é encontrar-se à deriva. Apesar do peso inerente a estes temas, Forth Wanderers é um álbum alegre, um registo de rock que explode do coração.

“Nevermine” abre o álbum com um trocadilho e vocais desmaiados que refletem sobre um amor do passado. “I am the one you think of when you’re with her”. As palavras já são ácidas, mas é a entrega ressequida e imperturbável da voz de Trilling que torna esta música mais do que um despinho inteligente sobre um antigo parceiro. Com a dose certa de autopiedade e autoconfiança (“I don’t think I know who you are anymore/And I think I knew who I was before”), Nevermine evoca toda a esfera de um relacionamento condenado.

O single “Not For Me” leva-nos num ritmo estimulante. A voz uniforme eleva-se e diminui calmamente, à medida que ganha energia com a maré cheia do trabalho das guitarras de Guterl e Greene. A letra é crua e dolorosa, com uma narrativa que coloca alguém num relacionamento que é reconfortante e familiar, mas talvez não necessário.

Como compositora, Ava Trilling é sincera na expressão das suas dúvidas. A maioria das suas inseguranças está relacionada com a incapacidade de decidir o que é que ela quer ou como confrontar adequadamente aquilo que sente. É interessante a forma como nos cativa – uma ambivalência cansada que tenta encobrir a sua luta interior e batalhas mentais.

“Taste” combina o amor com o humor através de uma letra autodepreciativa. “He says he likes my taste/But I bite his tongue, you know, just in case he starts to fall in love”.  É o encapsulamento perfeito do jogo entre o doce e o implacável que a banda aplica tão bem.

“Ages Ago” é uma das músicas mais fortes do álbum. A vocalista pinta a imagem de um enigmático amante em constante mudança, acompanhada de um arranjo de guitarra fluido, vocais discretamente organizados por camadas e um insulto cortante – “You’re like a dream to me / I wake up, I forget and fall back asleep”.

Forth Wanderers é um álbum repleto de canções profundas e exuberantes. Entrelaçam riffs melódicos de guitarra com vocais inexpressivos e tambores ameaçadores numa idílica refrescante de puro indie rock. Liricamente, é uma coleção de perguntas e respostas que navegam no espectro das expectativas. Todas as canções são pistas musicais para as dores crescentes da idade adulta, que são facilmente relacionáveis mas nunca banais. Estes momentos narrativos são significativamente elevados pelas incríveis performances instrumentais de Guterl e Greene nas guitarras, assim como pelo ritmo conciso do baixo de Schifrin e da percussão de Lorelli.

É um álbum que nos faz querer separar todas as camadas para apreciar cada arranjo instrumental e cada vocal individualmente, depois colocá-los de volta e desfrutar da forma verdadeiramente genuína como tudo se encaixa.