Há, consequentemente, uma falta de valorização da cultura cinematográfica nacional, principalmente pela parte do Governo, que não dá continuidade a iniciativas e políticas públicas.
Cultura e Educação são simbióticas, coisas intrinsecamente ligadas. As Ciências, as Letras e as Artes, em conjunto com a capacidade do ser humano, são a base do ensino e da aprendizagem. Neste cenário, o cinema está presente em todas estas áreas, quer pela linguagem em si, quer por esta ser um mecanismo para dialogar com outras linguagens. Portanto, a sua relação com a Educação é claramente imprescindível, além de que, com o avanço tecnológico e o acesso cada vez mais abrangente das pessoas às tecnologias de comunicação, o cinema tem uma marca cada vez mais ampliada no quotidiano.
Marca que lhe não é dada justiça no campo do ensino: não existem espaços curriculares onde se interroguem estas imagens, que histórias e significados elas trazem, e como elas trazem no que diz respeito aos filmes enquanto imagens portadoras de sentido semiótico e artístico.
Houve tentativas de melhorar o panorama: muitos desconhecem a sua existência, mas o Plano Nacional de Cinema (2013), uma parceria conjunta da Presidência do Conselho de Ministros, através do Gabinete do Secretário de Estado da Cultura, e do Ministério da Educação e Ciência, e operacionalizado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual, pela Cinemateca Portuguesa e pela Direção-Geral da Educação, foi uma iniciativa importante para a área. No entanto, observou-se um diálogo escasso entre o Governo e as entidades envolvidas, resultando dessas raras reuniões medidas sem levar em consideração o Cinema, (uma arte que nasceu no país há quase um 100 anos), e a Educação, especificamente em Portugal. E a continuidade em apostar na visualização de filmes comerciais, nomeadamente americanos, é um sinal alarmante para a falta de políticas no que toca à multiculturalidade artístico-social. Os alunos assim não mudam os seus gostos e continuam a preferir ver filmes comerciais americanos.
Portanto, há, consequentemente, uma falta de valorização da cultura cinematográfica nacional, principalmente pela parte do Governo, que não dá continuidade a iniciativas e políticas públicas para a salvaguarda do cinema português.
O cinema nunca entrou na minha sala de aula por ser cinema: entrou por ser religião, historia e ciência. Entrou mais vezes como um tapa-buracos: para preencher a ausência de professores, ou apenas para matar tempo. Ignorar a beleza com que as imagens-som reproduzem o movimento da vida e a verdadeira utilidade do cinema é negar os diferentes caminhos de mudança e progresso às gerações futuras. Afinal, os filmes são fonte de conhecimento e propõem a reconstruir a nossa realidade.