As meias azuis são incontornáveis e reconhecíveis por toda a Universidade do Minho. Há 26 anos que caminham pela academia. Hoje, com uma sala remodelada e o 25.º CELTA para preparar, a Azeituna abre as portas a tão necessitados novos elementos.

Sala renovada, instrumentos afinados e vozes aquecidas. Quem lá entra, diz ser “um amor para a vida toda”. Com 26 anos, a Azeituna é uma das tunas mais antigas da academia minhota e desde o seu surgimento vai cantando e encantando por Portugal e pelo mundo fora.

Azeituna

Vanda Elias/ComUM

Foi em 1992, por volta da altura das monumentais festas do Enterro da Gata, que a Azeituna nasceu. “Há registos anteriores, mas foi nessa data que se oficializou.” A sua cor azul “está relacionada com o facto de ser a Tuna de Ciências da Universidade do Minho”. Quem nos dá as explicações “científicas” acerca do assunto é Emanuel Roriz, magíster da Azeituna. Ao lado encontra-se Carlos, mais conhecido como “Sessenta Quilos”, com um papel ativo na direção. Numa mesa do lado de fora do café Gulbenkian, a sessão está aberta.

A Azeituna conta com um total de 89 tunos, encontrando-se a maior parte dos mesmos já fora da mui nobre academia. No entanto, alguns daqueles que ajudaram a fundar a tuna e gerações seguintes continuam a aparecer aos ensaios e atividades levadas a cabo pelo grupo. “O mais curioso é que alguns deles já têm mais anos de Azeituna do que anos de vida dos mais novos na tuna. Mesmo assim, a gente continua a conviver de forma muito igual. Não há estranheza, complexo, isso não existe!”, explica orgulhosamente Emanuel.

O magíster, também conhecido como “Bosingwa”, entrou para a tuna há dez anos. Com o curso de engenharia biológica tirado, também ele já saiu da universidade. Será a Azeituna uma tuna envelhecida? “Bosingwa” afirma que não. “Às vezes nós brincamos com isso, que somos uma tuna de velhos. Mas não podemos dizer que não somos um grupo de jovens, porque somos. Até porque mantemos a atividade”. E “Sessenta Quilos” interrompe para compactuar: “é umas das riquezas do nosso grupo, essa partilha de vida. É por isso que dizemos que somos uma família, porque não há lugares a idades”.

Cá fora não está frio, mas a chuva já cai. O tom da conversa tem de ir aumentando, com um outro encontro de amigos a acontecer ao lado da nossa mesa. Falando de inspirações musicais, a Azeituna entende que é importante preservar a música de raiz tradicional, bem como os instrumentos. As músicas que estão no repertório da tuna são construídas a partir da inspiração de cada um, mas, sobretudo, a partir do contacto com outras pessoas e culturas. Um exemplo é o instrumental “Percursos”, que reflete várias culturas em diversas partes da música. As viagens são, assim, um fator essencial. “Nós já fomos 6 vezes ao Brasil, daí termos muitas músicas de raiz brasileira”.

Os anos vão passando e mudanças vão surgindo. Assim como dificuldades. Para o magíster, tendo em conta o tempo em que está no grupo, foram duas as transformações mais evidentes. Pelo lado positivo, o CELTA, “um festival de referência”, teve um crescimento notório, com a transformação para um festival temático, o que tornou uma característica distintiva em relação a outros festivais.

Azeituna

Vanda Elias/ComUM

Por outro lado, a dificuldade em conseguir captar gente nova é uma realidade bastante presente. A culpa é do decréscimo na duração dos cursos, explica “Bosingwa”, um tanto entristecido com a situação. “Na altura em que eu entrei ainda eram 5 anos. Ao longo de 5 anos dava para entrar para a tuna: dois anos para ser caloiro, outro ano para começar a sério. Agora é um bocado diferente. As pessoas chegam ao fim do curso e parece que ainda estão a entrar no grupo. E isto dificultou um bocado”.

Trazer um bom número de novos elementos e conseguirem com que eles fiquem tem sido, assim, um ponto a debater pelo grupo.

CELTA e o jogo de temas

Tendo a sua primeira edição em 1993, um ano a seguir à formação da tuna, o CELTA – Certame Académico de Tunas Lusitanas – foi evoluindo e deixando de ser apenas um festival de tunas normal, passando a ter um tema anual. Esta mudança “enriqueceu muito o festival”. “Todos os anos, as tunas preparam um repertório especialmente dedicado ao CELTA, músicas que nunca tocaram antes e as apresentam no festival tendo em conta o tema. Ficamos muito orgulhosos de ter esse impacto nas pessoas e isto torna cada edição um desafio novo”, diz o magíster, com um ligeiro sorriso de orgulho.

Festival com um tema e com a duração de dois dias. “São poucos os festivais a nível nacional que tenham espetáculo sexta e sábado”. O FITU, da Tuna Universitária do Minho (TUM), é um deles. Para além da festa em palco, uma das preocupações da Azeituna é a de promover o convívio e o dinamismo entre os grupos culturais presentes.

Azeituna

Vanda Elias/ComUM

Realizado praticamente todos os anos no Theatro Circo, os 25 anos da Azeituna foram o tema que serviu de mote para a última edição do festival. Este ano, as expectativas em relação ao CELTA são altas, uma vez que é o festival que irá celebrar o seu vigésimo quinto aniversário. Planos definidos ainda não há, as ideias estão a ser trabalhadas, mas as datas já foram lançadas: dias 7 e 8 de dezembro, o primeiro fim-de-semana do mês, o Theatro vai receber mais uma edição da festa azul.

O que se fez, o que falta fazer

Vai-se controlando o tempo, o ensaio está quase a começar.

Como tuna ativa, o grupo vai espalhando o seu repertório ao longo do ano letivo, tanto pelo país, como pelo resto do mundo. Para começar, a Azeituna organiza o Arraial Azeiteiro, em setembro, para dar as boas-vindas aos novos alunos. Desde as participações em festivais de tunas, como o FITU, até à barraquinha no Enterro da Gata, em género de comemoração de aniversário, as digressões são também uma atividade bastante apreciada pelos tunos, onde durante duas a três semanas andam por aí, de instrumentos às costas, a tocar.

Desde 1994, a Azeituna lançou seis álbuns – uns, com CD’s gravados em estúdio e outros, com CD´s gravados ao vivo. “Palpitações”, foi o nome do primeiro álbum e “Percursos” é o trabalho discográfico mais recente, lançado em 2009. Através de uma parceria com o CAUM (Coro Académico da Universidade do Minho), em 2003, surgiu o disco “Coro Sobre Azul”.


Para além disto, alusiva à comemoração dos 25 anos do grupo, a tuna lançou, na edição passada do CELTA, o livro “25 paus: Autobiografia Não Autorizada da Azeituna”. Este livro é unicamente da autoria dos membros do grupo, sendo “algo de muito especial” para todos.

Em relação ao futuro, os meias azuis pretendem continuar as várias atividades de “praxe” que já realizam ao longo do ano. Para além disso, “gravar um novo trabalho discográfico” faz parte dos planos, uma vez que o repertório também aumentou. Já o tempo que vai levar até que isso seja feito, ainda não está definido, confessa o magíster.

Com algumas parcerias feitas com outros grupos culturais da UMinho – o CAUM, a TUM, a Gatuna, e até com grupos de capoeira, de dança e a escola de samba, o grupo não fecha portas e está aberto para novas ideias que possam surgir com o tempo, sendo que tocar com uma orquestra seria uma parceria feliz.

Azeituna

Vanda Elias/ComUM

Cavaquinhos a postos

É quinta-feira. Dia de ensaio, portanto. Na rua, cai a chuva “molha tolos”, capaz de desanimar quem tiver menos força de espírito para ir ao ensaio. Contudo, quem for, já sabe que o encontro é assegurado na parte de baixo do Bar Académico, por volta das nove e meia (na teoria).

A sala da Azeituna é uma das primeiras, do lado direito do corredor. Para ninguém se perder, está o nome na porta. Com o espaço renovado, quando se entra, a vista salta logo para uma das paredes pintada de azul e branca, com um tuno a entoar canções ao luar. Para além disso, o espaço amplo e a considerável arrumação da sala dá uma sensação de organização. Quem também está sempre presente é a mascote, o coelhinho da Azeituna.

Como não há muitas atividades próximas no calendário, os tunos vão chegando, mas não em grande número. Este ensaio dedica-se a treinar a habilidade no cavaquinho, relacionada com a participação do grupo no festival “Braga Capital do Cavaquinho”. Uns com mais prática, outros com menos, os elementos vão circulando pela sala e ajudam-se mutuamente.  

Depois do aquecimento feito, é hora de tocar em conjunto. Numa rodinha à volta do computador, os elementos entoam as canções ao som do seu instrumento. António Melo, também conhecido como “Perca”, toca um bocadinho de tudo, mas diz ser na percussão que se sente mais à vontade.

Há 9 anos na tuna, “Perca” estudou economia na academia minhota. O gosto por música e a influência de alguém na praxe, durante caloiro, levaram-no a vestir as meias azuis. Com algum tempo de casa, também António salienta como grande dificuldade a diminuição dos cursos para três anos, fazendo com que as pessoas fiquem mais reticente na altura de “se agarrarem a um projeto”.

Olhos curiosos – um grupo de amigos, estiveram presentes no ensaio, assistindo a uma parte do mesmo. Como começou mais tarde, o serão não teve direito a intervalo e seguiu sem interrupções até perto da meia-noite. Com os acordes ensaiados, a hora de descanso também é bem-vinda. Contudo, há sempre a ânsia pelo ensaio seguinte.

Desde o seu surgimento em 1992, a Azeituna tem vindo a crescer e a apresentar vontade de inovação nas diferentes atividades que realiza, como é o caso do CELTA. Com uma sala renovada e espaço suficiente para ensaiar, o grupo está preparado para receber aqueles que, assim, também queiram fazer parte desta família.