“Lost & Found”, o primeiro álbum de Jorja Smith, conta com descobertas pessoais constantes, capazes de se relacionar com as próprias experiências dos ouvintes.

Todas as pessoas, em determinados momentos das suas vidas, sentem-se perdidas no mundo, por variadíssimas razões. Em Lost & Found, Jorja Smith lida com isso mesmo, ao transmitir as suas experiências pessoais de forma íntima e vulnerável, onde menciona amor, perda, insegurança e descoberta. Baseado nas raízes da música Pop, R&B, Soul e, até, Hip-Hop, o primeiro álbum da cantora britânica de apenas 21 anos demonstra todas as experiências de alguém tão novo.

Jorja Smith lança 1º álbum Lost & Found

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Embora Jorja Smith ainda não tenha lançado nenhum álbum na curta carreira, a cantora é conhecida pelas várias features que teve com artistas de renome como Drake, em More Life, e Kendrick Lamar, no álbum do filme Black Panther. Lost & Found é a primeira verdadeira introdução, a solo, da artista, o que é um verdadeiro teste para a jovem cantora. E, tendo um estilo que remete para Amy Winehouse, Lauryn Hill, Lana Del Rey e Adele, é um primeiro álbum bem conseguido.

A juventude é evidente neste álbum, pela escrita minimalista e pela produção simples das canções. Apesar desta simplicidade ser propositada, existem momentos, no projeto, onde a capacidade vocal de Jorja brilha e outros onde a cantora não demonstra grande presença, o que causa a perda de atenção do ouvinte. Por exemplo, nas faixas “On Your Own” e “The One”, a voz da artista é um pouco abafada e não tem o mesmo impacto do que em “February 3rd” ou “Wandering Romance”, onde a sua presença é muito mais sentida e claramente mais importante.

Basicamente, a história de Lost & Found baseia-se no começo de uma relação amorosa imatura de Jorja Smith, enquanto a cantora se vai descobrindo a si mesma. Por isso, ao longo deste álbum, vemos as mudanças da personalidade da artista, desde uma pessoa e uma ideia imatura do que amor é, até a uma pessoa mais confiante e desenvolvida. “February 3rd” explica bem o conteúdo do álbum inteiro com as linhas: “I’ve been lost, I’ve been lost again, and I’ve been found Then I found myself… but I’m constantly finding myself”.

Somos capazes de ver as questões com que a cantora lida nas faixas iniciais, onde ela menciona as diferenças entre si e o seu amante. Em “Where Did I Go?”, especificamente, Jorja apercebe-se que já não sente o mesmo por essa pessoa e pergunta-se porquê: “Where did I go? When did I realize My love was on hold? So now this is goodbye”.

Embora experiências pessoais acerca de amor e da relação façam parte da maioria do projeto, a britânica quase que se apercebe que precisa de parar de pensar nesses tópicos e falar de coisas mais importantes, por isso, Jorja foca-se noutro tipo de temas. Por exemplo, em “Blue Lights”, a artista reflexiona sobre a forma como a sociedade perceciona a polícia e os problemas que ocorreram contra pessoas de cor. E em “Goodbyes”, canta cheia de emoção acerca da perda de alguém que lhe foi querido, ao expressar a dor e a tristeza de não poder estar mais tempo com essa pessoa no futuro.

Em “Lifeboats (Freestyle)”, Jorja Smith tem umas linhas muito políticas, onde critica a crise de refugiados na Europa, enquanto usa um flow muito baseado no Hip-Hop. Os barcos salva-vidas nesta faixa podem ser vistos como uma metáfora. Ao fazer-nos perceber que existem pessoas que, ao estarem tão focadas nos seus próprios problemas, ficam na segurança dos barcos salva-vidas e decidem não ajudar outros indivíduos, deixando-nos a “afundar” sozinhos nos desafios da vida.

Estas três canções são uma mudança bem-vinda e uma lufada de ar fresco ao ouvinte. Porém, Jorja não fica muito tempo a pensar noutros temas e volta a falar do amor e da relação nas duas últimas faixas. É nestas canções que vemos a maior mudança do ponto de vista da cantora acerca do amor. Em “Tomorrow”, apercebe-se que não pode deixar a pessoa com quem está à espera para sempre.

Na última faixa, “Don’t Watch Me Cry”, Jorja finalmente abre-se ao seu amante e apercebe-se de tudo aquilo que fez de errado nessa relação, enquanto estava a descobrir-se a si mesma. Isto leva ao fim da relação, mas Jorja Smith parece aceitar isso e não carregar nenhum rancor com ela. Até parece estar grata pela experiência de autoconhecimento e de descoberta, ao dar a ideia de que foi isso que moldou a forma de pensar e viver que tem agora. E essa é uma perspetiva rara, principalmente de alguém tão novo.

Lost & Found é capaz de agradar a pessoas que passaram por esta experiência de autodescoberta durante uma relação e que estão a passar por esse momento na vida. Podem existir canções mais fracas, que fazem com que este projeto não seja o Magnum opus da artista.  Mas que seja um brilhante início da série de lançamentos da carreira de Jorja Smith.