O português atua quinta-feira, no dia 7, e tem coisas especiais planeadas para o concerto no NOS Primavera Sound, como figurinos do estilista David Ferreira.
Luís Clara Gomes, conhecido por Portugal e pelo mundo como Moullinex, fecha o palco Super Bock do NOS Primavera Sound no dia de abertura. É um concerto que deixa o artista a sentir-se “privilegiado”, depois de lançar em 2017 o disco “Hypersex”. O artista de música de dança apresentou o último álbum em Outubro do ano passado, e diz queres celebrar “as coisas bonitas” da sociedade
ComUM: O último álbum, Hypersex, é um álbum muito aberto, com várias influências de fora. Tem havido mais interatividade com o público, com as músicas deste novo álbum?
Moullinex: Tem, efetivamente. É aquela ideia que uma pessoa tem de quando está numa pista de dança, que pertence a algo que é maior que a soma das partes. Sentimos que somos parte de uma entidade coletiva que está a experenciar a mesma coisa, é muito forte. Isto já é quase desde os tempos primitivos que temos esta necessidade de reunirmo-nos num círculo e experenciar algo comunal. E para trazer isso para um concerto em que a experiência é sempre um bocadinho mais passiva para o espectador, que está a ver alguma coisa, eu tenho andado a fazer pequenas coisas para tentar minar essa passividade do concerto, e hoje teremos, claro, alguns momentos que contrariam essa passividade.
ComUM: Disseste em entrevistas anteriores que o álbum foi feito a pensar na conjetura social e política do momento. Ainda está bem dentro do contexto?
Moullinex: Claro, claro. A conjetura quase que me deu o empurrão paro o fazer assim, desta maneira, porque as coisas de que falamos continuam válidas, e há coisas ainda mais válidas. Há situações na sociedade, tanto na portuguesa como nas outras sociedades ocidentais, que têm de ser resolvidas, e nalguns aspetos há retrocessos muito grandes. E eu vejo a pista de dança como um espaço onde muitas revoluções aconteceram, antes de acontecerem a nível social geral. Aconteceram como tubo de ensaio na pista de dança, como um espaço onde as pessoas podem ter as suas diferenças e serem aceites, onde celebram o facto de serem diferentes e terem individualidade e de encontrarem uma espécie de espaço seguro no qual pode congregar-se. Tomara que a sociedade fosse assim no geral. Que as liberdades individuais não fossem postas em causa. E eu não quero que seja um disco visto como um disco ativista, mas como um disco celebratório de coisas bonitas que existem e deviam ter um palco ainda maior.
ComUM: Nos concertos, tens uma personagem, o Ghetthoven, que interpreta os cantores que atuam no álbum. Podemos esperar isso hoje?
Moullinex: Exatamente. Este problema que me surgiu, que é ter muitos cantores convidados, tentei resolver integrando uma parte da cultura de “clubing”, que são os “drag shows”, onde os “drag queens” interpretam diferentes personagens, normalmente a Beyoncé ou outras cantores divas celebradas, como Donna Summer. Quis trazer este conceito para o concerto. O Igor [Ghetthoven] assume estas personagens de diferentes cantores que participam no meu disco, mas depois também desconstruímos este “drag show” porque o Igor é um cantor excelente, e depois também canta ele efetivamente algumas músicas.
Temos coisas preparadas especiais para hoje. O David Ferreira que é um estilista português fantástico desenhou figurinos especialmente para o concerto de hoje, e estou muito expectante de ver o resultado deles em palco.
ComUM: Há uma ideia estereotipada de que a música de dança é para as altas horas da madrugada. Hoje o concerto é às 23h20, mas há uma hora para dançar com a tua música?
Moullinex: Por acaso, 23h20 no contexto de um festival, sendo uma banda portuguesa a tocar no Primavera, é um privilégio! Estou muito contente por ter um slot tão tardio, fechar um dos palcos principais é um privilégio, e fiquei muito contente por isso.
Mas de qualquer maneira, respondendo à tua pergunta, eu não acho que a música de dança seja para horas tardias. As desinibições é que são para horas tardias na nossa sociedade. Há outros mundos em que se calhar as pessoas já estão a dançar às duas da tarde, nós precisamos se calhar de uns copos e de menos vergonha para começar a dançar e por isso é que é tarde.
ComUM: O que esperas do público do Primavera? Vai aquecer apesar da chuva?
Moullinex: Eu acho que sim. Para já, estamos no Porto, estamos habituados. O Porto é frio por fora e quente por dentro, sempre achei isso. Sempre que toco cá, recebo um carinho enorme. Já toquei em situações adversas de meteorologia, e sempre senti um carinho enorme no Porto. O festival tem um alinhamento fantástico, e acho que o público que cá está para ele é um público eclético, e temos essa vantagem. E por isso espero que se faça festa. E a gente faz parar a chuva!
ComUM: O Primavera Sound é um festival onde muitas bandas ambicionam tocar. Já mencionaste o slot tardio. Sendo que atuas mais lá fora, achas que é um passo em frente vir cá?
Moullinex: Poder fechar um palco em qualquer festival em Portugal é um privilégio. Num destes, que está associado a uma marca internacional, claro, obviamente. Primeiro, agradeço o voto de confiança da organização do festival, em me ter colocado com a banda a fechar este palco. E por outro lado, é um desafio e eu gosto mesmo de responder o melhor possível aos desafios que me fazem. “Ok, temos este slot para ti, fecha-me isto em condições!” (risos). E nós vamos fazer isso, vamos fazer por isso, claro.
ComUM: Falaste que o lineup é muito bom. Há algum artista que te influencie e que queiras mais ver?
Moullinex: Inúmeros! Todos os dias, mas o dia de amanhã especialmente, o dia 8, vai haver imensas coisas a acontecer em simultâneo e eu quero ver! E dos mais díspares, desde Four Tet a Unknown Mortal Orchestra, Floating Points, Nils Frahm que quero muito ver, Superorganism. Ou seja, são todos artistas que eu admiro muito e que estão no mesmo festival, quase no mesmo dia e à mesma hora, portanto sim, o programa está óptimo!