Nicolas Bernier apresentou a sua obra “Transfert (299 792 458 m/s)” no Gnration, em Braga, na passada noite de sexta-feira.
O espetáculo de luzes e efeitos sonoros foi inspirado em filmes de ficção científica dos anos 80. A peça foi exibida em contexto do Ciclo Binário, um programa de eventos audiovisuais a decorrer neste espaço ao longo do ano. No espaço encontra-se também a sua exibição “Frequencies (light quanta)”.
A blackbox do Gnration, um espaço escuro na sua plenitude, foi palco de uma performance inspirada em filmes de ficção científica dos anos 80. A música eletrónica, reproduzida em camadas sintetizadas, fundiu-se com uma coordenação de luzes intermitentes de néon. As três estruturas cenográficas de luz, a início alinhadas no centro do palco, foram depois articuladas pelo músico ao longo do espetáculo.
Os elementos audiovisuais, conjugados entre si, convergiram numa representação de um ambiente caraterizado por feixes laser e painéis de controlo de naves espaciais. A composição sonora foi criada a partir do elemento mais básico do som, que em termos práticos se ouve como um mero clique. Neste aspeto, o artista inspirou-se na obra de Vangelis e Daft Punk, bem como em elementos sonoros presentes nos mais diversos filmes de ficção científica.
“Eu usei sons básicos semelhantes ao que se pode ouvir na ficção científica”, referiu Nicolas Bernier, numa conversa decorrida ao fim da tarde na sala de conferências do Gnration. O músico teceu algumas considerações gerais sobre a sua obra: “Nesta peça, procurei usar o menos material possível. Existe uma relação entre a arte minimalista e a ficção científica.”
Quanto à dimensão visual, as estruturas cenográficas emitem luzes de néon coloridas, que surgem e se desligam num ápice. Nicolas Bernier revelou que se inspirou no uso de luzes em filmes como “Metropolis” de Fritz Lang, “Tron” de Steven Lisberger ou “Blade Runner: Perigo Eminente” de Ridley Scott.
“Transfert (299 792 458 m/s)” é a obra mais recente do músico, num repertório marcado pela experimentação de sons acústicos e digitais. A conversa serviu de mote para o artista demonstrar a evolução do seu trabalho, cujo processo criativo começa em casa. Nicolas Bernier coleciona os mais variados objetos, desde modelos de comboios, a câmaras e projetores, passando por diapasões e osciladores: “Para mim, esta é uma parte importante. Eu guardo coisas e registo os seus sons, as suas imagens… Mal consigo dormir à noite, porque o meu quarto tem tantas coisas”.
Nas suas diversas obras, o músico começou por focar-se na fisicalidade dos objetos. Em “Boîte”, Bernier juntou-se a Alexandre Landry para criar uma performance em torno de um intonarumori, um instrumento baseado nos designs de Luigi Russolo. O conceito surgiu no início do século XX, com foco em máquinas que se podem manusear para a produção de diversos sons.
A dimensão acústica persistiu até “Frequencies”, uma série de exposições em que o artista acabou por transpor para a dimensão digital. A exibição “Frequencies (light quanta)”, em que pretende representar visualmente ondas sonoras, pode ser visitada no Gnration até 18 de julho.