As Raincoats encheram, ontem, a blackbox do gnration para um concerto bastante intimista. A abertura da noite ficou a cargo dos barcelenses Dear Telephone.

Um baixo, uma guitarra, um violino e uma energia punk bem viva. As Raincoats iniciaram a pequena tour por Portugal no gnration, em Braga. A banda inglesa, formada pela madeirense Ana da Silva, na guitarra, e as britânicas Gina Birch, no baixo, e Anne Wood, no violino, atuou para uma blackbox esgotada.

Pouco passava das onze e meia da noite quando as Raincoats entraram em palco. Ana da Silva não tardou em saudar a plateia com um “olá” muito aplaudido pelos presentes. “No Side to Fall In” abriu o concerto. Ao fim da primeira canção, já o público se tinha rendido ao post-punk do trio britânico. Entre as músicas, as artistas dirigiam-se à plateia sempre com boa disposição. Ana da Silva contou que, antes do concerto, Gina foi parar ao hospital. Mas ainda assim, a baixista mostrou-se sempre com uma força contagiante e um sorriso na cara, quase como se nada tivesse acontecido.

E foi pela voz de Birch que chegou “The Feminist Song”. “Espero que entendam o que vou dizer”, começou a música. As palavras, que, em spoken word, Birch declamava, provocaram um dos momentos mais arrepiantes da noite. No fim, a artista rematou perguntando se tinham entendido, ao que o público imediatamente respondeu com um forte “yeah”.

Durante o concerto, Ana da Silva e Gina Birch iam brincando uma com a outra. A amizade de décadas, que as duas fundadoras das Raincoats partilham, transparecia. Ana da Silva ia brincando com o facto de a amiga não entender português. Birch abraçava a situação e ria-se com a amiga e com a plateia. Enquanto os espetadores encantavam-se com a doçura e simplicidade das duas.

No final de cada canção, a audiência brindava o trio com grandes salvas de palmas. “Disco Ball”, canção de “The Lighthouse”, álbum a solo de Ana da Silva, vigorou no alinhamento da banda. “No One’s Little Girl”, “No Looking”, “You’re a Million”, “In Love” e “Fairytale in The Supermarket” preencheram o resto concerto e conquistaram o público bracarense. A blackbox deixou-se dominar pela boa disposição e pelo punk das Raincoats, que pode ter ficado ligeiramente mais lento com a idade, mas cujo sentimento ainda continua bem vivo em Ana da Silva e Gina Birch.

O fim do concerto chegou demasiado cedo para quem ouvia história na sala escura. “Esta é a nossa última canção, é dedicada à minha amiga Lolita”, informou Ana antes de começar o cover do hino queer dos Kinks. A plateia não se fez rugada e mostrou, rapidamente, a tristeza com o final do concerto.

Foi ao som de “Lola” que o gnration se despediu das Raincoats. O público agradeceu com fortes e longos aplausos o concerto intimista e pessoal da banda. Ao sair, havia ainda quem assobiasse e cantarolasse as canções que coloriram uma noite em que acabou por ser mesmo necessário vestir uma gabardine.

Antes das Raincoats subirem a palco, coube os Dear Telephone abrir o concerto. A banda de Barcelos apresentou o último álbum, “Cut”, editado no ano passado. O grupo aqueceu o público que, à medida que o concerto avançava, ia preenchendo a blackbox para ondular ao som de canções como “Slit”, “Nighthawks”, “Automatic” e “The First Person Ever”.

Dear Telephone

Ana Maria Dinis / ComUM

As Raincoats continuam hoje, dia 30, a digressão por Portugal, em Lisboa, no Festival Rama em Flor e dia 3 de julho no Salão Brazil, em Coimbra. Dia 4 de julho, Ana da Silva e Gina Birch estarão presentes na conferência Keep it Simple, Make it Fast (KISMIF), no Porto, onde falarão da história da banda e do livro “The Raincoats” de Jean Pelly, presente na série de livros sobre música “33 1/3”.