Em vésperas de mais um MOMENTMUM, a Escola de Medicina vibra com os sons do ensaio da TMUM. Os últimos detalhes acertam-se para o festival de tunas mistas da Universidade do Minho, que sobe ao Fórum Braga no próximo sábado.

É uma noite de segunda-feira pacata, como outras tantas, mas no alto da colina universitária, bem lá em cima, há instrumentos a serem afinados e vozes a aquecerem. Não são muitos os estudantes que se avistam pelo campus àquela hora e os poucos que por lá andam, dirigem-se apressados para mais um ensaio da Tuna de Medicina da Universidade do Minho (TMUM).

A 5ª edição do festival MOMENTMUM é já este sábado e a euforia concentrada paira pelo auditório da Escola de Medicina. É altura de ajustar detalhes antes da atuação e organizar os últimos pormenores do evento.

TMUM

Lara Varanda/ComUM

A cultura é para todos

17 de novembro de 2009 é a data que marca o início da TMUM. São uma das duas tunas mistas que existem na universidade minhota e surge de uma vontade de dar oportunidade aos estudantes de medicina de participarem na vida cultural da academia. Entre melodias de violinos e harmonias vocais, Francisco Gomes (“Cãotor”), magister da TMUM, de 23 anos, explica que o ambiente que se vive na tuna é e sempre foi bastante positivo. “Olhamos sempre para a tuna como uma prioridade, mas uma um bocadinho abaixo do curso. Não somos, neste momento, um grupo que exija um esforço tremendo que faça com que as pessoas tenham dificuldade em fazer as suas cadeiras. Acho que isso ajuda bastante a que o ambiente seja bom”.

Desde o início que são mistos tanto em género, como em áreas de estudo dos membros. Embora o grupo inicial consistisse apenas de alunos de Medicina, não demorou muito a que outros estudantes se juntassem à TMUM. Ágata (“Gatunxa”), licenciada em Gestão, foi a primeira estudante de fora a ingressar no grupo, chegando até ao cargo de magister. Francisco, que agora assume essa mesma posição, é finalista da licenciatura em Direção Coral.

“Nos últimos dois anos tem entrado muita gente de Música, Física, Gestão, Engenharias, por aí fora. Não sei se há algo que explique isto. Algumas pessoas souberam de nós através de amigos, outras vieram do nada. Viram vídeos nossos, gostaram do nosso espírito e acho que foi um bocado por aí que se juntaram à tuna”, explica Francisco.

TMUM

Lara Varanda/ComUM

Está tudo a postos e o ensaio começa. A animação é óbvia entre os tunantes, mesmo com demonstrações pontuais de nervosismo em relação a sábado. Os ânimos acalmam-se e ouve-se “Alvorada”, dominada pela voz límpida da solista.

“Quando organizamos o primeiro MOMENTMUM ainda nem tínhamos participado em concursos organizados por outras tunas. Inicialmente, quando começamos a ir, não ganhamos muitos prémios. Nos últimos 4 anos a tuna tem crescido exponencialmente e, atualmente, vamos a vários festivais, temos muitos convites”, conta João Alves (“Paprika”), presidente da TMUM e estudante do 4º ano de Medicina, de 22 anos. O festival MOMENTMUM surgiu a partir da observação daquilo que é uma prática comum das várias tunas a nível nacional. Francisco explica que, há 5 anos, quando o evento aconteceu pela primeira vez, houve muitos obstáculos que tiveram de ser ultrapassados para que a TMUM pudesse evoluir e andar para a frente. “Realmente, o primeiro festival foi um momento marcante para esta tuna. Fez com que evoluíssemos bastante até hoje e fez com que, anualmente, tivéssemos um desafio fixo que nos obrigasse sempre a melhorar, a todos os níveis”, acrescenta o magister.

Foi a partir do 3º MOMENTMUM que começaram a apostar em peso na decoração. Com temas como a “Disney”, “Broadway” e “À Portuguesa” emergiu esta necessidade de dar vida ao espetáculo. Este ano, o tema escolhido foi o “Irish” que, aos olhos dos tunantes, é musicalmente atraente e festivo. No que toca à decoração, prometem uma surpresa “megalómana”. “A cultura irlandesa é muito festiva com ritmos que puxam muito pelo público e pela dança. Achamos que seria um bom tema para adaptar em termos musicais e um bom desafio para as tunas que vêm ao nosso festival”, esclarece Francisco.

O ensaio decorre no auditório da Escola de Medicina. Normalmente, este acontece na sala ao lado, destinada exclusivamente à tuna, mas, de momento, o espaço serve de arrumação para a organização do festival. Começa-se a ouvir “Vida Boémia” e os ritmos das pandeiretas entram em palco.

Francisco explica que o festival serve, também, de oportunidade à introdução de novas músicas ao repertório da TMUM. “Consoante o tema do evento, fazemos um arranjo ou um original adaptado ao mesmo. Depois, apostamos também numa música nova fora do tema, que decidimos lançar nos MOMENTMUM’s, porque achamos que o festival é o momento indicado para mostrar coisas novas às pessoas. De ano para ano gostamos sempre de trazer uma ou duas músicas novas, para que o público não fique cansado e para que o nosso repertório cresça cada vez mais, sempre com qualidade”.

TMUM

Lara Varanda/ComUM

Embora ainda não tenham repertório gravado em estúdio, planeiam fazê-lo no próximo ano ou daqui a dois anos. Para já, é possível ouvir atuações da TMUM através do canal que têm no YouTube.

O ânimo que persiste

Ao contrário do que acontece com outros grupos culturais da UM, a TMUM não enfrenta o problema da falta de membros. Há dois anos que vão acolhendo novos elementos a um ritmo constante, contando com 65 pessoas em palco, no próximo sábado. Apesar disto, as dificuldades existem noutras áreas.

As maiores queixas vão para a falta de transportes, patrocínios e espaço para organizar o festival anual. João Alves explica que “antigamente, as juntas emprestavam as carrinhas sem qualquer custo, em troca de atuações. Agora tem sido mais difícil, temos tentado combater isso fazendo parcerias com empresas de autocarros, mas é complicado”.

Outra realidade que enfrentam é o crescimento em escala da cidade de Braga: “o Theatro Circo começou a não ter capacidade para albergar todos os festivais de tunas aqui da UM. Agora há esta solução do Fórum Braga, que é excelente, é a segunda maior sala do país, mas começa a tornar-se um bocado complicado, não só financeiramente mas também em termos de datas para o festival”, esclarece Francisco.

Não obstante, o festival está encaminhado e as expectativas para sábado são altas. Entre risos, houve ainda tempo para um momento de praxe aos caloiros, representados em grande número, no intervalo do ensaio, que rapidamente retomou.

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Lara Varanda/ComUM

“Apesar de já ser o meu terceiro festival, e já sei que vai ser cansativo, estou preparada. Vai ser uma experiência diferente, vai ser engraçado e especial, desta vez. Cada ano que passa, surpreendemo-nos a nós próprios”, diz Margarida Oliveira, mais conhecida por “Zoome” e estudante do 4º ano de Medicina, de 22 anos.

Este ano, vão 4 tunas mistas a concurso no festival: a ArquitecTuna (Tuna Académica da Faculdade de Arquitectura Universidade de Lisboa), a Desconcertuna (Tuna Mista da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, a TMISCAC (Tuna Mista do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra) e a TAOD (Tuna Académica de Oliveira do Douro).

Ter a sala lotada é visto como um objetivo secundário, nunca negando a vertente financeira deste tipo de festivais. “O nosso objetivo principal para sábado é que as pessoas que vêm se divirtam ao máximo, que gostem do festival e que as tunas tragam um bom espetáculo. Temos um tema muito interessante e as pessoas têm-se mostrado recetivas.”, afirma João.

A noite já vai longa e o cansaço vai tomando conta do auditório. Interrompidos pelo segurança do edifício, ensaiam a última música. Rapidamente, arrumam os instrumentos e guardam as vozes.

Esperança convicta

O futuro da TMUM soa promissor e os sorrisos de quem o defende validam a causa. A vontade de mostrar que a UM não é apenas boa a nível desportivo e académico, mas também a nível dos grupos culturais, é imensa.

Francisco, que faz parte desse futuro risonho, termina a sua entrevista dizendo que “tal como a TUM e a Gatuna, nós queremos, também, no nosso género misto, tornar-nos numa grande tuna do país. Uma tuna que mostre que a UMinho está cá e que esta é uma universidade muito importante no prisma nacional”.

Saímos da Escola de Medicina, descemos o Olimpo e para trás fica o amarelo dos estandartes e a animação de uma tuna promissora. Dia 16 de junho, o Fórum Braga irá ressoar com os sons irlandeses, sempre com o toque da boa música portuguesa.