A livraria Centésima Página, em Braga, acolheu na passada noite de quinta-feira o romancista Germano de Almeida. Durante o serão, o vencedor do Prémio Camões debruçou-se sobre as suas histórias.
O escritor Germano de Almeida esteve presente na livraria Centésima Página em Braga, na passada noite de quinta-feira, para apresentar o seu mais recente romance “O Fiel Defunto”, publicado pela Editorial Caminho. O serão teve uma conversa com foco na sua obra, bem como na sua vida e nas suas origens.
Germano de Almeida é um escritor, editor e advogado cabo-verdiano, sendo também cofundador da revista Ponto e Vírgula. A sua obra literária caracteriza os vários aspetos da sociedade cabo-verdiana, uma república ainda jovem, com um toque sátiro e humorístico. O autor é o mais novo recipiente do Prémio Camões, atribuído como um reconhecimento do valor da sua obra no contexto da língua portuguesa. Atualmente reside em Mindelo, uma cidade no norte da ilha de São Vicente, em Cabo Verde.
A sessão foi introduzida por Sheila Khan, que teceu algumas considerações sobre o Prémio Camões atribuído ao autor: “É um prémio de quem lutou pela liberdade. Na minha geração, por vezes não existe a noção do que é viver sem liberdade.” A investigadora descreveu então a obra de Germano, que “conta histórias do seu olhar, do seu lugar. Sendo um homem de Direito, deve estar atento ao pormenor, à peculiaridade”.
O seu foco no detalhe foi preponderante na escrita da sua última obra, “O Fiel Defunto”. O autor começou por escrever uma crónica mas, por não conseguir encontrar “a palavra certa”, decidiu brincar com a ideia de um escritor assassinado na apresentação do seu livro. O que começou por mero acaso germinou novas páginas, em que foram considerados os motivos e as implicações em torno de tal morte. Para o romancista a história não estava planeada, foi surgindo aos poucos mediante um progresso natural do enredo.
Apesar da história decorrer em Cabo Verde, a obra foi publicada em solo lusitano. “Descobrimos que é muito mais fácil publicar um livro em Portugal do que em Cabo Verde. Para começar, a publicação fica três ou quatro vezes mais barata”, explicou Germano de Almeida. Este facto permitiu-lhes vender o livro por um preço mais baixo em Cabo Verde do que se fosse publicado por uma editora cabo-verdiana. A atribuição do Prémio Camões trouxe um maior mediatismo à obra nos dois países. No arquipélago do oeste africano, as vendas foram impulsionadas por um entusiasmo em torno da condecoração.
O lugar concreto de Germano de Almeida é a ilha da Boa Vista, uma de dez que constituem Cabo Verde. A terra em que cresceu influenciou o teor da sua escrita, bem como a sua maneira de ser. Após se formar em Direito na Universidade de Lisboa, o autor sentiu-se alienado no seu regresso a casa. Com as diferenças existentes entre Portugal e Cabo Verde, desvirtuou-se dos costumes da sua ilha, sendo que precisou de algum tempo para voltar a ser um homem da sua aldeia. Assumindo-se como “um contador de histórias”, o romancista sente que ainda tem algo por escrever, porque mergulha no passado de uma ilha com muitas memórias.