Embora tenha elementos redimíveis e esteticamente agradáveis, Scorpion é um álbum em que Drake desaponta os ouvintes, tanto pelas rimas sem impacto, como pelas poucas respostas às controvérsias recentes.

Quem nunca ouviu falar de Drake? Provavelmente alguém sem qualquer acesso à internet, à rádio ou à televisão. Mas para quem está ao corrente das notícias, especialmente no ramo da música, sabe que Drake (nome verdadeiro Aubrey Graham) é o artista que mais cópias vende de sempre. Por isso, não é surpresa que Scorpion, na sua breve vida, já tenha quebrado recordes de vendas e de streaming. Porém, significa isso que este é um bom álbum?

Scorpion Drake

billboard.com

Para muitos, Scorpion pode ser considerado um bom projeto, visto que contém todos os elementos que tornaram Drake na estrela que é hoje: mistura interessante de Hip-Hop com R&B, letras sentimentais e vulneráveis, com que o ouvinte se pode identificar, e produção ao mais alto nível. Mas, ao mesmo tempo, para muitos outros, este duplo álbum pode ser desgastante e abaixo das expetativas. Com imenso filler, este quinto álbum de Aubrey Graham pode ser considerado, por muitos, o álbum menos inspirado do artista.

O artista é conhecido por ser polímata e por criar o tipo de música em que uma única pessoa pode fazer rap e cantar na mesma canção. Por isso, Scorpion encontra-se dividido em duas partes. A parte A centra-se mais em Hip-Hop e Rap, enquanto o lado B se foca mais nas habilidades de canto e R&B de Drake. Porém, a quantidade de canções filler faz com que o tamanho do álbum jogue contra o próprio artista. Embora a divisão de Scorpion faça sentido, cada lado do projeto chega a ser previsível, uma vez que os flows, as execuções e as escolhas de som são exatamente iguais aos que Drake habituou os ouvintes nos lançamentos anteriores.

Pode ser uma coisa boa, pois em cada parte do álbum existem faixas que usam bem o “método Drake”, sendo que a segunda parte é a mais completa. No lado A, por exemplo, “Elevate”, “Emotionless”, o hit “God’s Plan”, e “Can’t Take A Joke” são exemplo disso, onde o rapper é capaz de ter um flow que se mistura na batida de forma interessante e com uma lírica de bom nível. No lado B, “Jaded”, “Nice For What”, “Blue Tint” e “Don’t Matter To Me”, com uma sample não lançada de Michael Jackson, também são bons exemplos do bom uso da voz de Drake com a batida, que podem ser bastante interessantes para o ouvinte.

 

 

Esta previsibilidade também pode ser algo mau, principalmente quando aliados com algumas linhas de pouca qualidade. “Nonstop”, “Mob Ties”, “Peak”, e “Finesse” sofrem disso mesmo, o que as torna faixas facilmente esquecíveis. “I’m Upset”, uma das piores canções alguma vez lançadas por Drake, é o maior exemplo disso. A execução, as flows e as letras sem energia e sem impacto tornam esta canção difícil de ouvir até ao fim.

Mas, o que realmente torna este álbum um pouco desapontante são as pouquíssimas referências aos temas que toda a gente esperava que Drake mais falasse neste projeto: a resposta à diss track de Pusha T e o encobrimento do nascimento do filho.

Para auxiliar no contexto, meses antes do lançamento de Scorpion, Drake e o rapper Pusha T tiveram uma guerra de diss tracks. Porém, a mais venenosa de todas foi “The Story of Adidon”. Nesta faixa, Pusha T mencionou vários pontos capazes de acabar com a relevância da carreira de Drake, sendo que o principal foi uma alusão ao provável nascimento e encobrimento de um filho, com a atriz pornográfica, Sophie Brussaux.

Com toda esta novela mexicana pouco antes do lançamento de Scorpion e, sendo este um duplo álbum, com 25 faixas, os rumores e as expetativas para obter respostas da parte de Drake estavam no auge no dia de lançamento. E essas respostas apareceram em três das 25 faixas: “Emotionless”, “8 out of 10” e, mais detalhadamente, na última canção do projeto “March 14”. Nesta última, Drake detalha a toda a situação que levou à existência do filho, Adonis, e compara a situação com a que experienciou com os seus pais. “She not my lover like Billie Jean but the kid is mine”. Serão estas justificações suficientes e credíveis para não afetar a restante carreira de Drake? Apenas o tempo dirá.

 

 

Embora Scorpion seja um duplo álbum, com 25 faixas, é um projeto que diz pouca coisa que interesse os ouvintes, principalmente no que toca às controvérsias recentes. A produção pode ser de alta qualidade, o que é de esperar do orçamento altíssimo deste projeto, mas é o próprio Drake o elemento mais inconsistente deste lançamento. Enquanto o artista parece brilhar em algumas ocasiões, outras demonstram a insegurança e a falta de foco de Drake.