A banda inglesa de rock, Florence + the Machine, regressou com o seu quarto álbum de estúdio, "High as Hope", lançado no passado dia 29 de junho.
High As Hope é um álbum bem-vindo na carreira da banda. Welch reflete sobre o passado, com um firme enraizamento no presente. Canta com clareza sobre as maiores questões da vida, como a solidão, o arrependimento, o amor não correspondido, o amor próprio e o empoderamento feminimo.
“June” abre o álbum com o nome do mês. Começa com as palavras “The show is ending and I have started to cry”. Os vocais expressivos e vulneráveis de Welch são incomparáveis. A meio do primeiro minuto há um efeito eletrónico que evoca uma espécie de frequência de rádio e abre caminho para um coro suplicante: “Hold on to each other”. Desde o arranjo de cordas ao bater de palmas, a canção é uma verdadeira fusão rodopiante de instrumentos musicais. Liricamente, revela que o intenso estado emocional de Welch voou muito além da atmosfera e prepara-nos para o carrossel de emoções que vem a seguir.
O single “Hunger” pode ser uma das músicas mais explicitamente pessoais de Florence Welch até hoje. Abre com dor e crueza: “At 17, I started to starve myself”. Fala sobre as maneiras pelas quais procuramos amor em coisas que talvez não o sejam, e como as tentativas de nos sentirmos menos sozinhos às vezes podem acabar por nos isolar ainda mais. Os pianos e o acompanhamento coral criam um registo gospel que fortalece a aceitação de Welch para com o vazio que sentia. Depois de contemplar o medo, Welch expressa a euforia do momento em que a sua fome é satisfeita, ainda que apenas temporariamente. Com um ritmo cativante e letra que fica no ouvido, é talvez a melhor música do álbum. É incrível a vontade que dá de dançar, ao mesmo tempo que nos faz pensar na solidão e nas coisas mais obscuras da vida.
“Sky full of song” é o primeiro single do álbum, lançado em abril. De novo, podemos sentir que a vocalista está a expressar um momento extremamente intenso de solidão e a música envolve-a de uma só vez: o lirismo, a imagem, a espiritualidade. Fala sobre como é a vida como artista para ela, usando o voo como uma metáfora para a performance, enfatizando como é difícil descer “para a terra” depois de se sentir bem no palco. Começa acapella e evolui para um acústico melancólico e contemplativo. A forma como ela canta é única. Canta “Hold me down, I’m so tired now” e conseguimos ouvir o cansaço na voz – Não de uma maneira preguiçosa, mas sim graças à entrega meiga de empatia.
Recentemente lançado como o terceiro single do álbum, “Big God” contou com a colaboração do britânico Jamie XX, membro da banda The XX. A música começa com o próprio refrão: “You need a big god/ Big enough to hold your love”. Letras de amor não correspondido parecem apontar para um relacionamento com algo mais do que um mero mortal (“I still like you the most/ You’ll always be my favourite ghost”). Mais uma vez, o leque de instrumentos utilizados é bastante completo, passando por variadas formas de percussão, baixo, piano e cordas. Há flauta e saxofone, o que cria uma aproximação ao Jazz. Acompanhado de um videoclip inteligente e visualmente apelativo, é um dos temas mais interessantes do álbum.
Algumas das faixas, especialmente “South London Forever”, “Patricia” e até mesmo “1000 years” fazem quase parecer que estamos a ler o diário de Florence. São canções sem dúvida muito pessoais, mas também muito bem pensadas. Não encenadas, mas colocadas de forma a permitir-nos conhecê-la um pouco melhor como pessoa. Ao mesmo tempo, dá aos ouvintes algo que podem tirar e aplicar nas suas próprias vidas.
De um modo geral, High As Hope serve-se da teatralidade característica da banda para criar uma conquista musical vulnerável e intensa. Florence permanece fiel à sua paleta de cordas, piano, baixo e bateria, mas há aqui uma nova sensação de liberdade e experimentação, bem como um verdadeiro amor pela criação musical.
9/10
Florence + the Machine
High as Hope
2018
Virgin EMI