Os jardins do Museu Nogueira da Silva, em Braga, receberam na passada sexta-feira uma noite de declamação poética pelo Grupo de Poesia da Universidade do Minho
O Museu Nogueira da Silva, em Braga, acolheu na passada noite de sexta-feira a segunda edição do Dois Versos e um Copo. O evento de declamação de poesia, com foco exclusivo em autores de língua portuguesa, esteve a cargo do Grupo de Poesia da Universidade do Minho, tendo Isaque Ferreira e Blandino como artistas convidados.
A sessão decorreu nos jardins do museu, onde um cenário foi montado sob luz ténue perante uma fonte adornada por figuras e brasões esculpidos. Os elementos do Grupo de Poesia dispuseram-se em lugares sentados ao longo da extensão do palco, com diversos instrumentos de percussão, teclas, sopro e cordas. O evento decorreu com a participação alternada de dois oradores, que à sua vez declamaram os vários poemas do programa, acompanhados por arranjos musicais preparados pelo grupo cultural.
A noite começou com um foco na liberdade, com “O Poema Original”, de Ary dos Santos, e “A Fala do Homem Nascido”, de António Gedeão. A obra deste último poeta foi uma presença constante durante a noite, com “Poema do Homem Só” e “Poema da Malta das Naus” ouvidos mais tarde. “Nós temos um carinho por António Gedeão”, reconheceu um dos elementos do grupo.
As inadequações dos homens e das mulheres foram abordadas em dois poemas alternados. Primeiro ouviu-se o “Poema aos Homens Constipados”, de António Lobo Antunes, uma sátira à suposta sensibilidade dos homens quando estão doentes. O equilíbrio foi restabelecido com “Namoro”, de Viriato Cruz, “um poema dedicado às mulheres, que nunca têm dúvidas de nada”. A “Ode ao Futebol”, por Tóssan, marcou o fim da primeira parte.
Entretanto foram introduzidos Isaque Ferreira e Blandino, os artistas convidados da noite, que também contribuíram com algumas instâncias de poesia musicada. “Dá a surpresa de ser”, de Fernando Pessoa, descreve a sensualidade feminina, enquanto a “Poesia para Pessoas Sensíveis”, de Sophia de Mello Breyner, lida com a precariedade e a desigualdade social.
O surrealismo foi introduzido com alguns textos da micro poesia de Mário-Henrique Leiria, cuja leviandade deu lugar a “Em Todas as Ruas Te Encontro”, de Mário Cesariny. Os convidados terminaram a sua performance com poemas alusivos à superstição da sexta-feira 13, “Drácula Apaixonado”, de João Habitualmente, e “Sangue de Bruxa”, do próprio Blandino.
O Grupo de Poesia retomou o evento com “Cântico Negro”, de José Régio, um poema por tradição recitado por este grupo cultural desde a sua génese. A ambiência soturna manteve-se com “Adeus”, de Eugénio de Andrade, um poema sobre a perda do amor. Seguiu-se Florbela Espanca com “Eu” e “Árvore do Alentejo”, dois sonetos que representam a solidão e a mágoa. A noite foi concluída com um retorno à liberdade de Ary dos Santos, desta vez artística, através de uma declamação entusiástica de “Poeta Castrado Não”.