Os Arcade Fire incendiaram o último dia de Paredes de Coura. O festival regressa em 2019 entre os dias 14 e 17 de agosto.

O festival Paredes de Coura terminou ontem com o concerto mais esperado do festival. Os Arcade Fire levaram o público à loucura com o seu regresso ao festival, após treze anos. A noite de sábado contou também com os concertos dos portugueses Dead Combo, dos americanos Big Thief e da libanesa Yasmine Hamdan.

paredes de coura

Hélio Carvalho/ComUM

Foi em 2005 a última vez que atuaram no festival Paredes de Coura. Treze anos depois, os Arcade Fire não são mais os miúdos com um disco acabado de sair do forno, e que correram para a loja oficial do recinto para vender o agora consagrado “Funeral” e merchandising. Em 2018, os Arcade Fire namoram o estatuto de lendas.

Se o concerto de 2005 é considerado como um dos concertos míticos de Coura, o de 2018 é a consagração desse mito. A banda esgotou o festival do Alto Minho. Ao todo, 27 mil pessoas moveram montanhas para vir a Coura ver os Arcade Fire tocar um concerto que, certamente, ficará escrito em pedra na história do festival. Segundo a organização do festival, passes gerais foram vendidos só para se ir a este dia.

Muito se esperava do concerto. O palco tinha sido todo apetrechado para aguentar tudo o que os Arcade Fire tinham na manga para atirar no seu grande regresso. Em cima do palco, ergueu-se uma enorme bola de espelhos. Atrás da régie outra foi montada, mas escondida até um momento especial, quando Régine apareceu a dançar em cima dela num dos momentos mais surreais da atuação. Atrás, no topo do monte, dos lados direito e esquerdo montaram-se mais dois holofotes. A baixo da bola de espelhos do palco, dois ecrãs colados lado a lado em forma de triângulo passavam vídeo-clips da banda e do concerto.  O retorno da banda a um local onde foram tão felizes, fazia deste concerto um dos acontecimentos, senão mesmo o acontecimento mais esperado da época de festivais.

Win Butter, Régine Chassagne e companhia ainda não tinham aparecido em palco e já se gritava pelos Arcade Fire. Nas filas frente, algumas pessoas esperavam ansiosamente, desde o início da noite, pelo concerto. À 1h em ponto, os Arcade Fire entram em palco e Coura estremeceu com os gritos de alegria e euforia da plateia. “Everything Now” abriu o espetáculo e o anfiteatro natural do festival tornou-se, de imediato, numa pista de dança sem igual. O público dançava, cantava, gritava, saltava freneticamente. Tinha tudo agora.

Na cara dos músicos, grandes sorrisos escapavam pela alegria tanto pelo público que tinham à frente, como pelo regresso ao palco principal de Paredes de Coura. A banda do Canadá cancelou três concertos de propósito para vir a Coura tocar, como contou o diretor do festival, João Carvalho, em entrevista ao ComUM. Com eles trouxeram a memória do concerto de 2005. “Quando viemos cá foi um dos nossos primeiros concertos na Europa e vimos aquelas pessoas doidas todas pensamos: Oh m****, era disto que eles falavam?”.

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Hélio Carvalho/ComUM

Tanto público como banda forma incansáveis. Os Arcade Fire passaram o fósforo um pouco por toda a sua história para incendiar o público que entrava em êxtase não importava que canção fosse.

“Rebellion (Lies)” levantou o primeiro grande coro de “oh oh oh”. “Electric Blue”, “Put Your Money on Me”, “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” e “Ready to Start” geraram momentos de muita dança e saltos. A meio homenagearam Aretha Franklin, “um anjo na terra”. “O mundo tornou-se um lugar ainda mais negro sem ela”, referiu Win. “Dedicaram “Intervention”, do álbum “Neon Bible” a Donald Trump, como forma de protesto contra o presidente americano. “Cars and Telephones”, canção nunca lançada, também constou no alinhamento da banda.

“Suburbs” apareceu o concerto já ia longo. As telas, em cima dos artistas, transformaram-se em billboards luminosas dos espetáculos da Broadway. “Reflektor” e “After Life” – que contou com uma pequena achega à “All My Friends” dos LCD Soundsystem – chegaram nos últimos lugares, a abrir caminho para o final com “Creature Confort”.

Mas o público não deixou a banda ir-se embora. Nem os Arcade Fire queriam. Voltaram com a continuação de “Everthing Now” e terminaram como começaram em 2005: com “Wake Up”. Fez-se o ciclo completo e Coura acabou a noite a cantar o verso onomatopaico de “oh oh oh” sozinhos, enquanto a banda se ia retirando um a um.

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Hélio Carvalho/ComUM

Antes de Arcade Fire incendiar Coura, o palco principal recebeu os portugueses Dead Combo. O duo formado por Tó Trips e Pedro Gonçalves fez-se acompanhar por António Quintino no contrabaixo, Alexandre Frazão na bateria, Gonçalo Prazeres num dos saxofones e Gui, dos Xutos e Pontapés, no outro saxofone.

(Pode ler aqui sobre os primeirosegundo e terceiro dias do festival Paredes de Coura)

O público acarinhava a banda que dava toda a sua energia e técnica apurada num concerto muito aplaudido e dançado. Os Dead Combo trouxeram o seu mais recente álbum “Odeon Hotel” ao palco principal, mas não deixaram de fora sucessos como “Lusitana Playboys” e “Esse olhar que era só teu”.

A meio do concerto, Alexandre Fazão rasgou a multidão com um solo de bateria que espantou o público de Coura, que ficou em silêncio completo, estupefacto a ver a grande habilidade do músico.

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Hélio Carvalho/ComUM

Depois Mark Lanegan entrou em palco. O público de Coura recebeu o regresso do músico americano ao palco principal de Paredes de Coura com fortes aplausos. Mas a tão aguardada colaboração do artista com os Dead Combo contou apenas com três canções, que acabaram por ser aquelas em que o público menos vibrou. A pouca presença em palco de Mark Lanegan traiu, mais uma vez, as expectativas depositadas no músico, que em 2015 também não correspondeu ao hype.

Big Thief atuou ao início da noite, também no palco principal. A banda encabeçada por Adrianne Lenker fez a sua estreia em solo nacional sem o guitarrista Buck Meek. Contudo, o sentimento cru das canções da banda continuou presente e aos poucos acabou por ir conquistando um público que guardava lugar para os Arcade Fire.

Abriram com “Shark Smile”. Adrianne mostrou-se um pouco intimidade pela audiência que tinha perante ela. “Acho que nunca tivemos tanta gente a ver-nos”, confessou a artista. Numa das primeiras intervenções perguntou se alguém se lembrava de ter nascido, o que causou um grande burburinho no público, que ficou espantado com a pergunta da artista. “Se alguém se lembrar de ter nascido, mandem-nos email”, rematou a artista. No final, não conteve as lágrimas de ter tocado para tanta gente. “Muito obrigada pela noite incrível”.

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Hélio Carvalho/ComUM

Ao início da noite, Silva encheu o palco Vodafone FM para um concerto muito bem-recebido pelo público. Mais tarde, Yasmine Hamdan trouxe o álbum “Al Jamilat” de 2017 para um concerto muito energético. A artista libanesa não parava de dançar em palco e acabou por contagiar quem a via.

De tarde, Miles Sanko abriu o palco principal. Cantou sobre amor e deu muito amor a Coura, que retribuiu na mesma moeda. No palco secundário, os barcelenses Dear Telephone trouxeram “Cut” a Coura. Apesar da plateia tímida, os músicos não desanimaram e a sua música acabou por atrair mais gente ao placo Vodafone FM, à medida que o tempo avançava.

Antes dos Dear Telephone, os também portugueses Keep Razor Sharp abriram o palco com muito rock e muita potência. Curtis Harding atuou no palco principal depois de Miles Sanko. O músico recebeu a maior enchente de um concerto àquela hora. Na relva, até ao topo do monte, as pessoas sentavam-se e assistiam ao concerto do músico americano. Apesar de muitos esperarem Arcade Fire, a energia soul de Curtis conquistou o público que se desprendia para dançar as canções do músico.

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Hélio Carvalho/ComUM

Destaque ainda para o After Hours que contou os bracarenses Ermo, que atuaram logo depois de Arcade Fire (com um concerto mais curto devido ao prolongamento dos canadianos).

A vigésima sexta edição do Paredes de Coura terminou. Para a organização, a edição de 2018 do festival Paredes de Coura foi considerada um sucesso. O festival contou com cerca de 100 mil pessoas, repartidas pelos quatro dias, sendo a maior enchente registada no último dia, com cerca de 27 mil pessoas. João Carvalho revelou ainda que 2018 foi o ano em que ocorreram menos assistências médicas e em que taxa de conforto e recomendação do festival aumentou.

A edição do Paredes de Coura do próximo ano realizar-se-á nos dias 14, 15, 16 e 17 de agosto.