O projeto Galo Cant'às Duas, de Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre, passou pela primeira vez em Paredes de Coura, atuando no passado dia 16 no palco Jazz na Relva.

O Galo Cant’às Duas nasceu de uma noite de improviso de Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre. A primeira experiência correu bem e os dois amigos abraçaram o projeto. No passado dia 16 de agosto, passaram na praia fluvial do Taboão para atuar no palco Jazz na Relva, do Festival Paredes de Coura.

O ComUM conversou com Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre sobre a música da banda e a experiência a tocar no festival minhoto.

(Pode ler a cobertura do ComUM ao Vodafone Paredes de Coura aqui)

ComUM: Esta é a vossa primeira vez no festival a tocar. Como é que receberam a notícia que vinham tocar ao festival?

Galo Cant’às Duas: Epá, que boa pergunta. Como é que recebemos… Basicamente, nós depois de fazermos o disco, fizemos muitos clubes e andamos por aí a tocar em alguns festivais e conhecemos a estrada. E também por estarmos muito ligados ao Carmo 81, em Viseu, conhecemos uma pessoa muito especial para nós que é o Victor Butuc. Gostamos muito dele, é uma pessoa incrível com uma energia brutal. ‘Tuc’ é Groove, mesmo. É o baterista dos Lemon Lovers e é um querido, uma jóia de pessoa e nós criamos um grande laço com ele. Fomos falando com ele. Quando lançamos o disco não viemos cá, nesse ano, ou seja no ano passado não viemos, mas fomos sempre tentando vir cá, não é? E há outro festival que eu não vou dizer, mas Coura era, sem dúvida, um festival onde queríamos estar e partilhar a nossa música, e foi com o ’Tuc’ que falamos. Contudo a pergunta foi, como recebemos a notícia que vínhamos tocar. Foi ótimo, foi com um abraço do Butuc. Fomos tocar aos Maus Hábitos. Aí já sabíamos, mas foi a confirmação oficial. Foi incrível, foi aquela cena: “Vais tocar em Coura”.

galo cantas duas

Hélio Carvalho/ComUM

ComUM: Nos Maus Hábitos foi no Salgado Fest?

Galo Cant’às Duas: Tocamos na festa do Salgado, sim, mas dessa vez foi uma tour que fizemos com os Lazy Faithful e os Can Cun, fizemos aí umas seis datas e o Maus Hábitos fez parte da estrada e foi nessa altura.

 

ComUM: A vossa música tem um travo de improviso e muito na onda do jazz improvisado. Como é que começaram a tocar juntos?

Hugo: Nós conhecemo-nos com outra banda que não chegamos a fazer nada e fazíamos parte de uma organização do encontro de artes. Houve uma noite em que o músico que ia lá tocar não apareceu, e liguei ao Gonçalo . porque o Gonçalo era o técnico de som do festival – e nós dissemos: “pá, men, nós estamos aí, vamos tocar”. E pronto, fomos tocar, improvisação máxima, 100%. E pá, correu bueda bem, e a partir daí dissemos: “isto tem potencial, meu, okay”. Na altura, o Gonçalo estava com as coisas dele, eu estava com as minhas. Estava em Lisboa e decidi ir para Viseu e foi aí o culminar das coisas. Fomos para estúdio compôr “Os anjos também cantam”, que é o nosso primeiro disco.

 

ComUM: Acabaram de atuar no rio. Como correu a experiência?

Gonçalo: Epá, é ótimo. É um spot super cozy e para este disco faz bué sentido nós tocarmos num espaço assim. Foi ótimo. Recebemos alta energia do público e divertimo-nos e curtimos. E é o que é necessário para um anjo ficar de coração cheio.

galo cantas duas

Hélio Carvalho/ComUM

ComUM: Ambicionam tocar dentro do recinto?

Galo Cant’às Duas: Para o ano. Está confirmado. (risos)

ComUM: Mas com um segundo álbum?

Galo Cant’às Duas: Com um segundo álbum, ya.

ComUM: Já estão a prepará-lo?

Galo Cant’às Duas: Vamos gravar no final do mês. E é o que temos falado com a malta: a nossa música vai mudar bastante. “Os anjos também cantam” é a nossa cena, é aquilo que nós estudamos, música clássica com jazz e improvisação, estrutura instrumental, é aquilo que nós temos facilidade em alcançar. Com este disco que estamos a compor agora, este segundo disco, é completamente diferente, no sentido de sair do conforto. Mais vozes, mais mensagem em português, mais beat sem tantos floreados. Vai mudar bué, vamos arriscar. O caminho do Galo é longo. Temos imenso tempo para fazer outras coisas, não fazia sentido continuarmos a seguir a linguagem dos anjos. Não mudou assim tanto, continuamos a ser nós, continua a ser o Hugo e o Gonçalo a tocar, mesmo que haja novos instrumentos, novas coisas, mais voz, somos nós a fazer essa música. É continuar a fazer o caminho e arriscar a fazer coisas novas.

 

ComUM: Têm alguma banda que queiram ver nesta edição de Paredes de Coura?

Galo Cant’às Duas: Ya, claro. Eu vou bater ao mesmo. É uma banda portuguesa que nós adoramos, ouvimos bastante, no sentido (vou criar expectativa antes de dizer o que é, tás a ver?) de inovação, que o primeiro disco deles é uma coisa e o segundo disco foi outra cena que rebentou tudo, que é Ermo. É das cenas que me puxa mais no sentido de inovação, tás a ver? Criaram um estilo, e já os vimos, duas, três vezes. Já nos cruzamos na estrada, eles também já nos viram. Somos manos, há uma cumplicidade muito grande. É engraçado um gajo estar em Coura e dizer que o que mais quer ver é Ermo, que estão a tocar em todo lado. Mas é a banda que mais queremos ver.

galo cantas duas

Hélio Carvalho/ComUM

ComUM: Este ano no recinto principal, tirando o Jazz na Relva e o Sobe à Vila, o Paredes de Coura tem treze nomes de música portuguesa, que é quase um marco. O que acham desta mudança para nomes mais portugueses?

Galo Cant’às Duas: Acho que faz todo o sentido, dentro da direção da música portuguesa. Desde que eu tenho consciência, se calhar é há mais, mas desde que eu tenho consciência, há cinco anos para cá tem havido um boom gigante. Com um bom gosto, com coisas bem feitas, com boas produções, com boas imagens, porque a música por si conta o que conta, não é? E tem de haver o outro lado também. Por isso faz todo o sentido. Não estão a arriscar, apenas é merecido. A malta em Portugal tem andado a trabalhar bué bem e é merecido. E se isso está a acontecer, ainda bem e só tem de acontecer ainda mais, estás a ver?

Há uma geração de pessoas incríveis dos anos 80, que, felizmente para nós, agora cultivaram todo uma, podemos dizer crença na música e que acreditaram que era possível fazer cá aquilo que se faz noutros continentes e noutros países. E isso leva, claramente, a uma emancipação da música portuguesa e nós estamos, claramente, a ver que estamos a exportar música para outros países, para outros continentes e isso deve-se ao trabalho das pessoas que gostam de música, que gostam de fazer música, que gostam de estar com músicos e que trabalham imenso para isso. Se calhar Coura este ano está a destacar-se nesse sentido porque é inevitável. Nós temos imensas boas bandas, bons músicos, coisas muito boas a acontecer no país. E é um país pequeno e é inevitável essa valorização e essa acreditação à música portuguesa. É inevitável, porque só assim conseguimos chegar além fronteiras e ir a outras paragens, outras realidades.