Dois anos depois do sucesso de Puberty 2, Mitski volta à carga com a sua dualidade caraterística, desta vez mais direcionada para um formato narrativo.

Proveniente do Japão, mas partilhando a sua nacionalidade com os Estados Unidos, Mitsuki Laycock, conhecida como Mitski, têm andado a ganhar o seu espaço dentro do Indie Rock, contando com já cinco álbuns ao longo de seis anos.

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Os dois primeiros projetos surgiram quando a artista ainda estudava música e destacaram-se, principalmente, pelo impacto e destreza no equilíbrio dos diversos sons utilizados. Contando com uma sonoridade pesada, com guitarras berrantes, acompanhada por uma presença vocal bastante limpa, mas pujante nos tons mais agressivos, e pela simplicidade harmónica, muitas vezes fornecida pela utilização de piano. Por sua vez, as letras são tão amorosas quanto intimidantes, tratando tudo desde problemas e sucessos românticos a questões de identidade e de independência.

Foi principalmente nestas bases que Mitski construiu os seus posteriores álbuns, evoluindo e permutando, tanto a nível de conteúdo lírico como instrumental. Mas foi preciso esperar até Puberty 2, em 2016, para a artista verdadeiramente assumir um principal destaque na indústria, muito também apoiada pelo single “Your Best American Girl”.

E foi a partir de um trio de singles que se conheceu a direção deste novo álbum, Be The Cowboy, sobre o qual a multi-instrumentalista afirmava apostar numa vertente narrativa como principal caraterística do projeto. Essas faixas foram “Nobody”, “Geyser” e “Two Slow Dancers”.

O projeto foi revelado ao mundo a 17 de agosto, com 14 faixas e um tempo de rodagem semelhante aos projetos anteriores. O seu culpado principal é a grande presença de músicas com menos de três minutos. E enquanto Mitski já mostrou talento para estes pequenos momentos uma ou duas vezes ao longo da carreira, a verdade é que nunca o fez a esta escala.

Nobody” é uma das faixas mais interessantes e que refresca o catálogo sonoro da artista, com um grande destaque para a repetição da palavra nobody, no final da canção, que é intrinsecamente acompanhada pelo instrumental, intensificando a solidão e a tristeza sentida pela artista quando esteve sozinha na Malásia, sem conhecer ninguém, após terminar uma tour.

Mas, também exibindo qualidades vistas no passado, a presença de momentos mais dedicados à exploração lírica pautados suavemente, como a primeira faixa “Geyser”, que faz uso de riffs fortes e repletos de ruído violento, no qual a voz da cantora e a entrega forte primam em conjunto, entregando um clímax satisfatório. O mesmo pode ser dito da última faixa “Two Slow Dancers”, que serve como uma belíssima conclusão do projeto.

Como tal, algumas faixas acabam por parecer quase interlúdios ou transições dispersadas pelo álbum. E, apesar do sucesso em “Old Friend” e na moderadamente intrigante “Lonesome Love”, estas deixam bastante para ser explorado. Este problema é intensificado também na segunda metade do álbum.

Pink In the Night” é uma balada obsessivamente apaixonada que acaba por ser um bom momento do álbum, que pode ser um pouco negado por estar ainda longe da conclusão do álbum. “Washing Machine Heart” apresenta características opostas, sendo dos momentos mais engraçados, quer pela escrita genial, com uso forte de analogias, e um refrão que fica no ouvido. Talvez, por isso, pudesse pertencer ao vigoroso arranque do álbum, com momentos como “Why Didn’t You Stop Me?”, “A Pearl”, “Lonesome Love”, “Remember My Name” e “Me and My Husband”.

Cada uma destas faixas dá uma palestra sobre formas agradáveis e inortodoxas de se abordar temas como o fim de uma relação, a procura por sermos imortalizados ou salvaguardados na mente das pessoas após o fim das nossas vidas ou, até, discutindo a dita “chama” dos casamentos mais duradouros.

Em jeito de conclusão, enquanto há certamente uma grande maturidade da sonoridade de Mitski ao longo do álbum, com a produção a soar mais cuidada e esterilizada que nos projetos anteriores da artista, existe uma certa perda da caótica azáfama sonora que a favorecia em momentos passados. Isso, aliado à necessidade de se limar as arestas de algumas faixas com a introdução de mais conteúdo e riscos, faz com que este álbum talvez possa não chegar às alturas que a artista tem trabalhado para atingir.

Todavia, este álbum está longe de ser um mau projeto, e apresenta, sem dúvida, um passo grande para a artista, sustentado por vários momentos deveras impressionantes.