O festival Paredes de Coura continuou na sexta-feira. O terceiro dia de festival destacou-se pela onda introspetiva de Slowdive, o ativismo das Pussy Riot e a energia de Skepta. Destaque ainda para os concertos de Frankie Cosmos e DIIV.

paredes de coura

Hélio Carvalho/ComUM

A noite estava bem escura quando os Slowdive entraram em palco. Três anos depois, a banda inglesa voltou a Paredes de Coura para tocar à mesma hora e com o mesmo sentimento. Na bagagem, contudo, trazem mais um álbum, o “Slowdive” de 2017.

(Pode ler aqui sobre o primeiro dia e sobre o segundo dia do festival Paredes de Coura)

A banda tocou, como já lhes é bem conhecido. Deixaram a música falar por eles. Os sons que tocavam envolviam a plateia numa paisagem sonora que combina muito bem com o plano inclinado de Coura.

A plateia ondulava e dançava encantado pelo shoegaze da banda. Foram muitos os que vieram de propósito só para ver a banda, que conta com quase trinta anos de carreira. Na multidão, fãs de longa data misturavam-se com fãs mais novos e em harmonia deixavam-se embalar pelo som introspetivo dos Slowdive.

“Catch the Breeze”, “Slomo”, “Souvlaki Space Station” e “Crazy for You” foram algumas das canções que cosntaram no alinhamento dos britânicos. Contudo, “Alison”, “Sugar for the Pill” e “When the Sun hits” foram as canções mais aplaudidas, as que levaram o público a gritar pela banda, a aplaudir freneticamente e até mesmo a cantar. Antes da última canção, Rachel Goswell falou pela primeira vez ao público: “Muito obrigada, vocês foram fantásticos para c******!”

Quando os Slowdive terminaram o seu alinhamento, o público brindou-os com fortes e longos aplausos. Contudo, o final do concerto chegou cedo de mais. Pelas multidões do recinto, muitos festivaleiros comentavam o quanto o concerto tinha voado.

O ambiente antes de Skepta entrar em palco antecipava um grande acontecimento. O público começou a amontoar-se no espaço entre o palco e a régie para ver o rapper inglês. Gritavam o nome dele, chamavam-no a palco.

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E Skepta veio. Chegou cheio de energia e pronto para dar a Coura um grande concerto. “O meu nome é Skepta. Adoro estar aqui com vocês”. O rapper londrino começou cheio de pujança e o público acompanhou a onda do artista. Saltavam, dançavam, gritavam as letras das canções, faziam mosh. A energia estava lá e estava descontrolada. Skepta puxava pelas pessoas, fazia-as saltar e dançar. “Na ponta dos pés, c******”, “dedos do meio em cima”, incentivava ele.

Contudo, os problemas começaram bem rápido. No início do concerto, Skepta pára de cantar e dirige-se às pessoas num tom mais sério: “Não atirem m***** para o palco. Eu entendo a euforia, mas não atirem, senão vou-me embora!”. O concerto prosseguiu com a mesma energia de antes, mas algum tempo depois Skepta sai de palco. A multidão que o via entre o palco e a régie começou a gritar pelo seu regresso. Chegou, então, um aviso oficial em português, a pedir para não atirarem objetos para palco, caso contrário Skepta não continuaria o concerto.

O rapper voltou a palco e continuou a puxar pelo público que, como de antes, respondia com a mesma energia e entusiasmo. “No Security” e “Shutdown” levaram a plateia de Coura à loucura, com saltos frenéticos e danças incansáveis.

Mas os avisos prévios de Skepta não foram embora. O público continuou a atirar coisas para palco e, em “Praise the Lord”, música de A$AP Rocky com Skepta, o rapper nem cantou o seu verso. Saiu de palco, a música foi interrompida e o concerto terminou mais cedo, para desgosto de muitos festivaleiros.

Com o concerto do Skepta a acabar antes do previsto, as pessoas trocaram o palco principal pelo palco Vodafone FM. O After Hours do terceiro dia contou com um dos concertos que mais burburinho gerou na tarde do campismo no Taboão: o espetáculo das Pussy Riot. O concerto do movimento ativista começou com uma projeção dos 25 mandamentos que orientam a ideologia do grupo e explicam a sua missão.

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O palco Vodafone FM mostrou-se demasiado pequeno para aguentar a quantidade de gente que se juntou para ver Nadezhda “Nadya” Tolokonnikova e companhia. Uma multidão encheu por completo o palco até ao caminho para a restauração. “Obrigado por virem! Vocês são tantos”, referiu Nadya no início do espetáculo.

Dedicaram o espetáculo, como não poderia deixar de ser, a causas políticas. A primeira foi a Oleg Sentsov, um político e realizador ucraniano que está em greve de fome devia aos presos políticos ucranianos na Rússia. A segunda foi a duas raparigas que foram presas em março deste ano, por falarem de política e serem acusadas de extremismo. “Esta canção é um conto de fadas, porque as raparigas foram libertadas há dois dias, mas ainda têm acusações e enfrentam até 10 anos de prisão”.

Após 45 minuto de concerto, Nadya agradeceu a noite fantástica que teve e a aderência do público. Na plateia, fortes aplausos agradeciam ao grupo e pediam mais. E as Pussy Riot voltaram para tocar e apresentar mais uma canção.

Ao início da noite, no palco Vodafone FM, Frankie Cosmos fez a sua estreia em solo nacional. Assim que Greta Kline e a sua banda entraram em palco, foram imediatamente recebidos com fortes aplausos.

Abriram com “On the Lips” e assim que a curta canção terminou, a artista ficou sem palavras pela quantidade de pessoas à sua frente. “Não consigo lidar com tanto orgulho do público. Estou assustada”. Mas a artista continuou a tocar e deu um concerto muito bem recebido e muito aplaudido pelo público courense. Da plateia, o público gritava coisas como “nós amamos-te”, “adoro-vos”, “és linda”. Pouco depois do início do concerto, o baterista da banda dirigiu-se público. “Nós amamos Portugal, amamos este festival”, disse Luke Pyenson num português muito percetível, para grande surpresa e alegria do público.

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A banda de Nova Iorque não apresentou uma setlist bem definida. Greta ia dando indicações à banda sobre que músicas tocarem. Tocaram canções do segundo álbum, “Next Thing”, como “Floted in”, “Sinister”, “Outside with the Cuties” e “Fool”, bem como “Apathy”, “Caramelize” e “Jesse”, do mais recente álbum, “Vessel”, lançado em março deste ano.

Antes de terminarem o concerto, Greta voltou a falar ao público, com uma voz ainda tímida: “este é o único festival em que podemos tocar músicas calmas, porque vocês são tão calados. Obrigado!”. Acabaram o concerto com “Leonie” e foram acariciados com uma forte salva de palmas, que continuou enquanto a banda ia arrumando os seus instrumentos.

Os DIIV voaram de Los Angeles de propósito para tocarem no festival Paredes de Coura. A banda liderada por Zachary Cole Smith não tocava em Portugal há cinco anos. “É bom estar de volta”. Pouco tempo depois do início do concerto, Zach partiu uma corda da guitarra, o que causou uma paragem longa no concerto. Contudo, o público continuou com a banda.

“Já lá vai o tempo em que fomos populares. Vamos fazer DIIV fixe de novo!”, brincou o guitarrista e vocalista numa alusão ao slogan da campanha presidencial de Donald Trump. A boa-disposição e energia dos elementos conquistaram a plateia que se ia entretendo a ver os quatro amigos a se divertirem, a picar-se em palco e a brincar com os patrocínios no recinto.

“Oh, m****. Vocês estão prestes a ver Slowdive! Esta é a nossa maior plateia, muito obrigado”, disse entusiasmado o guitarrista antes de terminarem o concerto, o que provocou uma onda de aplausos para a banda.

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Hélio Carvalho/ComUM

De tarde, os smartini abriram o palco Vodafone FM. A banda das Taipas tocou para uma audiência bem composta e com um som muito mexido o que provocou uma onda de dança e alguns festivaleiros a fazer headbanging. No mesmo palco, seguiram-se os Imarhan. A banda argelina conquistou rapidamente o público courense com riffs cheios de energia que provocaram uma grande dança no Vodafone FM.

Lucy Dacus abriu o palco principal. A artista norte-americana criou um início de tarde com alturas calmas, e outras mexidas, que geraram um grande sentimento de alegria e boa disposição no público. Já Kevin Morby, que se seguiu no palco maior do recinto, adora Portugal e fez questão de o dizer no concerto em Paredes de Coura. Antes de ir atuar no próprio concerto, o músico norte-americano sentou-se na relva a apreciar Lucy Dacus. Vestido com um macacão azul, Kevin começou o concerto com “City Music” para uma plateia grande para um final de tarde que esperava folk rock do músico.

De noite, os …And You Will Know Us By The Trail Of Dead regressaram passados sete anos a Paredes de Coura. Levaram muita energia ao palco Vodafone FM e ainda provocaram um pequeno mosh na plateia.

O festival Paredes de Coura termina este sábado com o nome maior do festival, Arcade Fire, além de Big Thief, os barcelenses Dear Telefone, Silva, Yasmine Hamdan, Curtis Harding e os bracarenses Ermo.