O dia 16 do festival Paredes de Coura contou com a presença de Surma. O projeto a solo da portuguesa Débora Umbelino fechou o palco Vodafone FM naquele dia, e antes do concerto, a artista mostrou-se nervosa mas contente com a oportunidade.
Débora Umbelino é o nome por detrás do projeto Surma. A artista portuguesa atuou na passada sexta-feira, no segundo dia do festival Vodafone Paredes de Coura. No concerto das 22h20 no palco Vodafone FM, Débora não se deixou vencer pelos nervos e conquistou o público courense.
O ComUM esteve à conversa com a artista antes do concerto que encheu o palco secundário de Paredes de Coura.
ComUM: Quando entrevistamos o João Carvalho e disse que já cá devias ter tocado…
Surma: A sério? Wow, pá. João. É o maior.
ComUM: Como recebeste a notícia que vinhas cá tocar?
Surma: Eu fiquei histérica da vida. Já sou uma festivaleira assídua de Paredes de Coura já há alguns anos e, sei lá, acampava, trazia um grupo grande de amigos, estávamos sempre no rio e o cartaz está sempre incrível. E quando recebi a notícia que ia tocar no Paredes de Coura, no palco secundário, ainda por cima à hora que é, fiquei acima de tudo cheia de medo e a tremer por todo o lado. Pensei “ok, vou preparar uma coisas mesmo on purpose e mesmo para agradecer ao João, vai ser uma coisa mesmo diferente”. E fiquei felicíssima. Foi dos melhores convites que eu recebi até hoje. É Coura.
(Pode ler sobre o segundo dia do Vodafone Paredes de Coura aqui)
ComUM: Quando estás em palco és uma pessoa muito concentrada, mas ao mesmo tempo preocupas-te muito com as pessoas. Queres que as pessoas dancem, pedes moshs. Achas que é importante contruir-se essa relação entre quem está em palco e quem está a ver?
Surma: Sem dúvida. Lá está, eu vejo muitos concertos e quando o artista não cria aquela ligação pessoal eu fico “ok, é fixe, tudo bem, é a cena dele”, mas eu gosto sempre que haja uma coisa pessoal à volta do artista e do público. Se não fosse o público, nós não estávamos onde estamos hoje e acho que é muito graças às pessoas que eu estou onde estou, e o mínimo que posso fazer é tentar puxar por elas e tentar falar com elas o máximo possível, e eu tento fazer isso, sempre. Deito-me às 5h da manhã a responder à malta e isso é muito importante, mesmo, para o teu crescimento.
ComUM: O teu primeiro álbum, “Antwerpen“, saiu no final do ano passado e foi muito bem-recebido. Estavas à espera que fosse tão bem-recebido?
Surma: Zero. Zero. Até tive de ser expulsa do estúdio. Estava a fritar muito com as músicas porque eu não queria lançar o álbum. Estava com muito medo. Até foi o Hugo que disse: “não, vamos lançar e ver no que é que dá”. E a malta da Casota disse: “opá, Débora, vai daqui embora uma semana e volta”, porque estava sempre a dizer, “esta música não está boa, esta música não está nada feita”. E estava com muito medo da reação da malta, porque eu decidi arriscar um bocadinho ao nível de não ter letra, em termos de sons feitos na hora e foi totalmente o oposto. Assim que saiu o álbum foi uma confusão boa, muito boa mesmo e tive muita sorte.
ComUM: Também foste ao South by Southwest. Como é que foste parar lá?
Surma: Lá está. O Hugo mandou uma apply e naquilo as bandas mandam uma candidatura para ver se é aceite ou não pela organização. Mandamos a apply, em junho ou julho, e para aí em outubro recebemos um email da organização a dizer que fomos aceites entre duas mil e tal bandas. Eu caí, literalmente, da cadeira. Chorei baba e ranho nesse dia de felicidade. Um dos meus objetivos era tocar na América. Ainda por cima no festival que é, uma montra enorme, com todos os tubarões das editoras lá no meio. Foi mesmo incrível. Incrível.
ComUM: Já que estamos na América, a St. Vincent é uma grande inspiração tua.
Surma: É a minha deusa.
ComUM: Podes explicar um pouco isso? O que te atrai na St. Vincent?
Surma: Epá, tudo. Descobri a St. Vincent quando tinha 12 anos. Foi muito por causa dela que eu aprendi a tocar guitarra e piano e todas as coisas das loop stations, foi muito por causa dela que eu entrei mais “deep” em relação a experimentações e loop stations e eletrónica. E foi muito graças a ela que eu comecei a ir por essa onda. Porque se não fosse ela, estava a cantar country a esta hora. São as minhas raízes puras. Mas assim que a descobri fiquei: “esta mulher, quero ser como ela quando for grande”. E sim, é a minha maior influência desde os meus 12 anos e acho que será sempre a minha grande influência. Incrível, uma génia.
ComUM: Aprendeste a tocar guitarra por causa dela e agora tens uma guitarra que é o modelo dela…
Surma: Que foi uma prenda do Hugo, lá está. Penda do patrão. Foi a melhor prenda que recebi até hoje. Eu fiquei sem reação quando vi a guitarra, ya. Até tenho medo de a levar para os concertos. Foi mesmo: “wow, é incrível, é incrível, é incrível”. Mesmo fixe.
ComUM: Antes de teres um projeto a solo, tocaste numa banda, não foi?
Surma: Sim. Toquei em duas bandas, mas sempre com os mesmos membros. E tenho uma reação muito boa ainda com eles. Começamos com uma banda de covers de muita rockalhada, eu sou muito do rock e do country, que não tem nada a ver com a música que eu faço. Comecei com uma banda de covers de The Doors, Led Zeppelin, cenas mais pesadas, e passados três anos com essa banda fomos para os originais. Tinha para aí uns 16 anos e decidi sair da banda porque, lá está, estava em Lisboa e ensaios e toda aquela logística toda. E também acho que cada um cria um caminho diferente, e decidi seguir um caminho mais experimental e continuamos amigos na mesma. Mas foi um bocado por aí, saí da banda e decidi: “ok, vou fazer uma coisa um bocado frita a ver no que é que dá”.
ComUM: Tens mais algum concerto planeado para fora do país?
Surma: Para fora… Hugo, ajuda, concertos para fora?
Hugo: Concertos para fora, assim de repente…
Surma: Viena.
Hugo: Viena, um festival em Berlim, um festival em França, Islândia.
Surma: Islândia! Como é que eu não me lembrei da Islândia?
Hugo: Brasil quase a fechar.
Surma: Vai ser uma no animado, vai ser fixe. Vai ser um ano muito fixe!
ComUM: Tens algum palco que gostarias de pisar?
Surma: Lollapalooza. Adorava!
ComUM: Sobre Coura e as bandas portuguesas. Este ano, Coura tem treze nomes de música portuguesa…
Surma: Está incrível, sim, sim.
ComUM: Como é que achas que isto aconteceu?
Surma: Epá, eu acho que Portugal tem crescido de uma maneira incrível, sei lá, de há 3 anos para cá. Eu estou muito contente por estar nesta geração, sinceramente. Lá está, FUGLY são uma das minhas bandas favoritas até agora, têm uma energia, um rock incrível. Também Grandfather’s House. Acho que temos tanta boa música, música tão eclética que acho que sei lá, o João [Carvalho] apostou mesmo muito bem nos nomes tugas. E acho que se nos juntarmos todos, damos uma abadazinha aí à malta internacional, o que é muito fixe. Está-se a criar um nicho muito incrível, o que é muito fixe. Estamos a ficar muito fortes em Portugal. Não há competitividades de ninguém e acho que isso nos torna muito fortes. É muito fixe.
ComUM: Tens algum nome do cartaz deste ano que queiras mesmo ver?
Surma: The Blaze era uma das bandas que queria ver muito e foi incrível, ontem (dia 15 do festival). Quero muito ver Big Thief, acho que é das minhas maiores grandes apostas neste cartaz. Mas quero ver tudo. Eu ontem vi tudo. Fui para o mosh de King Gizzard & The Lizard Wizard e foi incrível. Gostava de ver um bocadinho de FUGLY, mas ya. Não, não é por vocês [aponta para o palco secundário onde estão a atuar os portuenses], ainda vou ter mais [entrevistas], não vai dar, não vou conseguir. Mas sim, vou ver tudo, de certeza.
ComUM: O que esperas do concerto?
Surma: Espero que as pessoas apaguem mesmo e que venham comigo na viagem. E mosh e crowdsurfing. Sei que é um bocado deprimente, mas ya, ‘borá’ lá. Muito crowdsurfing na Surma.