Publicado pela editora Manufactura, o novo livro do escritor bracarense é uma obra que se foca na experiência mundana de pessoas comuns num ambiente conturbado.

O escritor Luís Novais apresentou em Braga, no passado sábado, o seu mais recente romance “Ontem, Israel”. A sessão, decorrida no jardim da Livraria Centésima Página, contou com a apresentação de José Miguel Braga.

A obra de ficção acompanha o quotidiano de várias personagens em Israel, com uma narrativa que se desenrola ao compasso de um dia na vida de pessoas comuns. No livro é caraterizado um país em tumulto, em que os seus habitantes levam uma existência num mundo complexo que oscila entre a calma e a agitação. “A questão do medo atravessa a obra do princípio ao fim, mas os heróis não existem sem medo”, constatou José Miguel Braga, que referiu o espaço onde decorre a obra como um local onde “há guerra e atentados, mas também existem encontros e paixões.”

Para José Miguel Braga, o livro reforça a ideia de uma dualidade entre o que por cá sabemos de Israel pelos meios de comunicação e o que de facto decorre no quotidiano das pessoas que lá vivem. Com o foco da obra debruçado nos momentos mundanos das personagens, o académico destacou “a escrita ousada e criativa”, em que o autor enveredou na atenção aos detalhes e aos objetos comuns. Como Luís Novais viveu por um certo período em Israel, o professor notou que a sua experiência pessoal poderia levar a uma crónica ou um diário, mas o teor imaginário levou a que o livro se formasse em romance.

Luís Novais descreve a escrita de ficção como “um espaço de liberdade” e “um ato de autoconhecimento”, contando que os livros lhe surgem “como uma intuição” e que a atividade é um dos seus modos de lidar com as dificuldades da vida adulta. O escritor refere que existe uma progressão na sua obra literária, pois compreende o que o levou a escrever cada um dos seus livros.

Sobre esta obra, Luís Novais confessou que a escreveu “para demonstrar como agimos e nos submetemos ao medo que nos é incutido”. O que torna Israel “uma grande metáfora”. Numa sociedade israelita oprimida pelas divisões entre as diásporas judaicas e árabes, “as personagens deste livro libertaram-se desta opressão pela sua escolha individual”. O autor nascido em Braga acrescenta que as personagens “não mudaram a história, mas mudaram a sua vida”.

José Miguel Braga denotou como esta divisão é desmistificada pelo livro, pois existem diversas ramificações e cada pessoa tem a sua individualidade. “Não há uma unidade israelita e uma unidade árabe, há cumplicidades e há conivências”, explanou. O professor enalteceu a coragem do autor em escrever um romance que confronta as realidades desse país, notando que esta “é uma história que divide”.