Jão entrega-nos a sua perspetiva sobre a vida, o amor e a liberdade, conceitos que, pelo menos uma vez na vida, já nos assaltaram a mente. Isto permite que o projeto se torne num diário, em formato áudio, com o qual todos nós nos podemos relacionar.
Este é o primeiro álbum de Jão, compositor e coprodutor do projeto, em parceria com Pedro Tófani. Iniciou a carreira a fazer covers para a Internet, surpreendendo os fãs ao lançar, em 2017, os primeiros singles originais, “Ressaca” e “Álcool”.
Lobos, o primeiro álbum do artista, foi lançado a 17 de agosto de 2018 e, segundo o artista, é um projeto autobiográfico e de autoaceitação: “Percebi e aceitei que tudo aquilo que tinha medo de mostrar fazia parte de quem eu era”.
O primeiro single do álbum, “Imaturo”, lançado a 23 de janeiro, antecipava essa realidade. A música inicia-se com a voz de uma criança a dizer “Eu gosto muito de você, tchau”, dando, juntamente com o título, mote para a temática em exploração, a imaturidade vivida por todos nós, incluindo o artista, nos relacionamentos.
“Quando eu terminei de escrever “Imaturo”, vieram-me à cabeça várias imagens (…) a minha dificuldade em falar às pessoas que eu gostava delas”, explicou o artista numa entrevista. Por outro lado, a canção também demonstra uma necessidade de não ver esta situação pelo lado negativo e a tentativa de “aliviar um pouco essa obrigação de sermos super maduros e racionais com uma coisa tão subjetiva e libertadora que é gostar de alguém”.
A temática do amor prevalece no álbum com as canções “Lobos”, “Me Beija com Raiva”, “Lindo Demais” e “Aqui”, abordadas de formas completamente distintas. Lobos reflete sobre o desprendimento emocional, “Eu vou morrer sozinho, se continuar nesse caminho, de não deixar ninguém me amar”, abordando-o quase que com indiferença na forma como a frase “Eu vou morrer sozinho” é dita ao longo da música. “Me Beija Com Raiva” vem contrapor essa falta emocional, exaltando o sentimento, “Sei lá se esse é nosso último segundo, então me beija com raiva”, retratando uma típica discussão de casal e o medo de perda. “Lindo Demais” trata de uma relação parecida à de Romeu/Julieta, o amor impossível que sobrepõe todos os obstáculos: “O seu pai me odeia, e o mundo odeia o nosso amor (…), porra, a gente se ama, isso é lindo demais!”.
Por fim, merecendo destaque, encontra-se “Aqui”, música que conta com a participação do português Diogo Piçarra, correspondendo à única participação especial do disco. A junção das vozes dos dois artistas leva a que a música apresente uma perspetiva menos radical sobre um relacionamento falhado, como se ao estarem envolvidas duas pessoas diferentes, representasse, metaforicamente, que este é um momento frequente, vivido por todos. Para além disso, também demonstra que o fim de uma relação não corresponde ao fim do mundo e que, por esse motivo, não deve ser vivido com tanta raiva: “Não há mais tempo para se enfurecer”.
Nas restantes músicas, outras temáticas são abordadas pelo artista, como a inveja e a luta pela liberdade. Relativamente à inveja, encontra-se presente em “Lobos” e “Eu Quero Ser Como Você” que corresponde à música mais sincera do álbum. Retrata uma constante busca por aprender a lidar com a vida e com todos aqueles obstáculos que aparentemente nos poderiam destruir: “Eu queria ser como você”, (…) eu sou daqueles, que se desfaz, com todos os finais”.
Lobos, como álbum, vem trazer ao público, cerca de 30 minutos de música com o qual todas as pessoas se conseguem identificar. Independentemente de nos identificarmos, ou não, com o álbum na totalidade, a letra e o ritmo das canções ficam no ouvido. Por isso, surtirá sempre um balbuciar ou um bater de pé quando se ouve este projeto.