O primeiro filme de terror alguma vez feito não foi um filme. Publicado em 1896 pela mão do francês Georges Méliès tem a forma de uma curta metragem de nome Le Manoir du diable (A Mansão do Diabo). Seguiram-se, mais tarde, obras como Drácula e Frankenstein, que estão também na origem do terror na história do cinema e contribuíram para a sua génese. O Halloween, muitos concordarão, figura-se como a data perfeita para a homenagem do género. Mas a verdade é que além de terror no seu estado puro e original, o 31 de outubro acabou por inspirar a criação de toda uma subcategoria peculiar de cinema.

A selecção que hoje apresento não ambiciona ser representativa dos melhores filmes de terror de todos os tempos ou sequer dos filmes mais assustadores de todos os tempos. Pretende apenas ser a receita perfeita para o estabelecimento de uma atmosfera paranormal em noite de Halloween. Consumir com um grupo de amigos em formato maratona, sem moderação.

Halloween

Halloween (1976) – Ainda sobrevive depois de todos estes anos. É um clássico, ou, talvez, O clássico de Halloween. Jonh Carpenter popularizou os filmes de terror com a criação desta fórmula simples e inteligente, que viria a ser replicada anos a fio. Halloween entrega ao espectador a dose perfeita de suspense e horror. Sofremos durante o tempo todo pelas personagens e as emoções ficam à flor da pele. Como o nome pode indicar, tem tudo o que o 31 pode pedir.

Psycho

Pscycho (1960) – Alfred Hitchcock deu ao mundo um thriller intemporal repleto de choques visuais e surpresas nunca antes pensadas pelo cinema. Uma das actrizes principais morre nos primeiros 20 minutos do filme na clássica cena do chuveiro que, por si só, é justificadora do brilhantismo atribuído à obra. Escusado será dizer que há sangue suficiente no ecrã para satisfazer o mais exigente espectador do género. O trabalho de câmara é genial no contributo para o suspense e os atores são exímios na performance. Não há um único ingrediente que falte.

Trick n Treat

Trick n’ Treat (2007) – Uma antologia de histórias de terror que acontecem em noite de Halloween. Assustador não será o adjectivo melhor para o descrever. Apetece antes falar numa mistura de horror e humor que de alguma forma se combinam num argumento entrelaçado de forma interessante. Beneficia ainda pela concretização visual. Há um especial cuidado na composição de cada frame, o que torna Trick n’ Treat especialmente agradável ao olhar. A direcção de Michael Dougherty quase nos consegue fazer voltar à infância e assistir ao filme como se tivéssemos cinco anos; tal é a composição da obra em ecrã, com todo o charme do que tipicamente associamos às memórias de Halloween.

harry potter

Harry Potter  (2001) – Lançada a estranheza, aqui vem a justificação: não é de todo terror, mas é suficientemente Halloween. Todo o universo mágico criado por J. K. Rowling não encontrou até à data equivalente em criatividade. O que mais tem de positivo é a capacidade de nos seduzir para o seu mundo, tão charmoso como detalhadamente fantástico, do qual todos desejávamos poder fazer parte. Para além disso, a saga Harry Potter é toda uma maratona em si mesma, o que se traduz em mais filmes para ver. E, quem já os devorou e quer devorar outra vez, encontra no Halloween a desculpa mais do que perfeita.

Get Out

Get Out (2017) – Peele pega num assunto delicado como o racismo e trata-o de uma forma artisticamente inovadora. Com as suas mensagens satíricas e subtis observações socioculturais, Get Out faz mais do que ser assustador. O argumento será dos mais inteligentes que o género do terror já viu e desafia o espectador em quase cada cena. O elenco de atores como Daniel Kaluuya e Allison Williams é o complemento perfeito. Numa palavra, Get Out é simplesmente intenso.

Frankenstein

Frankenstein (1931) – O filme da personagem icónica que todos conhecem. Explora a linha que separa a genialidade da loucura e, apesar da data que o separa dos dias de hoje, é um dos filmes que mais influenciou o seu género. A performance icónica de Boris Karloff enquanto monstro é razão suficiente para vermos o filme, mas o trabalho de James Whale a manobrar a credulidade do espectador é outro motivo. Para os padrões da actualidade, depois de toda a criatividade horrorífica que lhe procedeu, Frankenstein será mais encantador do que assustador. Não deixa de ser, por isso mesmo, encantador.

Paranormal activity

Paranormal Activity (2009) – É o seu ar de filme caseiro que o torna em tudo credível e, por isso, muito mais assustador. Explora uma casa assombrada e entrega todo o suspense e horror que seria exigido. Muitos momentos do filme são de espera e de silêncio e, de alguma forma, isso consegue ser mais arrepiante do que elaborados efeitos especiais. Se o virmos em casa, há probabilidade de começarmos a imaginar portas a ranger e sombras a passar.

scream

Scream (1996)O filme ideal, não só para quem gosta de filmes de terror, como para quem gosta de bons filmes em geral. Outra obra inteligente com diálogos à medida, perfeitamente assustadora e que entrega ao espectador todos os arrepios que promete. Vai além de clichés e reinventa o género com um argumento diferente e original. O elenco é exímio nas atuações e o fim é chocante o suficiente para satisfazer.

O estranho mundo de Jack

O estranho mundo de Jack (1997) – O único filme de animação desta lista. O estranho mundo de Jack, assim traduzido do inglês Nightmare Before Christmas, tem todo um universo próprio e inconvencional que possui tanto de encantador como de Halloweenesco. Feito em stop motion com as músicas de Danny Elfman, é uma pequena obra de charme grotesco. Tim Burton, que nos presenteou com tão bom cinema, talvez nunca tenha feito um filme tão capaz de captar a nossa imaginação como este.

Don’t look under the bed (1999) – Numa clara homenagem à infância da geração de 90, Don’t look under the bed está nesta lista a representar todos os spooky movies que o Disney Channel criou para o Halloween.  Não sendo o terror que impressionará um adulto, é fácil reconhecer em Don’t look under the bed os ingredientes que assombraram os pesadelos de toda uma geração de crianças. Tem bonecas possuídas, rastejos no chão e coisas a sair de espelhos. No fim acaba tudo bem (porque é a Disney), mas a atmosfera que é pedida pela ocasião não podia estar mais patente.