A nova temporada de American Horror Story (AHS), com cinco episódios estreados até à data, é um retorno às origens da série antológica e uma crítica do presente que se projeta no futuro.
Quando falamos do Apocalipse penso que nunca imaginamos a destruição total da Humanidade. Muitos de nós diriam que, por esta altura, já devem existir naves espaciais capazes de nos levar para uma qualquer estação espacial onde ficaríamos a viver ou uma cidade completa e autossustentável, construída por baixo dos nossos próprios pés. Mas quem seriam os escolhidos para habitar nesses lugares? Com certeza, a maioria de nós responderia: os mais inteligentes e os mais ricos.
É assente nesta ideia que a oitava temporada da série criada por Ryan Murphy e Brad Falchuk se inicia. De repente, um dia normal revela-se o dia do fim do mundo, quando todas as personagens recebem uma mensagem no telemóvel a alertá-las de que um míssil nuclear irá atingir a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos da América, e o telejornal anuncia que vários outros mísseis já atingiram outras importantes cidades do mundo.
A temporada, um crossover entre a primeira (Murder House) e a terceira (Coven) da mesma série televisiva, transporta-nos para um abrigo nuclear subterrâneo, gerido por Ms. Venable (uma nova personagem de Sarah Paulson, que respira uma completa imagem vitoriana), onde estão alojados alguns dos sobreviventes da catástrofe e introduz algumas personagens novas, uma, em particular, que nos deixa a pensar: Michael Langdon (Cody Fern). Este novo (ou não?) elemento central poderá partilhar com Tate Langdon, o infame paciente da personagem de Dylan McDermott na primeira temporada, mais do que o sobrenome.
Na minha opinião, AHS volta a não dececionar na sua inerente crítica social, constante e presente através das suas personagens, dos seus diálogos e dos acontecimentos de cada episódio. A confirmação de que no limbo entre a destruição e a sobrevivência da Humanidade acontece precisamente o que foi dito no primeiro parágrafo é, só em si, uma crítica.
Mas esta não fica por aqui: são também abordados temas atuais como a influência das redes sociais e da internet no quotidiano das pessoas e as suas consequências a longo prazo, a homossexualidade, as posições relativas de homens e mulheres na sociedade e é, até, questionada a natureza do comportamento humano em situações de adversidade, num brilhante comentário da personagem de Cody Fern: “…todas as pessoas, debaixo das pressões certas e dos estímulos adequados, são malvadas filhas da mãe”. Até Mark Zuckerberg é mencionado porque, à semelhança do que aconteceu, visivelmente, na temporada anterior (mas tem acontecido desde sempre na série), o horror baseia-se, para além de no imaginário e na hipérbole dos nossos receios, naquilo que é real, está presente e nos rodeia.
O argumento desta nova temporada apresenta “plot twists” interessantes, embora alguns relativamente espectáveis. Os diálogos são fortes, de palavras cortantes, e de curtas interações que deixam o espectador atento.
Mas a série impressiona, em grande parte, pela edição, pela estética e pelos cenários. Desde sempre que AHS consegue provocar no espectador aquilo que pretende: um certo desconforto, espectativa e confusão. Embora isto seja sempre mais visível e bem conseguido ou, talvez, simplesmente mais evidente numas temporadas do que noutras, nesta a câmara volta a fazer uso de cenários pouco iluminados, tal como na temporada 2 (Asylum) e de corredores e locais simétricos, como na temporada 5 (Hotel), para nos dar a sensação de que estamos, tal como as personagens, presos debaixo da Terra.
Outro aspeto de grande interesse, e que já foi brevemente mencionado, é a temática vitoriana que a série adota no mundo subterrâneo criado, com fatos nucleares manifestamente inspirados pelas memoráveis fardas dos médicos da peste do séc. XVIII, com os vestidos rendados de Ms. Venable, com a carroça puxada a cavalo que nos traz para a tela uma das personagens cruciais para o enredo. Será isto tudo uma crítica, também, à revolução industrial, como berço de vários males, ou uma revivência do fascínio e medo da sociedade vitoriana pela morte, pela pestilência e pelo terror que permanece plantado dentro de nós, embora não tão evidenciado, e renasce sob a forma destas figuras?
A temporada traz-nos também de volta algumas localizações icónicas da série, como a mansão que acolhe a Academia de Miss Robichaux em Nova Orleães (temporada 3) e a própria “murder house” (temporada 1). Traz também o retorno da participação de Stevie Nicks e um momento musical exclusivo nos primeiros cinco episódios.
AHS sempre teve um cuidado excecional com a sua banda sonora e efeitos sonoros. Isso revela-se, mais uma vez, nos sons que acompanham os momentos que nos deixam expectantes, e na banda sonora cujas músicas se relacionam intimamente com a cena que acompanham. E, como não poderia deixar de ser, na sequência de abertura, que é sempre uma composição difícil de ignorar.
Por fim, mas não menos importante, é de destacar o regresso de atores que já fazem parte da “família”, e que regressam, mais uma vez, com prestações que não deixam de cativar e, até, múltiplas personagens, como é o caso, por exemplo, mas não só, dos atores Evan Peters e Sarah Paulson. Regressam Kathy Bates, Taissa Farmiga, Lily Rabe, Emma Roberts, Adina Porter, Frances Conroy e muitos outros atores que já vimos no ecrã anteriormente. Jessica Lange também parece estar de volta, mas apenas iremos descobrir neste próximo episódio.
Novos atores surgem também, como Joan Collins, Cody Fern, Billy Porter e muitos outros, que já enriqueceram a “família” apesar da ainda curta participação.
O próximo episódio estreia hoje, quinta-feira, 18 de Outubro, e vai, com certeza, esclarecer algumas dúvidas e levantar mais questões. O nome? “Return to the Murder House”.
Título Original: American Horror Story: Apocalypse
Criadores: Ryan Murphy e Brad Falchuk
Elenco: Evan Peters, Sarah Paulson, Lily Rabe, Frances Conroy, Jessica Lange
EUA
2018