Na terceira noite da Receção ao Caloiro, foi a vez de Bezegol subir ao palco do Multiusos de Guimarães, onde uniu centenas de estudantes num concerto forte e caloroso.
Em dia de feriado e num espetáculo onde os mais fiéis se juntaram e cantaram em uníssono músicas como “Maria”, “Rainha Sem Coroa” e “Fora da Lei”, foi com a presença inesperada de Deau que o público partilhou também os temas “Por Cá” e “Diz-me Só”.
Com sinceridade e descontração, foi em entrevista ao ComUM que Bezegol, o artista sem rótulos, conversou sobre a gratidão que tem sentido para com o público e como é bom regressar às origens.
Este verão tem sido repleto de concertos: Viana do Castelo, Chaves, Cortegaça… Como tem sido a reação do público?
Bezegol: Honestamente, tem sido mesmo muito boa, felizmente correu muito bem. Viana foi muito bom, Cortegaça foi fantástico, foi o décimo ano que a gente tocou lá então foi ótimo, apareceu mesmo muita gente, demos um concerto de duas horas! Chaves também foi maravilhoso.
Basicamente, posso aplicar que foram poucos mas foram bons. Também acho que isso é fruto da gente não andar aí a tocar obsessivamente em todo o lado porque também acho que isso acaba por não ser muito produtivo e as pessoas iam dizer “pá, já vi Bezegol três ou quatro vezes, não me apetece ir vê-lo agora, outra vez”. Acho que não tocarmos assim muitos concertos nos dá mais espaço de manobra, para elaborar melhor os gigs, acabando por ter sempre algo de diferente em cada um.
E agora, este regresso ao Minho, recompensou?
Neste caso, ter os universitários a escolherem-nos para vir cá tocar é sempre gratificante. Nós não temos muita publicidade – também não somos muito dados a isso -, não damos muitos concertos então lá está, todos os que damos, sentimo-los e estimamo-los muito, nunca descurámos nenhum concerto. Agora… o norte é sempre mais especial. Tenho muitos amigos aqui em Guimarães e em Braga, cresci aqui, é sempre muito bom vir cá tocar e fico muito agradecido por nos convidarem. Já o ano passado em Braga [Enterro da Gata] foi fantástico, agora aqui… nunca tínhamos sequer vindo ao Multiusos e estou muito agradecido.
Os fãs queixam-se muito que o Bezegol não tem o reconhecimento que merecia ter: é o alcance de uma audiência massiva que o preocupa ou o foco é tocar para quem realmente o escuta?
Bezegol: Seria hipócrita dizer que não gostaria de ter mais público, é claro que gostava de ter mais alcance, mas o que me chateia até nem é ter reconhecimento porque isso até já tenho que sobre. Estou mais que satisfeito com o público. Agora, falando um bocado dos blogs noticiários, davam os nomes das pessoas e não falavam em mim, nem no rodapé, nem sequer mencionavam que nós iríamos estar presentes. Já não é de agora, até em entrevistas de uma hora, me passavam a falar durante 10 ou 15 segundos e “corta!”. Eu toquei nos Aliados no 25 de abril, para algumas 50 mil pessoas. No dia seguinte, noticiaram os concertos no Porto e mostraram um bailarico que houve nas Taipas, uma festa na Batalha e nós, que estávamos a atuar na praça principal do Porto, nada! Começa a ser um bocado flagrante quando, por exemplo, estão 6 nomes num cartaz, dizem os cinco nomes e não tocam no nosso!
Porque é que acha que os media evitam mencionar o seu nome no agendamento noticioso?
Percebe-se claramente que eles têm mesmo problemas connosco e tu sabes que estás a fazer alguma coisa de bem quando tens os media contra ti dessa maneira. A verdade é que nós sabemos da falta de informação que há para aí, que jorra, não é? Com este tempo todo uma pessoa já vê que é um bocado de insistência e não quererem mesmo falar em nós, o que eu acho que acabou por funcionar até em nosso favor. Quem nos conhece já sabe que para ficar a par de onde vamos tocar, mais vale ir à nossa página, porque publicidade em geral não hão de ver muita.
Olhando para trás, de tudo aquilo que construiu, o que é que lhe dá mais orgulho?
Bezegol: Há tanta coisa… Se calhar ainda estar aqui e ainda conseguir ter trabalho para mim e para o pessoal que me acompanha, ter conseguido aumentar a equipa, ter conseguido condições para ensaiarmos, fazermos álbuns e trabalharmos sem nunca termos assinado nenhum papel até hoje. Nisso tenho algum orgulho. Já vamos fazer o quinto álbum, que em princípio sai até ao fim deste ano, e que continua a ser pago com o dinheiro que fazemos dos concertos.
Depois, acho que nem se trata de orgulho, penso que seja mesmo agradecimento ao público, é mesmo verdade. A gente só tem concertos por vossa causa, não é por causa dos nossos lindos olhos, nem é por termos algum promotor em Lisboa a dizer “vais fazer os festivais todos!”, porque a gente também não dá muita conversa a isso. Então… está bom como está! [risos]
Como é saber que a nova geração vê no Bezegol uma fonte de inspiração?
É muito bom saber que eles me ouvem, ainda há bocado estava a falar com o Veloso e eu estava a dizer: “quando acabar, acabou, mas já levo daqui umas boas recordações!”. Ele respondeu-me: “pá, não penses nisso, tu ainda vais andar aí a tocar. Vais ser velhinho e os putos ainda te vão querer ouvir!”. Olhei para ele e aquilo bateu-me, do género: se fosse verdade, era mesmo bom! Nunca sabemos quando vão deixar de nos escutar.
Além de odiar rótulos, o Bezegol é também caracterizado pelas suas firmes visões acerca do mundo. Posto isto, qual a mensagem que tem para deixar à academia minhota?
Mantenham-se o mais atentos possível, porque o sistema está feito para se alimentar a si próprio, não para cuidar do vosso futuro. Não se esqueçam que estamos ao lado de Espanha, onde o ordenado mínimo é muito superior ao nosso. Nós andamos aqui com 600€, quando sabemos perfeitamente que 600€ para vocês, que andam agora a estudar e têm de ir para outras cidades, não vos chega sequer para pagar o quarto e as refeições.
Vocês estão a estudar, vão lidar com um sistema de ensino que já por si é deficiente dadas as inúmeras falhas. Por consequência, temos um sistema de trabalho que também é disfuncional e o que eu queria passar é mesmo isso, mantenham-se atentos, façam barulho!
É preciso perceber porque é que as coisas estão a acontecer e são estas coisas que a geração mais nova, a geração de 2000, tem de fazer! É fazer mais força, cultivarem-se o suficiente para poderem entrar nessa engrenagem e conseguirem desmontá-la.
A Receção ao Caloiro termina este sábado, fechando com chave de ouro com a presença de Wet Bed Gang, Bispo e P*ta da Loucura.