Os britânicos Get the Blessing regressam a Portugal para apresentar “Bristol”, sexto álbum de estúdio do quarteto de jazz.
Na passada noite de quinta-feira, Get the Blessing passaram pelo Pequeno Auditório do Theatro Circo para apresentar o novo trabalho, “Bristol”. Numa atuação marcada pela boa disposição dos músicos, houve espaço para improvisos, solos abundantes e histórias contadas por Jim Barr, baixista do grupo.
De regresso a Portugal para apresentar o novo álbum, Get the Blessing mantém a formação original há 17 anos, ostentando uma irrepreensível legião de fãs a nível internacional. Com Jack McMurchie (Portishead) no saxofone e eletrónica, Pete Judge (three can whale) no trompete e eletrónica, Clive Deamer (Portishead/Radiohead) na bateria e Jim Barr (Portishead/Peter Gabriel) no baixo, o quarteto de jazz-rock britânico enverga uma sonoridade descomprometida, contemporânea e difícil de caracterizar.
O grupo foi pontual e com poucas palavras ocupou o palco do Pequeno Auditório do Theatro Circo. “Bristopia”, sexto disco de estúdio da banda, foi lançado a 21 de setembro e representa a “distopia utópica” de Bristol, cidade-natal do quarteto. “Sunwise”, “The Second Third” e “If It Can It Will” foram algumas das faixas do mais recente trabalho entoadas por Get the Blessing. A destreza técnica da secção rítmica, com Deamer a demonstrar uma versatilidade metronómica e Barr a suportar e guiar o peso harmónico do conjunto, foi inegável. Apesar da plateia sentada, os corredores de cadeiras abanavam ao som dos solos de McMurchie e Judge, que proporcionaram temas modernos de “refrões-hinos” apoiados num rock cadente, encadeado na base jazzística inerente ao grupo.
A passagem dos músicos por Braga integrou a digressão de apresentação de “Bristopia”. Não obstante, houve tempo para relembrar alguns temas mais antigos, já conhecidos do seu público. Músicas como “Americano Meccano” e “OC DC”, do álbum “OC DC”, lançado em 2012, deliciaram os fãs bracarenses do quarteto britânico. Foi há 17 anos que os músicos se juntaram, em honra à admiração conjunta por Ornette Coleman. “OC DC” é uma homenagem ao saxofonista e compositor de jazz norte-americano.
“Not with Standing”, terceira faixa de “Bistopia”, ilustra uma história peculiar que Jim Barr decidiu partilhar com a plateia: “este tema fala da realização de quando compras um par de calças que achas que é o mais cool do mundo, mas, depois, quando as usas na rua, as pessoas olham para ti. Não sabes se olham porque gostam ou por pura repugnância. Depois, chegas a casa, e percebes que as calças são a coisa mais terrível existente à face da terra”.
Foram várias as histórias contadas pelo baixista que provocaram o riso pelo público do Theatro Circo. “Cellophant”, também integrante do mais recente trabalho, é sobre um sonho bizarro (elefantes bateristas envolvidos em papel celofane) de Deamer e “Cococloud” descreve a imaginação de uma pessoa ligeiramente embriagada, numa tarde de verão, que tenta decifrar formas nas nuvens.
A qualidade musical de Get the Blessing não passou despercebida pelo auditório do Theatro Circo e uma das muitas provas da mesma é o prémio de Melhor Álbum nos BBC Jazz Awards de 2008, para o disco de estreia do quarteto, “All is Yes”.
“Bristopia” apresenta uma complexidade musical rica em distorções eletrónicas, sequências propositadas e melodias fortes, sustentada por uma onda de free jazz com muito rock e improviso classicamente jazzístico à mistura. A performance mereceu uma standing ovation dupla e o encore não desiludiu o público, que levou para casa memórias de um concerto genial.