Dois anos após o lançamento do álbum American Teen, Khalid retorna com Suncity, um EP de sucesso. O projeto conta com sete temas interessantes, que combinam Pop e R&B numa fusão de sons que só o cantor nos pode apresentar.
Como a familiar canção de Ray Charles nos diz “Georgia on my mind”, também Khalid, natural de Fort Stewart, Georgia, veio para ficar na nossa mente e no nosso ouvido. O número sete simboliza a totalidade, a perfeição, consciência e espiritualidade. Talvez tenha sido com esta mentalidade que o jovem cantor criou Suncity, que não desilude, tal como trabalhos anteriores.
O EP começa com o tema introdutório “9:13”. Esta primeira peça contém um discurso de Dee Margo, presidente da cidade de El Paso, Texas, onde o cantor cresceu. Neste mesmo discurso, tão bem transformado em música pelas harmonias quase ecoantes de Khalid, Dee Margo cede a chave da cidade ao artista, afirmando que para sempre ficará recordado naquela cidade.
A segunda canção, “Vertigo”, é capaz de conquistar o coração dos ouvintes pelo arranjo de cordas no início da música, que é absolutamente inebriante. Tanto pelo mais agudo violino, como pelo grave do contrabaixo, que se misturam como um Yin e Yang perfeito. As cordas unem-se em progressão e vão introduzindo a batida, à qual já estamos mais habituados, em conjunto com o falsete muito bem controlado do cantor, que confere uma certa elegância ao refrão.
Neste tema, o cantor fala de como sente o seu pensamento turvo, distorcido. O título é alusivo à condição médica de vertigens, onde os doentes sofrem, maioritariamente, de tonturas. Por sua vez, a letra é sempre direcionada para um certo limbo, onde o cantor não sabe se o que sente é real, já que quem sofre de vertigens tem uma constante sensação de que o desmaio é iminente. O verso “I am falling with my eyes closed” cantado repetidamente é a confirmação necessária que o artista nos dá.
Em seguida na lista está “Saturday Nights”, a música perfeita para ouvir numa viagem de carro, ou num sábado à noite mais tranquilo. O dedilhado inicial com o som da guitarra elétrica é a típica junção contraditória que acaba por conferir à música um sentimento mais calmo e pacífico. A progressão harmónica acaba por ser bastante simples, mas o timbre e a doçura na voz de Khalid fazem com que nos sintamos em casa.
A letra fala de uma rapariga comum, por quem o norte-americano nutre carinho. No entanto, a família dela é bastante disfuncional, aliás, todo o refrão é baseado no facto de o artista se importar mais com ela do que os próprios pais. “All the things that I know, that your parents don’t, they don’t care like I do”. Deste modo, tornou-se expectável que a faixa fosse um pouco mais calma para combinar com a letra melancólica.
De seguida, “Salem’s Interlude” cria uma quebra no EP. É um depoimento telefónico de uma jovem onde, durante cerca de um minuto, nos fala de como tem medo de várias coisas: de viajar, de falhar, de se envergonhar. Expressa que sabe que está no caminho certo, ainda que o trajeto que segue não seja o melhor, e que o facto de ser uma pessoa genuína a permitiu estar num sítio feliz, onde não se pode queixar de nada. Contudo, há no fim da faixa um verso que nos faz questionar todo o discurso proferido.
Para nos resgatar de uma possível crise existencial, proveniente do interlúdio anterior, a voz de Khalid regressa com “Motion”, uma canção muito bem conseguida a nível de produção. Desde o início, o falsete é hipnotizante, os coros são muito bem colocados e a letra é mais direcionada para uma paixão casual e para o carpe diem, o que espelha um pouco a sociedade de hoje, mais livre de preocupações e convenções sociais, “I’m in love with the moment”.
A penúltima faixa do projeto, “Better”, é, mais uma vez, relacionada com paixões extasiantes e intensas. A batida é mais ritmada e variada do que na canção anterior, em contraste com a melodia mais simplista. No verso “Nothing feels better than this”, repetido ao longo da música, o cantor expressa um pouco mais de emoção, já que toda a música é dedicada à pessoa que é mais do que um amigo. O uso racional do sintetizador e do auto-tune conseguiu um momento mais inovador dentro da própria composição, que, em fade-out, transita para a última faixa do EP.
A última canção é “Suncity”, que dá título ao projeto, e é uma combinação do estilo próprio de Khalid com Reggaeton, que nos remete ao mais latino dos ritmos. Sentimos, em simultâneo, que estamos nos dois polos do continente americano: ora no Norte, pela parte em Inglês da música e pelo estilo de Khalid; ora no Sul, pela letra em espanhol e a caixa de ritmos que tanto associamos à cultura sul-americana. A faixa é um dueto com a artista Empress Of, cantora portadora de um timbre ainda mais adocicado do que o compositor do álbum. A fusão destas duas vozes resulta num tema que nos fica no ouvido, tema este que constitui o grande final do projeto.
Suncity é uma obra muito bem constituída, com vários momentos que se adequam a várias situações, ainda que, sem nunca perder a essência do jovem promissor. Assim, o EP torna-se num projeto que veio para ficar na nossa playlist diária e na nossa mente.