Três anos após o lançamento do álbum Blurryface, os Twenty One Pilots seguem a narrativa do projeto anterior e dão-nos a conhecer Trench. Com este trabalho, o duo norte-americano supera as espetativas, deixando os ouvintes a querer mergulhar até ao fundo da história contada.

Lançado a 5 de outubro, Trench retrata um mundo concetual criado para simbolizar os locais onde as nossas inseguranças têm poder. As 14 faixas deste albúm acompanham os acontecimentos de Dema, uma cidade localizada dentro do mundo criado, liderada por nove bispos, sendo que estes representam aquilo que nos prende emocionalmente. Aproveitando este tema e procurado ir sempre mais além, as letras abordam também questões como a saúde mental, o suicídio e a fé.

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Já é habitual os Twenty One Pilots fazerem o que poucos artistas conseguem, ou seja, moldar perfeitamente vários estilos de música numa só melodia, sendo capazes de provocar uma oscilação de sentimentos a quem os ouve. Com músicas de Rock alternativo, Hip-Hop, Electropop, Indie Pop, Reggae, e muitos mais, a banda construiu uma narrativa onde as temáticas e a melodia se complementam entre si, mas com ainda maior profundidade do que em trabalhos anteriores.

O albúm abre com “Jumpsuit” que, num estilo de Rock alternativo, expressa um desejo de libertação. No final da canção, Tyler Joseph, o vocalista, grita o último refrão com o intuito de demonstrar um surto de coragem para fugir das suas próprias inseguranças. Esta faixa funde-se com a seguinte, “Levitate”, que sofre uma mutação de estilo ao passar para Hip-Hop, onde o início nos faz pensar que estamos a ouvir algo criado por Kendrick Lamar.

“Morph”, a faixa seguinte, apresenta um estilo mais de R&B e Funk. Esta canção revela-nos a verdadeira identidade de Nico, mais conhecido como Blurryface, sendo o seu nome completo Nicolas Burbaki. Este nome vem do pseudónimo coletivo dos cientistas que inventaram a noção de zero ou empty seat, de onde vem o símbolo Ø, usado na marca da banda ao longo dos anos. Este é, também, o líder dos nove bispos que governam Dema.

“My Blood”, “Chlorine” e “Smithereens” consistem em canções que acabam por contracenar com o resto do álbum, expressando aquilo nos limpa a cabeça de maus pensamentos e nos dá vontade para escapar àquilo que Trench representa.

A alegria que estas passam mistura-se num momento mais escuro, quando em “Neon Gravestones” o duo aborda o tema do suicídio. Num rap que se segura numa melodia trazida pelo piano, a banda torna o som mais upbeat, remetendo um pouco para a banda The Killers. “The Hype” representa uma conversa, ou melhor dizendo, uma lição que o vocalista pretende dar a uma versão mais jovem dele mesmo.

Para nos fazer voltar às bases desta história chega “Nico And The Niners”, um título onde The Niners representam os líderes da cidade criada. Numa melodia que mistura Rap e Reggae de forma psicadélica, a faixa lida com o tema da depressão, sobretudo do facto de termos a tendência de sucumbir às nossas emoções temporárias.

“Cut My Lip” e “Bandito”, mesmo com batidas que inspiram emoções completamente opostas, colidem em termos narrativos. Ambas falam de como nos temos de segurar àqueles que estão dispostos a enfrentar os desafios connosco, por mais difícil que a vida seja. A primeira coloca Joseph no lugar de um leão, tendo de se segurar ao seu pride que, no mundo animal, significa grupo ou amigos. Já a última trata da integração da personagem nesse coletivo, que tem o nome de Banditos, que são retratados como os rebeldes que pretendem fugir de Dema e do controlo dos bispos.

Com uma mistura de Rap, Techno e Rock, “Pet Cheetah” descreve o processo de bloqueio artístico quando se trata de escrever uma letra. Já “Legend” é um tributo ao avô do vocalista, que faleceu em março deste ano, onde o alegre sonoro nos faz sentir o quão bom é relembrar os bons momentos passados com aqueles que já partiram.

Para fechar o albúm, “Leave The City” baixa o tom e toca no tema da fé e da dificuldade em acreditar durante circunstâncias negativas. Tenta, também, espelhar o facto de as doenças mentais serem problemas que necessitam de uma especial atenção para poderem ser aliviados.

Em suma, Trench é uma junção de emoções que nos fazem refletir acerca das coisas que nos prendem e, pelo outro lado, daquelas que nos dão coragem para seguir em frente. É notória, através desta composição, a evolução do duo, que se focou em dar voz a temas que não são muito falados no mundo da música, para além de ter boas melodias que apresentam uma boa harmonia com a letra. Assim, é seguro dizer que os Twenty One Pilots conseguiram construir uma história com um grande nível de profundidade e coesão.