A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão deu palco à estreia da peça “Veneno”, estrelada por Albano Jerónimo.

“Veneno” estreou na passada sexta-feira na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. A peça, protagonizada por Albano Jerónimo e escrita por Cláudia Lucas Chéu, preencheu a sala principal do espaço famalicense.

Um grande monólogo. Durante cerca de uma hora, Albano Jerónimo deu voz e corpo ao teatro de um homem só. “Veneno” conta uma história de violência e da relação psicótica entre um pai violento, homofóbico e racista e os seus filhos.

No palco, o cenário refletia o mundo suburbano da ação. Um apartamento num bairro dos subúrbios de uma cidade, onde a violência é o pão de cada dia. Há um cesto de basquete e uma cortina de plástico transparente. Mas é ao centro, num espaço pequeno e claustrofóbico que toda a ação se passa. O apartamento do protagonista nada mais é do que uma poltrona. E é aqui, neste pequeno sofá, que as cenas se desenrolam.

Albano não se levanta. Representa toda a peça sentado no sofá. Não há mais personagens, pelo menos fisicamente. Uma câmara filma um plano apertado da personagem. Capta-lhe a cara e as expressões num estilo de vídeo documental. Ao lado, uma tela reproduz, em tempo real, as imagens para a plateia ver bem de perto todas as manifestações deste homem demente. Entra-se no mundo claustrofóbico e na situação precária deste pai violento.

Luís Pinto vai aparecendo em palco e funciona como uma espécie de narrador. Pontualmente, o ator lê didascálias e pinta a imagem dos filhos, que apesar de não terem uma presença física não deixam de ter um papel fulcral para o desenrolar da história.

“Veneno” faz grande uso do humor negro. A personagem do monólogo é grotesca, ridícula e maliciosa. É um homem sexista, homofóbico, racista e violento, que apesar de caricato e ridículo não deixa de estar ancorado na realidade e em discursos corriqueiros. A piada estava na situação e no horror e o público famalicense respondia com gargalhas, risos e apertos.

A peça começou com um apontamento muito humorístico, que em nada fazia prever o ato grotesco. O primeiro monólogo de Albano foi uma reinterpretação de um texto dito por Cristiano Ronaldo, mas elevado ao ridículo. Depois, começou a música “Obrigado mano” de Kátia Aveiro, irmã do futebolista, com uma dança energética e barulhenta que levantou a plateia das cadeiras da Casa das Artes. Após as cores, a festa e o barulho da atuação, que lembrava um espetáculo da televisão, é com a secura da rádio e as luzes diminutas que a ação de “Veneno” começa.

Ao final de uma hora o monólogo terminou. As luzes apagaram-se, o palco escureceu e a plateia levantou-se para aplaudir o espetáculo. A Albano Jerónimo juntaram-se Cláudia Lucas Chéu, Luís Pinto, Rui Monteiro, António MV e Francisco Leone para agradecer os longos e fortes aplausos do público.

A noite de “Veneno” na Casa das Artes terminou com um digestivo. Dez minutos depois do fim, toda a equipa sentou-se para conversar com o público sobre a história da peça e responder a questões.

O público recebeu muito bem o teatro. Quem entreviu frisou o contraste de sensações de “Veneno”, onde o humor e o horror andam de mãos dadas.

“Veneno” foi produzida pela Teatronacional 21 e coproduzida pela Casa das Artes de Famalicão, pelo Teatro Viriato de Viseu e pelo Centro de Arte de Ovar. O texto foi escrito por Cláudia Lucas Chéu, em 2015, e conta com tradução para inglês e francês.

A Casa das Artes recebe hoje a segunda data de peça, antes de partir para o teatro Viriato, em Viseu.