O Admirável Mundo Novo, o romance e obra-prima de Aldous Huxley, retrata uma sociedade distópica, cujas diferenças em relação àquela em que hoje vivemos são cada vez mais difíceis de delinear. Repleta de considerações filosóficas, tragédia e mensagens escondidas, a obra eterniza-se pelo carater quase profético, resultante da profunda análise que o autor fez do rumo da sociedade moderna.
Em 1931, quando Aldous Huxley escreveu o consagrado O Admirável Mundo Novo, o panorama mundial passava por uma mudança de valores e normas em todas as áreas de ação humana. A sociedade assistia à luta entre classes, a ciência crescia além dos velhos dogmas morais e religiosos, o comércio conhecia uma globalização sem precedentes, e a indústria descobria novos métodos e ferramentas que permitiam um aumento da produção para números antes completamente impensáveis. Com a memória da 1ª Guerra Mundial ainda presente e sofrendo a crise de 1929, o mundo estava mergulhado na desordem e via, ao mesmo tempo, nascer as utopias modernas que tanto marcariam o curso da História do final do milénio.
Tomando a natureza destas utopias, Huxley partiu para a consideração das implicações que elas teriam para a Humanidade a longo prazo, prevendo, com uma precisão arrepiante,e o estado futuro de uma sociedade que se regesse pelos princípios em que as mesmas se baseavam. O Admirável Mundo Novo é um ensaio sobre esse futuro, 600 anos passados depois da morte de Henry Ford, o industrial Americano que é figura chave no romance, pela carga simbólica associada à massificação da indústria.
A obra tem como cenário Londres, cientificamente e tecnologicamente avançada. A própria edificação da estrutura social começa com intervenções científicas aos embriões que, por processos de seleção genética, irão dar origem a membros de várias condições socias distintas. Neste futuro distópico não há maternidade, e toda a população é gerada in vitro. Cada cidadão ao nascer pertence, automaticamente, a uma determinada classe social, que pode ir desde o alfa (cidadãos superiores) ao ípsilon (cidadãos inferiores). O sistema de classes sociais implica a fragmentação da sociedade, dado que os cidadãos têm rotinas, roupas, privilégios, e mesmo capacidades biológicas distintas, dependendo da classe a que se inserem.
Bernard Marx, inicialmente o personagem principal, pertence à casta mais alta mas, devido a um erro na fase embrionária, apresenta traços muito diferentes do que seria suposto num cidadão alfa. Frustrado e insatisfeito, decide procurar sensações diferentes na reserva indígena do Novo México. É nestas reservas que se encontram os últimos Humanos que vivem de acordo com a tradição antiga, e cujos habitantes são designados de selvagens. Durante a viagem, Bernard conhece John, um jovem selvagem perspicaz e curioso que regressa com Marx para Londres.
Apercebendo-se das maleitas da sociedade unicamente racional de Londres, John revolta-se contra o novo mundo e contra a corrupção dos prazeres, a leviandade, a manipulação mental, a perda de identidade do indivíduo. A genialidade da obra, além da construção inicial da sociedade rigidamente estratificada, mas aparentemente tolerante e livre, está neste choque entre o selvagem e a civilização.
Abordando temáticas intemporais como o amor, a moral, a liberdade e a fé, Huxley demonstra as alterações que os novos paradigmas trazem, não só à sociedade, mas ao sujeito e à sua construção de identidade e de realidade. Numa obra de cima a baixo metafórica, o escritor inglês prevê muitos dos fenómenos que se observam quase cem anos depois, nos nossos tempos.
# ARQUIVO | Admirável Mundo Novo: hoje menos admirável e menos novo
10/10
Título original: Brave New World
Autor: Aldous Huxley
Editora: Publicações Europa-América
Géneros: Ficção científica, Ficção utópica e distópica
Data de Lançamento: 1932