In The Aeroplane Over The Sea é um marco pela história que conta e pela sua força e significância. Cativante e intrigante, destacou-se pela sua produção pouco convencional, tornando-se um projeto de culto para muita gente.
Este álbum, lançado em 1998, é o segundo e último da banda norte-americana Neutral Milk Hotel. Assume-se no mundo da arte como um projeto absolutamente estrondoso e marcante e, como obra musical, extremamente difícil de analisar pela sua natureza poética e sonoridade atípica. É possível afirmar que este é o Folk mais vanguardista que se pode imaginar.
Para analisar corretamente o projeto é necessária alguma contextualização, para se entender bem as influências de Neutral Milk Hotel com o lançamento deste disco. Os anos entre 1942 e 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, deram origem a um diário que, mais tarde, acabaria por originar um livro marcante para a história e para o mundo.
Essa obra, denominada Diário de Anne Frank, foi muito importante para o vocalista Jeff Mangum, o que faz com que In The Aeroplane Over The Sea tenha como base esse livro icónico. E tal como o diário, este álbum não pode, de maneira nenhuma, ser ignorado, por ser altamente inovador e original, e por ter uma comovente densidade emocional. Estas razões fazem com que este seja um dos melhores projetos da década de 90.
Numa primeira escuta, deparamo-nos com sons e ambientes esquisitos e intrigantes, próximos do cómico. Debruçando-nos sobre essa intriga inicial, descobrimos as ideias surrealistas e a dimensão dos arranjos aos sopros, misturados com a adrenalina do Punk, sons completamente díspares. Indo ainda mais ao fundo da questão, envolvemo-nos devidamente no contexto poético e comovente do álbum, e torna-se quase impossível não nos apaixonarmos, depois de nos apercebermos das inspirações de In The Aeroplane Over The Sea.
Em todo o álbum há uma infinidade de sons estranhos que nos agarram ao Indie Folk, o que carateriza o que de mais alternativo há em Neutral Milk Hotel. De uma maneira surpreendente e especial nota-se que esta é uma obra muito pessoal, ao não revivemos o diário de Anne Frank. Pelo contrário, ouvimos, sentimos, imaginamos, e viajamos num sonho que não é nosso. As letras são incrivelmente metafóricas e envolventes, e a música vive muito do que elas dizem e de como são cantadas. O tom esforçado, nasalado e oscilante de Mangum é quase incomodativa inicialmente, mas, aos poucos, habituamo-nos e sofremos com ele.
Por ser uma obra conceitual, todas as 11 canções merecem ser ouvidas do início ao fim, cada uma delas como parte essencial de um todo que vale muito mais do que qualquer individualidade. No entanto, as canções “In The Aeroplane Over The Sea”, “Holland, 1945”, “Oh Comely”, e “Two Headed Boy Pt. 2” são as que mais se destacam nesta aventura.
“Oh Comely” é o pináculo do álbum, sendo também a música mais longa, onde Jeff sonha com a presença de Anne Frank, fantasiando sobre a possibilidade de a salvar daquele que foi o seu triste destino. “Two Headed Boy Pt. 2” é o culminar de uma jornada única e avassaladora, merecedora de toda a nossa atenção, assinalando o fim de toda uma obra fantástica, acabando com dois versos extremamente profundos e com ruídos que podem ser interpretados como o próprio vocalista a ir embora do seu sonho: “But don’t hate her, when she gets up to leave”.
In The Aeroplane Over The Sea fala da saudade de algo que sonhamos conhecer e isso, por si só, já é intrigante e apelativo o suficiente para cativar qualquer mente sonhadora e curiosa. De qualquer modo, citando o último verso da terceira canção do disco, “Can’t believe how strange it is to be anything at all“.
Cheio de sinfonias loucas e pedacinhos da maior pureza que há num ser humano, é pelas suas desarmonias desorganizadas que se consegue adorar este álbum. E é a batalha que tem de ser travada pelo ouvinte para poder ganhar o que de mais belo há neste disco que torna o projeto tão magnífico.
# ARQUIVO | In The Aeroplane Over The Sea: a história por detrás do sonho
8/10
Álbum: In The Aeroplane Over The Sea
Banda: Neutral Milk Hotel
Data de Lançamento: 10 de fevereiro de 1998
Editora: Merge Records
Fevereiro 13, 2023
Album superestimado demais, não consegui ouvir até o fim de tão enfadonho.