Há noite de jazz em Barcelos e fica assente nela o espírito cosmopolita e de vanguarda apresentado pelo saxofonista e compositor, João Mortágua.
A actuação de A X E S, projeto do saxofonista e compositor João Mortágua, foi marcada pela fusão do erudito com o urbano. A imprevisibilidade, apostas no contraste entre o harmonioso e a anarquia do som foram as bases fundamentais do estilo que ecoou na sala de espetáculos do Teatro Gil Vicente, em Barcelos.
O início do concerto deu-se às 22h, principiando-se este um pouco depois da hora prevista. Na sala, foi possível experimentar-se um ambiente acolhedor, com uma luz ténue, que apenas iluminava o palco. O momento inicial foi anunciado pela libertação de fumo de espetáculo e “barulhos” dos instrumentos.
João Mortágua, saxofonista de saxofone alto e soprano, é o compositor do álbum que nesta noite foi entoado pelos instrumentistas. Para além de ser quem dirige os músicos, este explora as texturas de quatro saxofones e duas baterias, sem utilizar instrumentos harmónicos. Contudo, utiliza a voz, embora a mesma sirva apenas para gritos e exclamações, não para canto melódico como esperamos que seja o seu uso simplista. Apenas o som de garganta, ou até mesmo de peito, que reproduz algo audível, é dessa forma aproveitado pelo jovem compositor para atribuir mais elementos inesperados à sua música.
O evento variou entre ruídos estridentes, parecendo que faziam os saxofones quase grunhir como gaitas de foles, apostando nos graves e todos os elementos de percussão para dar mais relevo aos temas expostos. O concerto oscilou também para momentos de silêncio que vinham gradual ou bruscamente, sempre com o objetivo do aplauso do público.
A apresentação contou com performances distintas: entre registos mais sensuais, marcados, também, pela flutuação da luz de sala para tons de vermelho, intercalados com momentos de relaxamento.
João Mortágua deu a conhecer um sintetizador de sopro, manuseado por José Soares, que conferiu ao registo musical demonstrado uma entoação eletrónica. O concerto teve momentos de esclarecimento, sempre por parte do compositor, com um jeito informal e dessa forma falou de dois temas: “Dodecafonismo” e “Robot”. Foram ambos entoados, prontamente, após a sua introdução.
“Dodecafonismo” baseia-se nas 12 notas da escala, explicou Mortágua. Este tema foi demarcado pelo mistério e o suspense, reproduzindo algo semelhante a “barulhos” aterradores, terminando com um “já não sei” proferido pelo compositor, um crescendo e um último repercutir de tambores da percussão.
Para finalizar, foram apresentados os intérpretes, para além de João Mortágua no saxofone alto e soprano e José Soares no saxofone alto e sintetizador de sopro, Hugo Ciríaco no tenor e Rui Teixeira no barítono e percussão: Alex Rodriguez Lázaro e Pedro Vasconcelos.
O jazz contemporâneo que se pôde ouvir no Teatro Gil Vicente, variou entre sons eletrónicos e psicadélicos, utilizando como meio o eco e também, em algumas ocasiões, o coro. O jovem compositor despediu-se, agradecendo com a promessa de trabalho num novo álbum depois deste seu primeiro.