O Ensino Superior progressivamente gratuito, a Ação Social e a mudança da localização do Enterro da Gata foram alguns dos temas que marcaram o debate.
O primeiro debate da campanha eleitoral para a direção da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) opôs Nuno Reis, candidato a presidente pela Lista A, a Rui Miguel Silva, concorrente pela Lista B. O debate promovido pela Comissão Eleitoral e pela Rádio Universitária do Minho (RUM) realizou-se no auditório A1 do Campus de Gualtar, esta quarta-feira.
Durante uma hora e meia, os dois cabeças de lista discutiram as ideias basilares das respetivas candidaturas à direção da AAUM. O Ensino Superior gratuito, a Ação Social e a alteração do local do Enterro da Gata foram alguns dos assuntos abordados.
Nuno Reis apareceu com o manifesto da lista que encabeça. Frisou constantemente a falta de transparência e proximidade da Lista B, que “até ao momento não apresentou o manifesto”. Acusou o opositor de desconhecimento do funcionamento da AAUM e de falta de planos de ação concretos.
(Pode ler a entrevista a Nuno Reis aqui)
Por seu lado, Rui Miguel Silva ripostou, afirmando que o candidato da Lista A não compreendeu as ideias expostas, uma vez que se trata de “um exercício intelectual um pouco complexo”.
(Pode ler a entrevista a Rui Miguel Silva aqui)
Ensino Superior progressivamente gratuito e Ação Social
O Governo de António Costa garante, para o Orçamento do Estado de 2019, uma redução do valor das propinas para os 856€ anuais. Ao ser aplicada às instituições universitárias, a lei prevê uma diminuição do preço já em 2019/2020. Ambos os candidatos assumem o desejo de um Ensino Superior progressivamente gratuito, como a Constituição da República Portuguesa prevê.
Nuno Reis subscreve a opinião do primeiro-ministro na impossibilidade de uma propina zero, pelo menos na próxima legislatura. O atual presidente da AAUM refere que é preciso “mais Ação Social escolar, sem linhas vazias de propinas zero, porque concordando ou não com este tópico, é preciso aumentar o número de alunos no Ensino Superior”.
O líder da Lista A afirma que é preciso “colocar a prioridade do financiamento na Ação Social direta” e que os apoios devem incidir mais sobre a atribuição de bolsas, o alojamento e os transportes. Apresentou uma proposta para atualizar o regulamento de atribuição de bolsas aos alunos e a criação de um ano de carência para estudantes com dificuldades de aprendizagem relacionadas com condições desfavoráveis e que se vêem obrigados a desistir da universidade por “problemas relacionados com a sua condição pessoal”.
Já Rui Miguel Silva garante que a Lista B “tem uma posição muito vincada” no que toca ao tema das propinas. Entende que dificultam o acesso ao Ensino Superior e, como primeiro entrave ao ingresso na universidade, devem sofrer uma “redução, mesmo que gradual dentro de um determinado prazo, até chegarem a zero.” O concorrente da Lista B advoga que se deve lutar por um sistema de propinas e ação social mais aproximado ao que acontece na Suécia e na Noruega, em que há 90% e 50% de cobertura de bolsas, respetivamente, onde “ninguém paga propinas”.
Quanto ao modelo de ação para concretizar o objetivo exposto, Rui Miguel afirma que deve ser a sociedade portuguesa a criar pressão junto do executivo e, posteriormente, “o Governo acabará por gerir a situação e dar um input à sociedade”.
Alojamento. Respostas para um problema cada vez mais recorrente
O candidato da Lista B propõe também uma posição de pressão junto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de modo a resolver o problema do alojamento estudantil em Braga e Guimarães.
Já Nuno Reis ressalta o trabalho da AAUM em promover um estudo que corrobora a necessidade de alojamento. Assinala a importância das academias serem dotadas de mecanismos que permitam a reabilitação e a construção de edifícios que possam tornar-se residências universitárias permanentes e não alojamento baseado em contratos de edifícios que, ao fim de dez anos, voltam para a tutela do Estado.
Sobre o alargamento a mais 150 camas na residência de Azurém e a reabilitação da Escola Luís de Castro como residência universitária, Nuno Reis admite que “se as promessas forem cumpridas virão a beneficiar a vida dos estudantes”. O candidato da Lista A acrescenta que tem trabalhado com as câmaras municipais de Braga e Guimarães com o objetivo de “criar uma rede certificada de imóveis”. O intuito é prevenir economias paralelas e assegurar a qualidade das habitações dos estudantes, bem como a necessidade que sejam passados recibos pelo aluguer dos imóveis, algo que não acontece a mais de 50% dos alunos da Universidade do Minho.
Enterro da Gata no Altice Fórum Braga
No início de setembro, o Sporting Clube de Braga informou que não continuaria a receber a festa do Enterro da Gata na Alameda do Estádio. O Altice Fórum Braga foi o primeiro nome a surgir como possível novo local do Gatódromo.
Rui Miguel Silva vê esta opção com bons olhos. “Se é maior temos mais possibilidades de potenciar o Enterro da Gata”. O candidato da Lista B acrescenta que a Associação Académica e os alunos da Universidade do Minho têm de participar na comunidade e a comunidade tem de participar na vida da academia e vê o Fórum Braga como uma forma de conseguir esta aproximação. O estudante prioriza a sustentabilidade económica do evento, que na sua ótica não deve ter prejuízo.
“Este ano o enterro teve um lucro de 10 mil euros. É pouco, mas é melhor ter lucro do que ter um prejuízo de 100 mil euros” – Rui Miguel Silva, Lista B
Nuno Reis admite que o Enterro “já não dá tanto lucro como já deu”. Contudo, declara que é importante o evento dar lucro “até para financiar núcleos, grupos e secções”.
O concorrente da Lista A não vê o Fórum Braga como a única opção para recinto do Enterro da Gata. “Há fatores como as questões identitárias do evento, os próprios espaços disponíveis que nos fazem ter uma preocupação extraordinária”. Ressalta a dimensão mais reduzida da zona interior do Fórum face à alameda do Estádio Municipal, acusando o opositor de não conhecer a realidade do espaço.
Sedes da AAUM
A relocalização da sede da AAUM de Braga e a reabilitação do estabelecimento de Azurém são propostas recorrentes nos manifestos da últimas campanhas eleitorais.
Nuno Reis apresenta-se com uma lista de continuidade do trabalho realizado pela AAUM no ano de 2018 e, como tal, ressalta os esforços da atual direção para a requalificação da sede de Azurém, um projeto que conta com um plano delineado e um valor atribuído. “É uma obra que planeamos concretizar já no próximo ano”. Rui Miguel Silva admite que, estando o processo de reabilitação a ser feito, deve ser “continuado e potenciado”.
O candidato da Lista A frisou também a necessidade de haver uma nova sede para a AAUM e para os grupos culturais em Braga, face à impossibilidade se manterem onde estão. Salientou, também, a necessidade de escolher uma zona dentro do campus de Gualtar para ser utilizado pela associação, uma vez que “fora do campus não têm nenhum espaço disponível”. Adiantou que a Lista A tem projetos de benchmarking feitos, inspirados noutros locais, com o objetivo de tornar a sede mais produtiva e abri-la à comunidade académica.
Rui Miguel Silva ressaltou também as “condições decadentes” da atual sede da associação. Reforçou a necessidade de levar os grupos culturais para um outro local, quer seja numa outra sede da AAUM, ou outro espaço que possa ser arrendado pela Associação. Todavia e contrariamente à posição de Nuno Reis, que vê a atual ‘casa’ da AAUM como irrecuperável, o candidato da Lista B defende a análise da melhor relação qualidade-preço entre reabilitar o atual edifício ou construir um novo. “Temos de analisar este dossier com pinças”.
Segurança em Gualtar
A falta de segurança do campus de Gualtar tem estado na ordem do dia tanto a nível local como nacional.
Rui Miguel Silva advoga que a responsabilidade de manter a segurança nas zona limítrofes do campus de Gualtar recai sobre da autarquia e a Associação Académica tem de gerir uma pressão política junto dos autarcas.
Nuno Reis começou a intervenção refutando o opositor, uma vez que a responsabilidade da segurança não é das autarquias, mas sim da PSP. Acrescentou que já se reuniu com o chefe distrital e que vai juntar as entidades envolvidas, como juntas de freguesia, Câmara Municipal de Braga, Reitoria da Universidade do Minho, Associação Académica, PSP e comerciantes de modo a averiguar qual a melhor estratégia de segurança para a zona.
“Obviamente vamos reivindicar o aumento do policiamento e a prevenção dentro e fora do campus” – Nuno Reis, Lista A
Cultura
Para a cultura, a Lista B reivindica a criação de um grupo de teatro amador, um Festival de Artes Performativas, com o objetivo dos cursos de Música e Teatro exporem os trabalhos nos centros de Braga e Guimarães e um concurso de literário para os estudantes que “permitirá a publicação da obra que irá concorrer”. Acusa, ainda, a AAUM de se aproveitar dos grupos culturais por atuarem de graça no Enterro da Gata.
Nuno Reis admite ser de louvar a iniciativa de valorizar o teatro. Contudo, sublinha o trabalho da associação ao financiar integralmente a presença de estudantes de Teatro num festival universitário nacional. Quanto à proposta do Festival de Artes Performativas, o concorrente da Lista A acusa o rival de não conhecer a Universidade do Minho, uma vez que a RUM já organizou festivais de artes performativas que foram requalificados para se inserirem na programação do Festival de Outono.
Sobre o aproveitamento dos grupos culturais, Nuno Reis defende a atuação da presente direção da AAUM que os financia todos através de um plenário, bem como a cedência da pulseira para o Enterro a todos os membros das tunas, realçando que “nenhum grupo é obrigado a atuar no Enterro”.
Rui Miguel Silva e Nuno Reis voltam a encontrar-se para um segundo debate esta sexta-feira, na Sala de Atos do Instituto de Ciências Socias da Universidade do Minho. A organização e a moderação estão a cargo do ComUM.