O segundo e último dia do Festival Para Gente Sentada 2018 contou com o brilhantismo de Nils Frahm e a sedução de Núria Graham. O festival, que vai já na sua 14ª edição, marcou pela qualidade musical e lotação esgotada.
Denotado de uma genialidade musical ímpar, Nils Frahm foi o grande destaque da última noite do Festival Para Gente Sentada 2018. Com a Sala Principal do Theatro Circo lotada, o compositor alemão teve toda a atenção da plateia que, em silêncio, se deliciou com a complexa criatividade sonora do músico.
A escuridão apoderou-se da sala, realçando o palco dominado por inúmeros instrumentos de tecla que acompanham Frahm pelo mundo fora. O clássico grande piano e outro vertical, o Roland Juno-60, um Rhodes, o Moog Taurus, entre outros. Foi com este conjunto instrumental que Frahm criou música durante mais de duas curtas horas. Nils usou jogos de cores, luzes e movimentos perfeitamente sincronizados com quadros sonoros pintados de crescendos e diminuendos intensos, onde uma simples nota criada pelo martelo do piano representava uma vasta onda de possibilidades musicais.
“My Friend the Forest” foi um dos temas selecionados para o alinhamento da atuação. Uma obra calma, onde foi possível observar a técnica erudita de um Nils tranquilo, sentado ao piano vertical modificado, onde a surdina desempenhou um papel importante na criação da sonoridade longínqua e piano pretendida pelo artista.
Houve ainda espaço para um pequeno workshop sobre o que fazer quando temos “um som parvo e pouco interessante”, semelhante à sonoridade de uma flauta pan. “A solução é simples, juntam-lhe sons fixe em cima e fica resolvido. É como quando conversam com alguém muito ‘cool’, vocês, automaticamente, também se tornam ‘cool’ só por ali estarem”, brincou Nils. Foram muitas as intervenções do músico que, sempre que teve oportunidade, aproveitou para interagir com o público.
Num equilíbrio preciso entre o calmo analógico e o frenético ritmo da eletrónica, Frahm tocou variados temas representativos da sua longa carreira. Os mais marcantes da noite foram, sem dúvida, “Move” e “Says”, penúltima obra interpretada que mereceu uma explicação teórica e sintética da sua composição. “Temos este padrão em loop durante seis minutos, sempre em dó menor, depois modulam-no para fá menor, acrescentam uns sons em cima e cá está”, explicou o músico alemão, sempre no seu tom rouco e ligeiro.
Nils Frahm é dono de uma sensibilidade musical capaz de arrepiar qualquer um que ouça a sua arte. Através de simples melodias criadas ao piano e enriquecidas com melismas e transições fluentes, Frahm constrói a sua identidade, juntando o eletrónico e o digital ao clássico analógico.
Antes da atuação de Nils Frahm, foi a vez de Núria Graham subir ao palco do Theatro Circo. Mais um dos grandes destaques deste último dia do festival, a cantora e guitarrista catalã seduziu o público com a sua voz clara e envolvente. Apenas acompanhada pelo seu instrumento, em frente às cortinas fechadas do palco, as cores ali presentes pareciam combinadas de propósito.
Tocou vários temas populares como “Cloud Fifteen”, “Bird Hits Its Head Against the Wall” e “Smile on the Grass” do mais recente álbum “Does It Ring a Bell?”. Houve ainda tempo para dois covers, “Black Is The Colour”, uma canção tradicional escocesa e “Toxic”, da Britney Spears.
Para finalizar, tocou um tema recente intitulado “Stable” que fala de uma after-party de um festival onde conheceu uma pessoa especial. “Não faltem às after-parties, nunca se sabe o que pode acontecer”, incentivou a cantora.
Os Madrepaz abriram o último dia do Festival Para Gente Sentada, num concerto ao final da tarde, na Rua do Castelo, no centro de Braga. Foi a terceira vez que o grupo lisboeta passou pela cidade bracarense este ano e, de incenso acesso, tocaram várias músicas do álbum “Bonanza”, lançado há duas semanas.
O final da noite ficou marcado pelas atuações de IAN e Riding Pânico, na blackbox do gnration. IAN é Ianina Khmelik, violinista russa, nascida e criada em Moscovo. Reside em Portugal há mais de uma década, é cantautora e violinista na Orquestra Sinfónica da Casa da Música. O projeto demarca-se pela fusão da eletrónica com o clássico do violino e do piano, juntamente com elementos pop e trip-hop. A atuação da instrumentista contou com uma interpretação ao violino da “Fire”, de Jimmy Hendrix, juntamente com os originais “Weird”, “Boarding Now”, “Spring or Desire” e “Stop Stop Never”.
Seguiram-se os Riding Pânico, banda de culto em Portugal. O grupo junta elementos dos PAUS, Quelle Dead Gazelle, Cruzes Credo e Marvel Lima. Apresentam uma sonoridade experimental, que junta elementos de vários mundos como o rock underground e progressivo, pop e funk. Foram várias as músicas tocadas pelo ensemble, incluindo “Rosa Mota”, “E Se a Bela for o Monstro” e “Dance Hall”.
Para finalizar a noite em chave de ouro, Nuno Lopes deu música aos festivaleiros presentes, num DJ set montado na Sala Multiusos do gnration. Terminou assim mais uma edição do Festival Para Gente Sentada, com atuações geniais vindas de muitas partes do mundo. Agora, é tempo de Braga se sentar e aguardar pelo que aí vem no próximo ano.