Apenas um ano após o lançamento e impendente sucesso de Evolve, os Imagine Dragons apresentam Origins, um álbum que apela ao melhoramento da sociedade mecanizada em que vivemos. Com sons apelativos e energéticos, a banda mantém-se fiel ao seu som, não desiludindo, mas o projeto surpreende pouco os ouvintes.

Lançado a 9 de novembro, o quarto álbum da banda de Las Vegas aborda de forma positiva a mudança que é preciso fazer no mundo e, mais importante, na mentalidade da sociedade em que vivemos. Com o intuito de atingir o mesmo sucesso que os lançou em 2013, este trabalho conta com 15 faixas com melodias atrativas para multidões, mas que apresentam uma certa incoerência. Numa luta entre o que a banda procura e até onde está disposta a chegar, os Imagine Dragons não se comprometem a ir para além daquilo que solidificou a sua fama.

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Habituados a produzir êxitos que chegam a grande parte dos tops do mundo, a banda tirou um ano para tentar construir uma narrativa que fosse apelativa ao público em geral, contanto, como sempre, com uma mistura dos mais variados estilos de música. Contudo, a pressa é inimiga da perfeição, e a mensagem pretendida nem sempre é percetível, pois não está bem harmonizada com as melodias na maioria das músicas.

“Natural”, a faixa mais ouvida de todo o projeto e um dos impendentes sucessos, abre esta coletânea musical ao deixar o ouvinte pronto para mais. Existe uma harmonia na construção desta canção que mistura um estilo Pop-Rock com uma letra que nos encoraja a encontrarmo-nos a nós próprios e a lutar contra as adversidades que a vida nos apresenta.

As três canções seguintes, “Boomerang”, “Machine” e “Cool Out”, seguem diferentes estilos de Pop, desde acústicos a eletrónicos, e acabam por abrir um caminho que destoa um pouco daquele aberto por “Natural”.

“Bad Liar” e “Westcoast” são generosas composições musicais que, apesar de não serem o tipo de músicas que se espera que sejam êxitos mundiais, exploram diferentes aspetos do Pop moderno, a última chegando até a ter um toque de Country. Devido a esta versatilidade, encaixam muito bem com a primeira faixa do trabalho, sugerindo que este poderia estar melhor organizado de forma a mostrar uma maior consonância.

Origins inclui “Zero”, uma faixa promocional do filme da Disney Ralph Breaks The Internet. Aqui, Reynolds, vocalista e compositor, fala de uma necessidade de escapar, acabando por se colocar na pele do personagem Ralph, com uma dinâmica melódica apelativa que encaixa bem no tipo de filme que se trata. No entanto, esta composição quebra a trajetória pretendida com o álbum, desnecessariamente.

De todo o território musical explorado neste trabalho, “Bullet In A Gun” apresenta-se como a mais audível surpresa. É definitivamente um desvio no estilo habitual da banda, mas mostra-se consistente com a sua base em elementos eletrónicos, ao mesmo tempo que serve como uma espécie de grito de revolta. Com uma melodia um pouco ruidosa, “Digital” tem o intuito de fazer uma crítica ao mundo digital em que vivemos, podendo, até, representar o hino de uma geração.

“Only” mostra-se com uma natureza melódica bastante atrativa, querendo passar uma mensagem de solidão e um pedido por uma companhia, coisa que não resulta tão bem neste tipo de batida. No entanto, não deixa de ser das canções do álbum que mais apela ao ouvido.

Com ritmos que inspiram emoções diferentes, mas que se interligam, “Stuck” e “Love” mostram a vulnerabilidade na mensagem passada. Com isto, são, sem dúvida, juntamente com “Natural”, as canções com mais harmonia e que melhor entram em consonância com aquilo que a banda pretendia.

A versão deluxe do álbum inclui ainda mais três faixas, “Birds”, “Burn Out” e “Real Life”, que pretendem aprofundar ainda mais o tema. A última fecha o projeto com um tom positivo, ao apelar à conexão humana e ao desapego das tecnologias que nos distanciam.

Resumidamente, os Imagine Dragons tentaram lançar uma revolta contra o mundo excessivamente tecnológico em que vivemos, procurando invocar um sentimento de necessidade de reconexão humana a quem ouve o projeto. No entanto, apesar de ser possível ver que a banda procurou arriscar, nota-se um certo medo em ir para além do tipo de trabalhos que sabem que lhes traz sucesso.

Origins, não sendo de todo um mau álbum, apresenta um tremendo potencial que não foi aproveitado na sua totalidade. Assim, acaba por se mostrar como uma coletânea um pouco desleixada de mensagens e melodias que, apesar de ficarem no ouvido, necessitavam de aperfeiçoamento.