Jess Glynne regressa com o projeto Always In Between, três anos depois do álbum de estreia. Ao longo das 12 faixas, a artista mostra novamente o potencial da sua voz peculiar, mas a repetição dos temas que aborda torna o disco desgastante.
Foi no mês de maio que Jess Glynne lançou o primeiro single “I’ll Be There”, que acabou por se tornar a canção mais bem-sucedida do álbum. É uma faixa onde a artista apela ao apoio mútuo, principalmente numa relação, e também à demonstração do amor. Ao ouvi-la, entende-se a razão pela qual esta faixa é a mais ouvida: o ritmo mais alegre e o positivismo da letra transmitem boas emoções ao ouvinte.
No entanto, as restantes faixas também merecem a devida atenção. O projeto inicia-se com “Intro” que é, nada mais nada menos, do que uma introdução. Em menos de dois minutos, a artista demonstra um pouco daquilo que será a principal mensagem transmitida ao longo do álbum: o positivismo, apresentando um pouco do estilo Gospel através do coro participante.
Na faixa seguinte, “No One”, encontra-se um registo mais carregado, onde a cantora descreve as sensações de quando nos sentimos sozinhos e precisamos de alguém para nos motivar. Ou seja, só se consegue viver mais feliz se tivermos alguém em quem contar. “They say you’re no one until you’re somebody to someone“.
“Thursday”, também contém um registo triste, pois a artista aborda as inseguranças e a necessidade fundamental de ignorar as críticas e conseguir expressar-se tal como deseja. A faixa conta com o contributo de Ed Sheeran na produção, o que faz com que esta colaboração tenha um ótimo resultado.
Quase a chegar a meio do álbum, chega à faixa “All I Am”. Glynne dedica-a aos fãs, transmitindo um sentimento de gratidão por tudo que alcançou, ao dizer “All I know, all I am is you“. Esta canção favorece a artista, na medida em que a sua voz prevalece e percebe-se a sua entrega à música em geral.
“123” integra a sexta posição no álbum, e revela uma aproximação ao Jazz e ao Funk, quando comparada com o resto das músicas do disco. Retrata o amor duma forma mais divertida, apelando a que se leve este sentimento com alguma alegria ou até brincadeira, quase como se fosse um jogo, de modo a torná-lo mais interessante.
As três faixas seguintes, “Never Let Me Go”, “Broken” e “Hate/Love”, são semelhantes em termos do significado das letras, pois contam histórias de desgosto de amor, da carência de carinho, e abordam sentimentos fortes de amor e ódio. No entanto, “Never Let Me Go” coloca-se no estilo R&B, o que torna a canção mais agradável, apesar de tratar assuntos mais tristes, ao contrário de “Broken”, que tem um ritmo muito mais calmo, centrando-se mais na tristeza e no desejo de conhecer uma realidade mais sorridente.
O nome “Hate/Love” sugere já o tema da canção, ou seja, a forma como se consegue passar de sentir um grande amor para um ódio soberbo por uma pessoa. Nestas faixas o lado mais melodioso da voz de Jess Glynne prevalece, pois, os assuntos tratados exigem um ritmo mais calmo. Em décimo lugar surge “Won’t Say No”. Com um ritmo muito mais alegre, expressa a entrega que deve haver numa relação, na medida em que é preciso estar sempre disponível a ajudar quando é preciso.
“Rollin” é muito divertida, e tem um ritmo mexido, onde a artista fala do estilo de vida que leva em que ignora maus sentimentos como inveja, e como estes proibem qualquer pessoa de ser completamente feliz. Assim, a cantora apela a que encaremos a vida tal qual a música, de forma divertida e descontraída. A faixa representa a artista a nível pessoal, pois tanto o estilo como a mensagem transmitida transparecem bastante a sua personalidade.
Glynne fecha o álbum com “Nevermind”, uma faixa emocionante em que aborda o assunto do amor duma forma mais triste, retratando as várias injustiças que por vezes se passa numa relação. Uma destas são as cedências que se fazem ao ignorar as discussões ou alturas mais conturbadas que, ao não serem percebidas pelo outro, fazem querer desistir da relação. A artista consegue interpretar este tema de forma excelente, devido ao bom uso da sua voz forte e grave, que acentua o lado triste do tema.
As canções que mais se destacam são “I’ll Be Rhere”, “Thursday”, “All I Am”, “123” e “Rollin”. Os motivos são vários, mas estas são faixas cativantes, tanto pelo ritmo como pelo significado que trazem com elas. São temas que são familiares ao público em geral, o que torna as músicas muito mais apelativas. São também favorecedoras à artista, na medida em que mostram a versatilidade da sua voz. A variância de ritmos e de tons mostram que Jess Glynne consegue interpretar temas melodiosos e mais animados.
As canções que ficaram mais aquém das expectativas foram principalmente “No One”, “Broken” e “Hate/Love”. Primeiramente, os assuntos retratados mostram-se um pouco repetitivos – todos fazem alusão ao desgosto de amor e ao sentimento de tristeza que daí advém. Com isto, perdem um pouco o seu interesse. Apesar de terem qualidade, no conjunto do álbum não sobressaem de igual forma comparadamente com as restantes.
Jess Glynne com Always In Between conseguiu transmitir mensagens e lições de vida muito importantes. O seu projeto é único na medida em que carrega muito da personalidade da artista e causa emoções variadas aos ouvintes. De uma faixa para a outra passa-se de alegria a tristeza, de boas energias para uma atmosfera carregada, fazendo do álbum uma “viagem emocional” bastante interessante. Contudo, o álbum tem a fraqueza de algumas músicas se repetirem no que toca ao assunto, sendo esta a única falha cometida por parte da artista.
Sempre entre os sentimentos
6/10
Álbum: Always In Between
Artista: Jess Glyne
Data de Lançamento: 12 de outubro de 2018
Editora: Atlantic Records UK