Nome de Guerra é o título de um romance escrito por Almada Negreiros em 1925, que nos faz reflectir sobre a inevitabilidade do destino e a importância do exercício das vontades próprias. Apresenta como tema principal a luta entre a personalidade do protagonista e as normas que a sociedade lhe impõe, à medida que este procura quebrar o ciclo de uma espécie de prisão interna.
A personagem principal desta história chama-se Antunes, um rapaz da província com trinta anos cuja vida é fortemente influenciada pela vontade dos pais e do tio. Antunes é enviado para Lisboa pelo tio, onde fica a cargo de um amigo do mesmo, com o objectivo de ser preparado para as actividades masculinas, com destaque para o contacto com as mulheres e para a presença na sociedade.
Em Lisboa conhece Judite, uma prostitua que carrega ódios e vinganças e que dá a conhecer ao protagonista uma realidade à qual ele nunca teve acesso. Judite vem contrastar com a mulher pura da província, a Maria, que o ama sem restrição. Assim, é por intermédio da caracterização destas personagens, que nos é apresentado o binómio cidade/campo.
É também através da morte de Maria que Antunes se apercebe da inevitabilidade do destino e da importância do exercício das vontades próprias. Até aí apenas tinha servido a vontade dos outros sem nunca ter tido a coragem de fazer as suas próprias escolhas, podendo encontrar-se aqui uma crítica feita à sociedade da época que dava demasiada relevância às aparências: “Ver ao longe é um dom especial de certas pessoas, sobretudo daquelas que não é pelas realidades alheias que caminham. (…) A nossa existência pessoal fica abrangida pelo campo de acção das vontades que nos procederam”.
Assim, esta obra literária tem como objectivo fazer o leitor reflectir sobre a importância do livre arbítrio e demonstrar que é essencial não nos deixarmos influenciar pela vontade dos outros.
Apesar de retractar uma problemática que afectava a sociedade do século XX é ainda nos dias de hoje actual, uma vez que continua a ser possível observar a mesma situação na sociedade contemporânea. É isto que faz com que a leitura de Nome de Guerra seja essencial para melhor entendermos a realidade, forçando-nos a questionar uma série de assuntos do nosso quotidiano.
Almada Negreiros recorre a uma escrita bastante simples e a várias figuras de estilo, destacando-se o uso regular da ironia, pelo que a compreensão da obra é-nos facilitada desde o início, tornando-se um livro acessível a todas as idades. Aliado a isto, a boa construção das personagens veio também facilitar o processo de interpretação da obra, uma vez que estas representam exemplos concretos dos problemas da sociedade do seculo XX. São elas que nos permitem perceber as consequências da existência de uma sociedade egoísta e materialista, que se manifesta na criação de indivíduos inseguros e incertos das suas escolhas.
Com efeito, considero que este livro se dirige essencialmente aos jovens, dado estes estarem numa fase da vida em que acontece o processo de conhecimento individual, e no qual a influência das massas tem maior peso. Por estas razões, penso que a obra deve ser lida principalmente pela geração mais nova, já que alerta para os perigos que advêm da falta de liberdade e pensamento próprio, incutindo no leitor o tão essencial espírito crítico.
Nome de Guerra é nome de um bom romance
Título Original: Nome de Guerra
Autor: José de Almada Negreiros
Editora: Assírio & Alvim
Género: Romance
Data de lançamento: 2001