Se vencer, será o segundo mandato de Nuno Reis à frente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM).

Nuno Reis tem este ano um adversário na corrida à presidência da AAUM. Depois de ter cumprido um mandato, o candidato afirma ter desempenhado o cargo “com grande felicidade e o maior dos empenhos”. As eleições para a AAUM estão marcadas para 4 de dezembro.

O aluno do mestrado integrado em Engenharia e Gestão Industrial reafirma o “compromisso para com a melhor academia do país”, sendo que numa “universidade multigeracional e em constante movimento, parar seria morrer um pouco”. Em entrevista ao ComUM, Nuno Reis afirma que “foi uma decisão muito ponderada”, mas acredita ser “a pessoa certa para ser candidato a presidente”.

A Lista A apresenta-se sob o mote “Academia a Crescer”, não se relacionando “necessariamente com um crescimento em quantidade, mas em qualidade”. O crescimento “faz-se reivindicando os direitos básicos dos estudantes”.

O manifesto eleitoral foi publicado durante a tarde de segunda-feira. Este ano existem menos departamentos e estão mais condensados, ou seja, procedeu-se a uma união entre algumas secções. Para além disso, acabou-se com a divisão de departamentos, entre Braga e Guimarães, com exceção do Recreativo e do Cultural e Tradições Académicas.

ComUM: Pode ler-se no texto de recandidatura que este é um cargo que o “pôs à prova a vários níveis”. Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou?

Nuno Reis: Não foram só no mandato, mas também do percurso que já fiz na Associação Académica, nos últimos quatro anos. Passamos por vários desafios, desde logo, pelo facto de estarmos sempre sujeitos à opinião pública. A isto acrescenta-se aquilo que deve ser o trabalho que guia a direção da Associação Académica, no tentar fazer sempre mais e melhor. Foram de facto tempos, de certa forma, complicados quando comecei este primeiro mandato, enquanto presidente. A AAUM tinha alguns problemas do foro financeiro difíceis de resolver, mas que foram resolvidos, ao longo do ano. Conseguimos fazer mais com menos e isso foi recentemente comprovado no último relatório intercalar que mostra que a Associação Académica tem um resultado líquido no período favorável. No entanto, ainda não é o suficiente para retirar a associação de algum deste desafogo financeiro. Apesar de tudo acreditamos que conseguimos manter a qualidade e o rigor no trabalho da mesma.

ComUM: Porque decidiu recandidatar-se a mais um mandato como presidente da Associação Académica da Universidade do Minho?

Nuno Reis: Foi uma decisão muito ponderada, com base naquilo que foi no meu percurso pessoal, mas acima de tudo tendo em conta o que fizemos enquanto equipa. Nestes últimos quatro anos e neste último, em particular, deixamos alguns desafios para o futuro: apresentamos candidaturas a campeonatos nacionais universitários e à organização de europeus universitários de futsal. Sabemos que o próximo ano será exigente em questões como a deslocalização do Enterro da Gata ou questões relacionadas com a estruturação e restruturação que a Associação Académica precisa. Por isso, acredito ser a pessoa certa depois da experiência que tenho acumulado e por estar rodeado de uma equipa muito competente. Acredito que somos e particularmente eu sou a pessoa certa para ser candidato a presidente, no próximo ano.

ComUM: Existe alguma proposta do anterior mandato que ficou por fazer e queira realizar caso seja eleito?

Nuno Reis: É precisamente tendo em conta aquilo que ficou por fazer que faz sentido, uma vez mais, sermos candidatos e incluirmos essas mesmas propostas no novo manifesto. Isto permitirá que se dê seguimento ao trabalho que foi feito e se possa concluir de alguma forma este ciclo de trabalho que eu e a minha equipa temos desenvolvido em prol da AAUM.

ComUM: Quais são as principais propostas, apresentadas pela Lista A, para este novo mandato?

Nuno Reis: Há inúmeras propostas apresentadas nas várias áreas e dimensões que a AAUM tem. No manifesto acabamos por definir e defender de forma diferente aquilo que deverá ser a estrutura da Associação Académica. Em primeiro lugar, apresentamos os princípios que nos vão guiar, isto é, a forma como olhamos para a academia e para o Ensino Superior. Dessa forma, pretendemos defender e reivindicar os direitos dos estudantes. No segundo ponto, apresentamos uma estratégia e definimos como a vamos fazer. Pela primeira vez, apresentamos uma forma diferente de aplicação desta estratégia que passará por questões que ouvimos na comunidade académica e que queremos colocar em prática. Depois, apresentamo-las ao nível das atividades de cada departamento.

ComUM: Quais são as medidas que destaca do manifesto para o próximo ano?

Nuno Reis: Vamos analisar indicadores e a adesão às atividades para podermos fazer um relatório no fim do ano e dizer aos estudantes o que realmente foi feito. Assim, teremos como quantificar o que fizemos, o que é de facto algo importante para nós. Seguindo esta linha da transparência e da abertura da AAUM, pretendemos a criar um programa anual de recrutamento, ou seja, qualquer estudante, independentemente da área de estudos, desde que revele interesse em participar ativamente com a associação, terá ao seu dispor um programa de recrutamento anual. Mais do que recrutamento é formação. O objetivo é prender as pessoas à Associação Académica para perceberem o papel desta instituição e poderem colaborar de forma muito ativa no trabalho das mais diversas áreas e departamentos da AAUM.

ComUM: “Queremos progredir, na exata medida da vontade dos estudantes da Academia Minhota”, esta é uma frase do texto de recandidatura. Em que aspetos será feita esta progressão?

Nuno Reis: Quando olho para a academia hoje, sabendo que já cá estou há alguns anos, consigo perceber que existe uma grande diferença na mentalidade da geração que entra hoje e dos que entraram quando eu entrei. Não que tenhamos, necessariamente, diferentes direitos ou interesses, mas a forma de nos vermos e de reagirmos na sociedade vai continuar a mudar todos os anos. Portanto, eu diria que um dos primeiros desafios é a necessidade de nos aproximarmos destas gerações e de que as pessoas consigam entender, progressivamente, que a AAUM não é só aquilo que se vê no dia-a-dia. A associação não é só a festas recreativas ou atividades culturais, mas sim toda a outra dinâmica e todas as outras áreas que influem diretamente sobre a vida dos estudantes. Será uma progressão aberta e daí debatermo-nos pela criação do manifesto que inclua propostas que possam envolver cada vez mais os estudantes.

ComUM: Quais são os objetivos a que a Lista se compromete?

Nuno Reis: A associação é e tem sido sempre transparente no seu âmbito de atividade, na sua gestão. Somos avaliados anualmente e temos sido bem avaliados. Para sermos ainda mais transparentes há uma dimensão que é preciso ser trabalhada: tornar os resultados mais fáceis de interpretar por parte da comunidade estudantil. Isto, passa por colocar indicadores como dizer que nós não queremos ter 30 mil pessoas no Enterro da Gata, queremos ter 40 mil. Do ponto de vista formal, não queremos ter 10 delegados numa assembleia de delegados, queremos ter 50. Podemos dizer que estes são objetivos práticos da Associação Académica. Queremos também reafirmar os direitos dos estudantes. É algo que temos vindo a fazer ao longo deste mandato e que a associação fez ao longo dos seus quase 41 anos de história. Reafirmar os direitos num momento em que estes são tão discutidos, assim como as questões da multiculturalidade, a inclusão e a inovação, importa que a Associação Académica se saiba adaptar a estes fatores. Queremos uma academia mais inclusiva, mais capaz de afirmar os seus direitos e que seja cada vez mais democrática, num Ensino Superior progressivamente gratuito que é o que exprime a Constituição da República Portuguesa.

ComUM: Como é que a Lista A pretende que a academia cresça?

Nuno Reis: O crescimento da academia tem muito que ver, não necessariamente com um crescimento em quantidade, mas em qualidade. Mas, fazendo a abordagem pelo crescimento em quantidade, sabemos que a Universidade do Minho tem crescido ano após ano por várias razões. Seja porque tem conseguido captar mais estudantes a nível nacional, seja pela captação de estudantes internacionais. Portanto, esse será sempre um desígnio da Universidade do Minho: conseguir crescer. No entanto, nós também sabemos que está para breve uma crise demográfica que vai afetar o país e, por isso, é preciso começar a antecipar os efeitos da mesma. Quando se pretende crescer em quantidade é obrigatório, do meu ponto de vista, que os estudantes e a Associação Académica reivindiquem que este crescimento seja feito também em qualidade e este faz-se reivindicando os direitos básicos dos estudantes. Este é o mote que está por detrás do lema “Academia a Crescer”. Nós acreditamos que para uma academia crescer devem existir condições base para esse sucesso. A Associação Académica tem de ser uma associação de defesa dos direitos e dos interesses dos estudantes. A AAUM deve crescer, acompanhando o crescimento da universidade.

ComUM: Medidas como a redução do preço das senhas, o estudo sobre o alojamento e a preocupação com a sustentabilidade marcaram o seu mandato. Pretende dar continuidade a estas medidas?

Nuno Reis: Este ano foi um ano em que se avizinhava um aumento do preço das senhas da cantina, por causa do aumento do indexante dos apoios sociais. Conseguimos que o Reitor e que os administradores dos Serviços de Ação Social entendessem a pertinência dos nossos argumentos. Percebemos que, hoje em dia, a refeição social é um dos fatores que mais afetam o orçamento dos estudantes e conseguimos mostrá-lo à universidade. Fizemo-los perceber que não seriam cinco cêntimos de diferença que teriam grande impacto na universidade, mas poderiam ter um grande impacto no orçamento das famílias e dos estudantes. Quanto à questão do alojamento, obviamente que este mandato, que está ainda a decorrer, foi muito marcado pela falta de alojamento nas cidades de Braga e de Guimarães. Aquilo que nós temos lutado é que, no próximo ano letivo, não tenhamos que passar, uma vez mais, pelo flagelo de não existirem casas para os estudantes que procuram as universidades. Este processo deve envolver todas as universidades e associações académicas porque são elas que recebem os estudantes e que têm de lidar com as suas dificuldades. A AAUM está a trabalhar numa ideia que esperamos que se venha a concretizar: formar uma espécie de uma linha de emergência ao alojamento. Em parceria com as Pousadas da Juventude far-se-ia uma pré-reserva daquele espaço para estudantes, durante as primeiras duas ou três semanas, a um preço mais baixo, para poderem ter alguma margem no tempo da procura de habitação. Na questão da sustentabilidade aquilo que temos vindo a trabalhar para poder aplicar no próximo ano e gostávamos de ver legitimado pelos estudantes é a criação de um departamento de administração. A ideia é promover um plano global de sustentabilidade que envolva não só atividades específicas, como o Enterro da Gata e a Receção ao Caloiro, mas toda a atividade da associação. Esta será uma das prioridades da Associação Académica.

ComUM: Relativamente aos episódios de violência que têm acontecido na zona envolvente da Universidade, qual será o papel da Associação Académica perante esta situação?

Nuno Reis: Estes são fenómenos que têm de ser rapidamente geridos pelas entidades que supervisionam a segurança pública. Mas também, são fenómenos que não devem passar, de um momento para o outro, para a comunicação social, sob a pena de criar fenómenos de generalização. Acreditamos que vamos conseguir renovar o protocolo de colaboração que envolva várias entidades, como a PSP, a Reitoria, a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia, para não se trabalhar apenas no sentido de resolver a situação, mas também da prevenção e sensibilização.

Texto: Márcia Arcipreste e Mafalda Souto

Imagem: Micaela Mota e Diogo Rodrigues

Edição: Diogo Rodrigues