Hoje em dia é praticamente impossível conceber que um musical de 174 minutos conseguisse parar o mundo. Contudo, foi em 1965 que Música No Coração conseguiu uma aclamação mundial, deixando multidões com um sorriso de orelha a orelha, enquanto balbuciavam os clássicos que de lá surgiram.

Música No Coração conta a história, inspirada na biografia da família Von Trapp, de um capitão da marinha que se encontra à procura de uma governanta para tomar conta das suas sete crianças – Liesl, Friedrich, Louisa, Kurt, Brigitta, Marta, e Gretl -, durante a sua ausência, atendendo a um conjunto de normas muito restritas. A noviça Maria toma essa responsabilidade e, graças ao seu caráter carismático, vai conquistando a confiança das várias crianças.

música no coração

A relação de Maria com as crianças foi muito bem concebida, conseguindo descrever uma transformação de comportamento (de desrespeito total a uma lealdade absoluta) de um modo bastante gradual, o que permite que não haja quebras repentinas durante as diferentes cenas. Recorre-se frequentemente a uma linguagem mais infantil, a um conjunto de piadas pouco robustas e a uma coletânea de músicas que conquistariam qualquer infante ou adulto.

Para além disso, a banda sonora consegue acompanhar os sentimentos das personagens e pretende transmitir um conjunto de ensinamentos, nomeadamente, as diferentes notas musicais, Do-Re-Mi, soluções para superar medos como o da trovoada, com My Favourite Things, entre muitos outros.

música no coração

Existe uma elevada preocupação na escolha cromática das diferentes cenas – no convento os tons escuros prevalecem em oposição às cores vivas dos campos – e na adoção de vestuários típicos – as meninas sempre de vestidos abaixo do joelho, os meninos com calções presos por suspensórios e camisa, apelando ao lado conservador. Ester pormenores intensificam o posicionamento do público na época e país descritos.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme, corresponde à dança entre Maria e o capitão, que se intensifica pela música escolhida, Something Good, uma verdadeira dedicatória de amor: “Here you are standing here / Loving me / Whether or not you should”; e pela aproximação de câmara nos movimentos das personagens que culmina num plano aproximando do primeiro beijo.

 

Esta obra cinematográfica conta com a participação de Julie Andrews, também mundialmente conhecida pelo seu papel enquanto Mary Poppins, e Christopher Plummer, dois atores queridos do público na época. Apesar de Christopher Plummer ter afirmado que a sua personagem foi um tanto desinteressante de desenvolver, não nega o esforço para a conceber, reconhecendo que valeu a pena, uma vez que conseguiram trazer ao mundo um filme familiar de excelência, como não se via em décadas.

Independentemente da opinião sobre este filme ser positiva ou negativa, ninguém pode negar a beleza dos espaços retratados, os planos das montanhas e dos castelos de Salzburg, que parecem posicionar-nos num conto de fadas onde se celebra a música, o amor e a família, para além de se fazer uma breva referência à II Guerra Mundial. Sendo assim, desculpas como “não gosto de musicais” não podem ser utilizadas, quando este filme é muito mais do que isso.