Manel Cruz levou a Famalicão a antevisão do álbum que se prepara para lançar, à mistura com vinte anos de carreira, sempre em estilo irreverente, sagaz e profundamente descontraído.
A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão recebeu, no sábado passado, o projeto homónimo de uma das figuras maiores da música alternativa portuguesa, Manel Cruz. Acompanhado por Nico Tricot, Edú Silva e António Serginho, o músico e poeta apresentou ao público o álbum que promete lançar em 2019. Pelo meio do novo reportório, houve tempo para revisitar temas como “Capitão Romance” de Ornatos Violeta e “A Canção da Canção Triste” do projeto experimentalista Foge Foge Bandido, que deram aso ao rejubilo dos ouvintes e aos gracejos de Manel Cruz, que se fingiu muito comovido por voltar ao passado.
De regresso a um registo mais acústico, as novas músicas de Manel Cruz criaram, na sala, uma atmosfera de intimidade e abertura ao espaço pessoal do artista, que já sabemos ser tão acutilante, reflexivo e intenso. Apesar do novo projeto ser pautado por um estilo mais calmo, a revolta, emoção e um certo cinismo continuam bem presentes na atitude do mítico vocalista de Ornatos Violeta, Super Nada e Foge Foge Bandido. Ao ComUM, Manel Cruz revelou que neste álbum se focou menos na melodia para valorizar a letra e que é, no fundo, “um retorno às minhas origens (…) peguei no ukelele e compus, como fazia em Ornatos, com a guitarra.”
Num concerto que durou mais de duas horas e que ultrapassou a interpretação de 20 temas, foi evidente o gosto dos ouvintes que encheram a sala pela música do artista que tanto marcou várias gerações. Acabando o concerto em tronco nu, como faz sempre, Manel Cruz mostrou, no dia da Restauração da Independência, que também ele restaura a presença nos palcos portugueses, depois de vários hiatos a que já nos habituou, mas que talvez sejam fundamentais para um fluxo criativo sempre original. Uma coisa é certa, o artista garante estar cheio de novos temas que dividirá em vários álbuns ao longo dos próximos tempos.
Já no fim do concerto, Manel Cruz fez “um miminho” à plateia ao tocar “Capitão Romance”, um dos seus temas mais marcantes e que pôs a sala toda em pé, a cantar em coro. Descontraído, genuíno e sempre autêntico, Manel Cruz deu um concerto como só ele é capaz de dar.
Já depois do espetáculo e questionado pelo ComUM, Manel Cruz deixou uma mensagem aos jovens músicos portugueses, “não tenham pressa de mostrar, cada um tem o seu ritmo”.