Matt Corby, que não apresentava projetos completos há dois anos, regressa em grande ao comboio da música, com paragem em vários géneros. O cantor australiano consegue combinar deliciosamente registos e géneros, capazes de inspirar qualquer tipo de pessoa, e Rainbow Valley é prova disso.
Se há coisa que não podemos afirmar quando mencionamos o cantor Matt Corby é previsibilidade. O seu novo álbum, lançado a 2 de novembro, conta com 11 temas, belissimamente interpretados, carregados de soul e Groove.
O projeto começa com a faixa “Light My Dart Up”. Na gíria da língua inglesa, “dart” é sinonimo de um cigarro de erva e o cantor mostra-se profundamente tranquilo e relaxado, sob o efeito da substância. É notória esta influência pelos versos “I’m flying around the room, though my body is on the floor, I don’t know how I can explore”. Aliado a esta letra um tanto corriqueira mas sincera, temos a voz soberba do artista a inundar-nos em duas oitavas perfeitamente sincronizadas, que iniciam o álbum de uma forma muito calma e bonita.
Ainda neste tópico de substâncias psicotrópicas, é-nos apresentada a segunda canção “No Ordinary Life”, que começa com uma introdução de harpa, que nos remete para um estado de estarmos a sonhar. Para nos despertar, temos uma conjugação de sétimas e nonas que nos deixam a pensar que o nosso cérebro falhou momentaneamente.
Na terceira faixa, “All That I See”, Corby mostra-nos que três não foi a conta que ele fez. Não é um mau tema, de todo, mas a linha melódica do baixo é, sem dúvida, o elemento mais contagiante e com mais destaque que encontramos nesta canção bastante calma.
Segue-se “All Fired Up” que, apesar de muito boa, não se compara à versão acústica. Ainda que desprovida de grande produção, não há como negar que a emoção do artista quando toca piano e canta é inebriante e de grande impacto. Num ambiente cru e simples, Corby mostra ao mundo que a música sem produção é suficiente para impressionar o ouvinte de forma clara.
“New Day Coming” é uma lufada de ar fresco, onde o Groove predomina e a aura é de um novo dia a chegar. Aqui, a voz do cantor reflete muito bem a história que teve e tem com o Gospel. O cantor cresceu a ouvir e a cantar esse estilo, e é notória a colocação mais anasalada e arranhada nas harmonias.
As três últimas faixas são a prova de que o melhor fica para o fim. “Miracle Love”, “Elements” e “Rainbow Valley” embrulham o álbum e põem a cereja no topo do bolo que é esta coletânea de géneros. A primeira, com uma letra mais virada para o romântico, fala de um amor miraculoso, que tudo suporta e tudo supera. Não deixa de se enquadrar nos géneros anteriores, mas esta canção é capaz de ser mais atraente para o público mais virado para o Pop, apesar de o último segmento ser claramente influenciado pelo Jazz.
“Elements” é aquela faixa que ouvimos quando estamos naquele humor meio deprimido sem razão. Portanto, para perpetuar o nosso pseudo-sofrimento, não queremos um tema super animado, mas queremos sentir o ritmo e abanar ligeiramente a cabeça, e é isso que a penúltima obra nos transmite, o que surpreende. A última canção, que dá nome ao álbum, resume perfeitamente a aura e o estado de espírito que o cantor e compositor quer transmitir com o projeto. Um sentimento de que estamos constantemente entre o sol e a chuva, mas há que encontrar o arco íris.
o longo de Rainbow Valley encontramos faixas melhores que outras, mas não há dúvida que o australiano introduz elementos que poucos artistas pensariam conjugar. Nomeadamente a utilização de uma harpa, solos de flauta pouco tradicionais, instrumentos de percussão mais rústicos e harmonias que nos remetem tanto para um estado meio psicadélico, como nos atiram para uma realidade paralela, feita de arco íris, onde tudo está bem.
Para além disso, todas as colocações vocais de Corby são traços de personalidade que o distinguem. Tanto pelo registo meio analasado do Gospel, como pelo falsete angelical e sem ponta de ar. Ainda no meio destes extremos, temos um timbre muito agradável ao ouvido, que mostra versatilidade em todos os temas que interpreta. Estamos, sem dúvida, perante um cantor extraordinário, com uma técnica fora de série que, aliado a toda a emoção com que atua, o tornam merecedor de todos os elogios que lhe têm tecido.
O Vale da Imprevisibilidade
8/10
Álbum: Rainbow Valley
Artista: Matt Corby
Data de Lançamento: 2 de novembro de 2018
Editora: Atlantic Records UK