Há muitas coisas que marcam um ano. Mas 2018 foi, sem dúvida, repleto de estreias e novidades para o mundo da música e para o mundo do cinema. Todos temos um álbum que lembra um mês ou um filme que nos faz recordar uma época. Se formos ávidos amantes destas artes, teremos até mais do que um. Embora seja díficil e quem sabe injusto condensar 12 meses numa lista de apenas dez itens, o que este artigo pretende fazer é passar em revista o que melhor se produziu em 2018 e fazer crescer o entusiasmo para tudo o que vai estrear em 2019.
CINEMA
The Other Side Of The Wind (agosto) – De um dos grandes criadores de cinema, The Other Side Of The Wind é um marco na história da arte de fazer filmes. Dirigido pelo lendário Orson Welles, a beleza em ecrã é típica de um homem que sabe contar histórias. Desenrolando-se numa alternância de cor e preto e branco procura confundir o espectador entre o que é real, o que é o filme e o que é o filme dentro do filme. É uma sátira ao cinema. Welles começou a gravá-lo em 1970, mas nunca chegou a acabá-lo. A Netflix fez o que faltava e agora o mínimo que podemos fazer é ver esta obra que ensina muito sobre o homem que a dirigiu e sobre a sétima arte.
Roma (agosto) – O que Cuaron produziu foi um dos melhores exemplos do que o cinea tem para oferecer. Brilhantemente orquestrado, com uma composição visual cuidada do início ao fim e um excelente trabalho de composição sonora, que o torna ainda mais envolvente. Passamos 134 minutos na cidade de México nos anos 70, a viver na vida de uma família com todo o seu espectro de emoções. O que mais há para apreciar na obra é a sua atenção ao detalhe e o poder que tem de nos fazer reparar de novo nos pequenos pormenores da vida.
BlacKkKlansman: O Infiltrado (setembro) – Uma abordagem polémica e hilariante ao tema do racismo nos Estados Unidos da América. No auge do movimento a favor dos direitos civis dos negros, na década de 70, Ron torna-se o primeiro detetive de raça negra em Colorado Spings. Começa a trabalhar infiltrado numa missão e convence o seu colega judeu a ser o seu disfarce. Recheado com as prestações de Adam Driver e John David Washington, o filme está ainda repleto de diálogos cómicos e inteligentes. A cereja no topo de BlacKkKlansman é mesmo a sua poderosa mensagem, enviada em tempos em que é especialmente precisa.
Bohemian Rhapsody (outubro) – Faz-nos desejar ter nascido noutra época. Uma homenagem a uma das maiores bandas que a história já conheceu e um filme que nos faz perceber a grande perda para o mundo que foi a morte de Freddie Mercury. Comovente será a palavra que melhor descreve Bohemian Rhapsody e que o torna aconselhável para os fãs da banda e para aqueles que vão agora conhecê-la. Rami Malek faz uma performance extraordinária, que demonstra o dominío completo da linguagem corporal. Bohemian Rhapsody é extraordinário não só por reavivar de forma perfeita a vida de uma lenda da música, mas por trazer toda a atmofera da era de ouro do Pop/Rock.
Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões (novembro) – O primeiro filme japonês a ganhar a Palme d’Or desde 1997, por razões que se tornam óbvias depois de o vermos. Hirokazu Koreeda oferece-nos a oportunidade de espreitarmos para uma história que nos faz questionar o sentido de família, a proveniência de relações afetivas e as noções de certo e errado. Com uma dose de realismo social que nos abana, Shoplifters é ao mesmo tempo poderoso e humilde.
MÚSICA
Beerbongs & Bentleys (abril) – 2018 foi um ano de “estrela de Rock” para Post Malone, pois tornou claro que o norte-americano é um dos maiores artistas da música atual, através do tremendo sucesso que as canções em que participou tiveram. Beerbongs & Bentleys demonstra a capacidade que Malone tem em criar êxito após êxito, pela junção de batidas viciantes com refrões e letras que ficam na cabeça. A versatilidade do artista é clara neste projeto devido ao uso sublime de Hip-Hop e Rock, o que ajudou a tornar este álbum num dos mais ouvidos nas rádios de todo o mundo.
High As Hope (junho) – Este álbum marca uma mudança na música do grupo britânico, sendo mais reservado, experimental e maduro do que projetos anteriores. A vocalista Florence Welch, que continua com uma voz extremamente doce e impactante, faz reflexões acerca das maiores questões que todos nós fazemos na vida, como a solidão, arrependimento, amor e empoderamento pessoal. Mesmo com uma produção mais minimalista, a banda continua a ter uma certa magia na sua música e isso ficou claro com High As Hope.
Astroworld (agosto) – Foi em 2018 que Travis Scott finalmente lançou o altamente antecipado terceiro álbum de estúdio Astroworld e o rapper/produtor não desapontou. O projeto psicadélico é uma verdadeira montanha russa de emoções capaz de ser experienciada num parque de diversões. Desde sentimentos de alegria e entusiasmo a momentos mais sombrios e preocupantes, o álbum junta várias sonoridades para manter o ouvinte constantemente intrigado e com vontade de ouvir mais.
Trench (outubro) – O álbum concetual dos Twenty One Pilots toca em vários temas sensíveis, como saúde mental, fé, ansiedade e suicídio, de forma apelativa, profunda e coesa. A história criada pelo duo em Trench é extremamente cativante e, ao mesmo tempo, permite aos ouvintes refletir acerca dos seus próprios medos, aspirações e motivações. Esta narrativa, aliada à utilização dos mais variados estilos de música, como o Rock, o Hip-Hop, entre outros, fazem com que o projeto da banda norte-americana seja um dos melhores trabalhos concetuais do ano.
El Mal Querer (novembro) – O segundo projeto da cantora espanhola Rosalía surpreendeu o mundo da música em 2018, não só pela história intrigante e emocional, baseada no livro do século 13 “Flamenca”, mas também pela sonoridade e identidade única do projeto. A mistura da música flamenca com diferentes estilos mais modernos em El Mal Querer torna o disco deveras diferente e interessante e marca uma reinvenção do estilo de música.